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Usadas contra a peste negra, ‘janelas de vinho’ da Itália ressurgem com Covid-19

09 de agosto de 2020

Por esses buracos nas paredes, lojas de Florença servem de drinques a sorvetes durante a pandemia

Usadas contra a peste negra, ‘janelas de vinho’ da Itália ressurgem com Covid-19Garçom na Itália – Foto: Associazione Buchette del Vino

Uma tradição que remonta ao século XVII tem se provado mais atual do que nunca e Florença, na Itália. São as buchette del vino, ou as janelas do vinho, pequenos buracos em casarões renascentistas por onde a bebida era vendida, e que agora, em pleno 2020, voltaram a ser utilizada para possibilitar o comércio em tempos de distanciamento social.

Segundo a Associazione Buchette del Vino, entidade que desde 2016 preserva essa tradição na região da Toscana, as janelinhas se tornaram populares depois que uma lei permitiu que famílias donas de vinhedos na região pudessem vender o vinho que produziam diretamente em seus palácios, sem precisar passar por entrepostos, como bodegas, tavernas e cantinas. O interessado então levava suas próprias garrafas, que eram recolhidas pela janelinha e devolvidas cheias.

Ainda de acordo com a associação, as menções mais antigas a respeitos dessas janelas são encontradas em documentos de 1634, que falavam sobre aspectos de Florença durante a epidemia de peste bubônica, a peste negra, que assolou a Europa nos três anos anteriores. Esses relatos contavam como as buchette eram funcamentais para garantir o abastecimento de vinho dos moradores da cidade, num momento em que aglomerações e contato entre as pessoas deviam ser evitados a todo o custo.

Alguma semelhança com 2020?

Pois foi justamente na pandemia da Covid-19 que os fiorentinos se lembraram como seus antepassados lidaram com um problema parecido. Aos poucos, comerciantes que tinham esse dispositivo em seus estabelecimentos, voltaram a utilizá-los como forma segura de contato com os clientes. É relativamente comum agora ver mãos segurando taças de vinho saindo das paredes dos antigos palacetes renascentistas.

Uma das diferenças é que agora não há mais monopólio do vinho. Como prova a Vivoli Gelateria, localizada perto da Galeria Uffizi e o do Dumo, que serve sorvete pela janelinha. E a Osteria delle Brache, que usa a passagem para servir drinques dos mais diversos a seus clientes – o Aperol Spritz é o carro-chefe da casa e garantia de sucesso no Instagram.

A pandemia do novo coronavírus ajuda a chamar a atenção para prática, que foi relativamente comum do século XVII até o início do século XX, quando a comercialização da bebida passou por uma nova regulamentação e esse tipo de negociação caiu em desuso. Muitas delas foram fechadas para sempre, principalmente depois da grande enchente de 1966.

As remanescentes, no entanto, estão listadas no site da Associazione Buchette del Vino, onde se pode encontrar inclusive um mapa, para facilitar a localização. Na parte antiga de Florença há cerca de 150, mas há outras espalhadas pela Toscana.

Valedoitaúnas/Informações iG



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