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Vereadores de Vitória pedem digitalização de caso Araceli, 48 anos após assassinato

19 de maio de 2021

Sequestro e assassinato de Araceli, morta aos 8 anos, completou 48 anos nesta terça-feira (18). Data foi instituída como Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Vereadores de Vitória pedem digitalização de caso Araceli, 48 anos após assassinatoAraceli Cabrera Crespo – Foto: Reprodução/A Gazeta

Um grupo de vereadores da Câmara de Vitória pediu ao Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) a digitalização dos documentos do processo do assassinato de Araceli Cabrera Crespo. A solicitação foi enviada ao tribunal terça-feira (18), quando o caso completou 48 anos.

Araceli foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada aos oito anos, em 1973. O corpo dela foi encontrado desfigurado e em avançado estado de decomposição em uma mata próxima ao Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória, dias depois do desaparecimento.

Ninguém foi preso pelo crime. Dante de Barros Michelini (o Dantinho), Dante de Brito Michelini (pai de Dantinho) e Paulo Constanteen Helal foram condenados, recorreram, tiveram a primeira sentença anulada pelo TJES e – em um novo julgamento – foram absolvidos por falta de provas.

O dia do desaparecimento dela, 18 de maio, foi instituído como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a partir de 2000.

De acordo com os vereadores de Vitória que formularam o pedido, há quase cinco décadas desde o assassinato, os documentos do processo estão se deteriorando.

Com o objetivo de preservar a memória e a história, a vereadora Camila Valadão (PSOL) em conjunto com os vereadores Karla Coser (PT), Anderson Goggi (PTB), Aloísio Varejão (PSB) e Luiz Paulo Amorim (Cidadania) solicitaram ao TJES a restauração e digitalização dos documentos processuais do caso.

Camila avaliou que o assassinato de Araceli marca a história do Espírito Santo e também a história da luta contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes no país. Por isso, a parlamentar entende que a preservação dos documentos é uma forma de fazer com que crimes bárbaros contra a infância não se repitam.

Vereadores de Vitória pedem digitalização de caso Araceli, 48 anos após assassinatoTúmulo onde Araceli está enterrada – Foto: Viviane Machado/G1

O desaparecimento

Em 18 de maio de 1973, uma sexta-feira, Araceli saiu de casa, no bairro de Fátima, na Serra, e foi para a Escola São Pedro, na Praia do Suá, em Vitória. No dia, a menina saiu da escola mais cedo, a pedido da mãe, Lola Cabrera Crespo.

Segundo a mulher, Araceli precisava sair antes da aula terminar, porque poderia perder o ônibus que a levaria de volta para casa.

Após sair da escola, ela foi vista por um adolescente em um bar entre o cruzamento das avenidas Ferreira Coelho e César Hilal, em Vitória.

Ainda de acordo com esse adolescente, a menina não entrou no coletivo e ficou brincando com um gato no estabelecimento. Depois disso, Araceli não foi mais vista. À noite, o pai, Gabriel Sanchez Crespo, iniciou as buscas.

Corpo é encontrado

Vereadores de Vitória pedem digitalização de caso Araceli, 48 anos após assassinatoPágina do jornal 'A Gazeta' com a notícia da morte de Araceli – Foto: Reprodução/A Gazeta

Dias após o desaparecimento, em 24 de maio, o corpo de uma criança foi encontrado desfigurado e em avançado estado de decomposição em uma mata atrás do Hospital Infantil, em Vitória.

Inicialmente, o pai de Araceli reconheceu o corpo como sendo da menina. No dia seguinte, ele negou, afirmando que o corpo não era o da filha desaparecida. Meses depois, após exames, foi constatado que o corpo era mesmo de Araceli.

Testemunhas e contradições

Diante dos fatos apresentados pela denúncia do promotor Wolmar Bermudes, a Justiça chegou a três principais suspeitos: Dante de Barros Michelini (o Dantinho), Dante de Brito Michelini (pai de Dantinho) e Paulo Constanteen Helal – todos membros de tradicionais e influentes famílias do Espírito Santo.

Vereadores de Vitória pedem digitalização de caso Araceli, 48 anos após assassinatoDantinho (à esquerda), Paulo Helal (centro) e Dante Michelini (à direita) – Foto: Reprodução/TV Gazeta

Depois do julgamento, os envolvidos se recusaram a falar sobre o assunto com a imprensa diversas vezes.

A versão da morte da menina apresentada pela acusação, que mais tarde terminou no julgamento dos acusados, afirma que Araceli foi raptada por Paulo Helal, no bar que ficava entre os cruzamentos das ruas Ferreira Coelho e César Hilal, após sair do colégio.

No mesmo dia, a menina teria sido levada para o então Bar Franciscano, na Praia de Camburi, que pertencia a Dante Michelini, onde foi estuprada e mantida em cárcere privado sob efeito de drogas.

Por causa do excesso de drogas, Araceli entrou em coma e foi levada para o hospital, onde já chegou morta. Segundo essa versão, Paulo Helal e Dantinho jogaram o corpo da menina em uma mata, atrás do Hospital Infantil.

Ainda segundo a denúncia, Dante Michelini usou suas ligações e influência com a polícia capixaba para dificultar o trabalho da polícia. Além disso, testemunhas-chave do processo morreram durante as investigações. Nenhuma dessas acusações foi provada.

Durante o julgamento, Paulo Helal e Dantinho negaram conhecer Araceli ou qualquer outro membro da família Cabrera Crespo.

Julgamento

Em 1980, o juiz responsável pelo caso, Hilton Silly, definiu a sentença: Paulo Helal e Dantinho deveriam cumprir 18 anos de prisão e o pagamento de uma multa de 18 mil cruzeiros. Dante Michelini foi condenado a anos de reclusão.

Na ocasião, o juiz Hilton Silly disse em entrevista ao Jornal da Globo que os três foram condenados porque foram provadas a materialidade e a autoria do crime.

"Foi através não só da farta prova testemunhal, mas também, sobretudo, da prova indiciária, que é chamada prova artificial indireta por circustancial, baseado em indícios veementes, graves, sérios e em perfeita sintonia de causa e efeito com o fato principal", afirmou em 1980.

Os acusados recorreram da decisão e o caso voltou a ser investigado. O Tribunal de Justiça do Espírito Santo anulou a sentença e o processo passou para o juiz Paulo Copolilo, que gastou cinco anos para estudar o processo.

Por fim, ele escreveu uma sentença de mais de 700 páginas que absolvia os acusados por falta de provas.

Vereadores de Vitória pedem digitalização de caso Araceli, 48 anos após assassinatoProcesso sobre a morte de Araceli foi arquivado em 1991 – Foto: Reprodução

Valedoitaúnas/Informações G1 ES



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