Vacina bivalente: baixa adesão ao imunizante preocupa especialistas
22 de dezembro de 2023Cobertura vacinal estagnou em 17% em todo o Brasil, segundo o Ministério da Saúde
Vacina bivalente, considerada mais eficaz que os imunizantes anteriores, ainda tem baixa procura nos postos de saúde de todo o Brasil – Foto: Guilherme Silva/Semsa
A vacina bivalente contra a Covid-19 começou a ser aplicada em fevereiro deste ano pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil. O novo imunizante é produzido pela farmacêutica Pfizer e, administrado em dose única, é considerado mais eficaz que as vacinas monovalentes. Hoje, no entanto, quase um ano após o início da aplicação, a vacina ainda tem baixa procura, o que preocupa especialistas.
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, a cobertura nacional estagnou em 17%. As maiores taxas de vacinação são em São Paulo, com 23%, e no Distrito Federal e Piauí, ambos com 20%. Pará, Mato Grosso do Sul e Alagoas têm somente 11% da população imunizada.
Além de ser mais eficaz, a vacina bivalente garante proteção contra mais de uma cepa do Sars-CoV-2, abrangendo inclusive a cepa original, que foi a registrada em Wuhan, na China, e que causou a primeira onda da pandemia. O imunizante também engloba a variante Ômicron, que predomina em todo o mundo desde 2022.
Hoje, a bivalente é aplicada em todos os adultos acima de 18 anos e adolescentes acima de 12 anos com comorbidades, mas só pode ser recebida pelas pessoas que tomaram ao menos duas doses da monovalente.
De acordo com Igor Maia Marinho, infectologista na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, essa baixa procura pela vacina é motivo de grande preocupação, especialmente ao considerar a possibilidade de surgimento de novas variantes.
De acordo com o especialista, vários motivos podem estar por trás da baixa procura, como movimentos de fake news associando a vacina a possíveis efeitos colaterais graves ou "algumas teorias da conspiração um pouco mais rebuscadas".
"O fato é que a vacina de Covid é segura, já está sendo usada há algum tempo sem que nenhum evento muito importante ou muito grave tenha sido levantado, de modo que as pessoas devem continuar a se vacinar e que a gente consiga atingir uma boa cobertura vacinal da população", afirma o médico.
"Para que isso aconteça, é importante que o governo, as autoridades em saúde e a imprensa consigam divulgar informações de qualidade e orientar a população sobre a importância e a segurança da estratégia vacinal", acrescenta.
Além das informações falsas sobre o imunizante, João Prats, infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, aponta que, agora, está acontecendo um processo de "fadiga vacinal" em relação à Covid, com pessoas se questionando sobre a necessidade de doses adicionais do imunizante para quem está completamente saudável.
Devido à queda dos casos graves da doença, esse fator também pode ter contribuído para a baixa procura pela bivalente.
O especialista da BP afirma que, no meio da saúde, tem se discutido que a proteção contra os sintomas graves da doença pode estar atrelada ao fato de a pessoa ter recebido uma dose da vacina recentemente, e não a ter tomado muitas doses, por exemplo, assim como acontece com a da Influenza.
Por que tomar a vacina bivalente?
Mesmo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha decretado o fim da emergência sanitária pela doença em maio deste ano, a Covid-19 ainda pode matar, especialmente as pessoas que se enquadram no grupo de risco.
A vacina bivalente, de acordo com Prats, se mostra ainda mais importante para os imunossuprimidos, ou seja, aqueles que têm “imunidade baixa” e recebem prioridade para serem vacinados, como idosos, transplantados e portadores de algumas doenças.
Embora esse grupo esteja mais suscetível a desenvolver sintomas mais graves da doença, Igor Marinho lembra que a importância da vacina para todas as pessoas está diretamente relacionada ao fato de que "o vírus da Covid ainda circula entre nós".
"Mesmo indivíduos que tenham uma boa saúde e que, em geral, dificilmente vão ter complicações relacionadas às cepas de Covid que estão circulando agora, é importante lembrar que essas pessoas podem contaminar indivíduos que tenham doença de base ou que são imunossuprimidos de alguma forma e que podem ter apresentações graves da Covid".
O infectologista destaca que, além da vacinação tentar controlar a disseminação do vírus entre diferentes pessoas, a falta dela pode aumentar as chances de surgimento de novas cepas da doença.
"Se a gente tem um grande número de pessoas contaminadas, mesmo que sem sintomas importantes, podem surgir novas variantes do vírus, que podem ser mais perigosas que as que circulam atualmente", explica.
Segundo Marinho, a falta de vacinação também está atrelada aos casos mais graves de Covid e às internações mais severas que ainda são registradas.
"Mais de 3 anos desde o início dos casos de Covid, a gente ainda observa casos de pessoas que chegam ao hospital, acabam sendo internadas com casos mais graves de Covid e são pessoas que não tomaram nenhuma dose da vacina ou que tomaram o regime de doses insuficiente, com a última dose há muito tempo", afirma.
"Isso faz com que essas pessoas não estejam devidamente protegidas e acabem tendo doenças, de certo modo, mais graves quando comparadas à população vacinada", acrescenta.
Estou com mais de uma dose atrasada da vacina, o que devo fazer?
De acordo com o infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, nesse caso, o primeiro passo é se dirigir ao posto de saúde mais próximo com o cartão ou comprovante de vacinação e conversar com um agente de saúde. No local, ele vai avaliar as doses já tomadas e orientar como o regime vacinal deve ser continuado.
De modo geral, as pessoas que tomaram uma ou duas doses do esquema primário devem tomar a nova dose da vacina, que é a bivalente, e o esquema vacinal seria encerrado. Ou seja, segundo o médico, o indivíduo precisaria tomar mais duas doses para completar as quatro que ele deveria ter tomado do esquema primário.
"No entanto, pode ser que, futuramente, com o surgimento de novos casos ou novas variantes, sejam indicadas novas doses. Mas, teoricamente, essa dose da vacina bivalente acaba compensando as doses que falharam anteriormente", explica.
(Fonte: iG)