Temer entrega ajuda ao Líbano e diz que Brasil pode ajudar em harmonia interna
14 de agosto de 2020Doações brasileiras serão encaminhadas para a Cruz Vermelha e para o Exército libanês; mortos por explosão passam de 170
Michel Temer representou a missão de ajuda do Brasil ao Líbano – Foto: Marcos Corrêa/PR
Uma semana após a devastadora explosão na área portuária de Beirute, aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) descarregaram no Aeroporto Internacional Rafic Hariri, nesta quinta-feira (13), seis toneladas em alimentos, medicamentos e equipamentos de saúde. A comitiva chefiada pelo ex-presidente Michel Temer, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, pousou horas depois.
"O povo brasileiro está “empenhadíssimo” em auxiliar o Líbano", comentou o ex-presidente ao desembarcar em Beirute, afirmando que a ajuda humanitária fortalece ainda mais o que chamou de “relação fraterna e politicamente sólida” entre o Brasil e o Líbano.
A diáspora libanesa no Brasil tem cerca de 12 milhões de pessoas, entre elas, o ex-presidente – quase o dobro da própria população libanesa, atualmente estimada em 6,8 milhões de pessoas, de acordo com o Banco Mundial. Segundo o Itamaraty, há hoje mais de 20 mil brasileiros vivendo no Líbano.
O general da Brigada libanesa, Albert Hyar, agradeceu a missão humanitária ao Líbano: "Muito obrigado ao governo, ao povo brasileiro", disse em português.
Formada por senadores, autoridades federais e membros da comunidade libanesa no Brasil, a comitiva seguiu do aeroporto para encontro com o presidente Michel Aoun no Palácio Presidencial de Baabda, a 10 quilômetros do porto de Beirute, epicentro da explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio que devastou parte da cidade.
Hospitais destruídos
Até o momento já são mais de 170 mortos, 6 mil feridos e cerca de 300 mil desabrigados, com outras dezenas de pessoas ainda desaparecidas.
O presidente da Cruz Vermelha, Antoine Zoghbi, explicou que, “devido a situação que o Líbano está passando, todas as ajudas são necessárias. Os hospitais libaneses, a Cruz Vermelha, precisam de muita ajuda”. Segundo Zoghbi, cerca de 2,5 toneladas dos insumos recebidos do Brasil, na tarde de quinta-feira, serão destinados à Cruz Vermelha. O Exército libanês ficará por conta das outras quatro toneladas.
A megaexplosão afetou vários hospitais da capital libanesa. O hospital de São Jorge, no bairro de Achrafieh – um dos mais danificados pela explosão –, foi evacuado enquanto a equipe médica realizava os atendimentos de emergência poucos minutos após a tragédia. A administração do centro médico confirmou a morte de quatro enfermeiras, 12 pacientes e um visitante, além de mais de mil feridos, com três em condições críticas.
Em redes sociais, os libaneses pedem que o incidente seja investigado por uma corte internacional, já que o governo local não possui a confiança da população. Em visita a Beirute nesta quinta, o número três da diplomacia americana, David Hale, disse que o FBI vai trabalhar com investigadores libaneses e internacionais para apurar as causas da explosão.
"Eu acho que isto vai depender do governo, […] conversei com o presidente Bolsonaro hoje pela manhã, e quem sabe, […] nós poderíamos colaborar para a harmonização de toda esta questão aqui no Líbano", comentou o ex-presidente Temer, que na sexta-feira (7) se encontrará com o presidente do Parlamento, Nabih Berri, e com o primeiro-ministro interino, Hassan Diab, antes de retornar ao Brasil.
Estado de emergência
A chegada da missão brasileira ocorre em um dia tenso em Beirute, marcado por protestos e pela primeira sessão parlamentar desde as explosões. O Legislativo endossou o estado de emergência, proclamado pelo Gabinete no dia 5. Com validade de duas semanas, a medida dá ao Exército o poder de limitar a liberdade de expressão, reunião e da imprensa, além de permitir a prisão de qualquer um considerado como ameaça. Grupos defensores dos direitos humanos temem que isto seja usado propositalmente para perseguir opositores.
Nesta quinta (13), manifestantes cercaram o Palácio Unesco, onde a sessão parlamentar aconteceu, demandando reformas políticas. Todos os acessos ao local, no Sul de Beirute, foram bloqueados com cercas de metal. Dois carros que se dirigiam ao centro de convenção foram atacados com pedras por um grupo que protestava com bandeiras libanesas.
Presidente do Parlamento desde 1992, Berri defendeu que "a formação de um novo governo seja rápida". Pilar do regime, no entanto, ele não deverá ouvir as demandas por uma reforma do sistema político libanês, que prevê a participação no governo dos principais grupos religiosos do país. Tradicionalmente, o presidente é um cristão, o premier é muçulmano sunita, e o presidente do Parlamento, muçulmano xiita.
Além de Temer, a comissão brasileira conta com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, os senadores Nelsinho Trad (PSD-MS) e Luiz Osvaldo Pastore (MDB-ES) e o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Flávio Augusto Rocha, entre outros. Acusado de corrupção passiva e outros crimes no âmbito da Operação Lava-Jato, o ex-presidente precisou de autorização judicial para poder comandar a missão a Beirute, concedida pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, na segunda-feira.
Valedoitaúnas/Informações iG