Vereador exibe arma e pede para receber chibatadas de cinto na Câmara de Goiânia
02 de fevereiro de 2022Sargento Novandir se disse enganado pelo secretário de finanças do município em votação sobre reforma no Código Tributário, que resultou em reajuste do IPTU, e decidiu se punir pelo erro
Vereador exibiu arma e pediu para colega dar cintadas nele próprio – Foto: Reprodução Redes Sociais
O vereador de Goiânia Sargento Novandir (sem partido) vestiu-se de palhaço, exibiu arma e pediu para um colega dar chibatadas nele com um cinto durante discurso feito em sessão na Câmara Municipal na manhã desta terça-feira (1º). O parlamentar, que se dizia enganado pela Prefeitura em uma votação sobre reforma no Código Tributário, que incluía reajuste no IPTU, chegou a retirar uma pistola e colocá-la sobre a tribuna.
O vereador, que é policial militar, afirmou ter sido enganado pelo secretário de finanças do município, Geraldo Lourenço, quanto à votação. Antes de sua ida à tribuna, uma narração anunciou sua presença em tons circenses: "Atenção, senhoras e senhores, respeitável público, prazerosamente, carinhosamente, apresenta o vereador sargento Novandir, no qual foi humilhado enganado e feito de palhaço".
O parlamentar ainda pediu desculpas aos cidadãos durante o discurso, mas culpou o secretário de finanças da Prefeitura. Ele disse que buscaria uma forma de reverter o projeto de lei, que levou ao aumento do IPTU.
“Secretário, volte para seu distrito, que é Brasília. Não fique mais em Goiânia. Você está dando um prejuízo em Goiânia”, disse Novandir, antes de tirar a fantasia de palhaço. “Teve uma vez que eu tirei um cinto aqui e disse que um vereador merecia levar um couro de cinto. Ele merecia um couro de cinto. E o senhor também”.
Sargento Novandir se vestiu de palhaço, colocou pistola em cima da tribuna e convidou colega para bater nele durante discussão sobre aumento de IPTU em sessão realizada nesta terça-feira – Foto: Reprodução
Novandir pede então a um colega que bata nele com o cinto, como uma forma de punição pelo erro. Ao se preparar para a agressão, ele retira uma arma e a põe sobre a tribuna. O vereador Ronilson Reis (Podemos) se aproxima e aplica as chibatadas de maneira leve.
“Vou guardar aqui a minha arma. E é para dar cintada mesmo, vereador. Dá com força. Dá com força” disse Novandir.
O regimento interno da Câmara não veda o uso de arma em suas dependências. No entanto, está em tramitação na Casa um projeto apresentado por Ronilson no ano passado para que proíba o porte no local. A matéria já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e está na Diretoria Legislativa.
Outro lado
Segundo Novandir, o novo Código Tributário Municipal apresentado previa que 320 mil iméveis teriam redução no IPTU e outros 50 mil ficariam isentos. No entanto, depois de sancionada a lei, moradores começaram a receber a conta com aumento.
“Me senti humilhado, traído, enganado. Tirei a fantasia de palhaço e falei que nunca mais seria feito de palhaço”, disse.
Quanto à exibição da arma, o vereador afirmou que foi por segurança, para evitar que a chibatada atingisse a pistola. Disse ainda que ela estava travada e não corria risco de disparo.
“A arma que tirei da cintura e guardei em um local seguro, travada, em cima da tribuna, não tinha risco nenhum de disparar. Tinha que colocar em um local seguro. Falei que o secretário merecia uma surra de cinto e que eu também, porque tive culpa, mas não dolo, intenção em votar em projeto de aumento de IPTU. Quando ele (Ronilson) ia dar a cintada, para não correr risco de acertar o meu armamento, guardei a arma em outro local”, explicou Novandir.
Questionado sobre a cena, Ronilson explicou que alguns vereadores entenderam que o aumento do IPTU foi abusivo e que foi uma forma de manifestação do Sargento Novandir. Disse ainda que as chibatadas foram "figurativas" e afirmou ser "desfavorável ao uso de arma de fogo na Câmara, por ser um lugar de discussão".
“Por ser militar, ele falou que quando você comete um erro, tem que pagar uma pena. Então ele tirou o cinto e pediu que eu desse umas chibatadas nele, ainda que fosse figurativo, como se tivesse pagando a pena dele e pedindo perdão à populaçao por ter votado esse código com tanta rapidez” disse Ronilson ao GLOBO. “Não tinha percebido que ele tirou a arma e colocou na tribuna. Dei uns três cintinhos figurativos nele, ele pediu para bater mais e deu por encerrado esse assunto.
Procurada, a Câmara ainda não se manifestou.
Valedoitaúnas ( O Globo)