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Tarifaço freia exportações de rochas com impacto direto para o Espírito Santo

04 de dezembro de 2025

Com o objetivo de contornar os impactos da retração, terminal tem acelerado a diversificação de cargas, com avanço de operações de carga geral, projetos especiais e granéis

Tarifaço freia exportações de rochas com impacto direto para o Espírito SantoFoto: Divulgação

As tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre rochas ornamentais já provocam uma redução relevante nas exportações pelo Espírito Santo, estado responsável por cerca de 82% das exportações brasileiras de rochas para o mercado norte-americano, segundo dados da Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas).

No Terminal Portuário de Vila Velha (TVV), principal porta de saída das rochas capixabas, o impacto aparece tanto no acumulado do ano quanto na média mensal após o anúncio das medidas. Com o objetivo de contornar os impactos da retração, o terminal tem acelerado a diversificação de cargas, com avanço de operações de carga geral, projetos especiais e granéis.

Atualmente, o TVV conta com forte atuação em operações de rochas ornamentais, especialmente granito. Segundo dados do terminal, cerca de 48% de toda a exportação movimentada pelo terminal para o mercado estadunidense é composta por rochas ornamentais, e mais de 95% do volume exportado desse tipo de carga pelo Espírito Santo passa pelo TVV. Essa concentração explica por que os efeitos do tarifaço se propagam com rapidez no estado, que concentra beneficiamento e acabamento de rochas antes do envio ao exterior.

De acordo com Gustavo Paixão, Diretor de Terminais da Log-In Logística Integrada, o recuo do granito ficou nítido na comparação anual e se intensificou no segundo semestre. “Se analisarmos o acumulado até setembro, estamos 22% abaixo na movimentação de rochas. Mas entre os meses de agosto e setembro, depois do tarifaço, a média mensal passou a 40% abaixo do que vínhamos fazendo no mesmo período do ano anterior”, afirma. Paixão acrescenta, ainda, que o terminal registrou meses melhores no início de 2025, mas a retração ganhou força após a mudança tarifária, alterando a curva histórica de embarques.

Além do efeito direto das tarifas, o terminal aponta que a classificação de parte das cargas ampliou o impacto inicial. Produtos como quartzito ficariam fora da tarifação formal, mas acabaram atingidos por serem registrados como granito. “Houve uma distorção importante pois nem tudo é granito e nem tudo está sujeito à mesma tarifa. O setor começou um esforço de reclassificação e isso não é rápido, mas já vemos sinais de ajuste”, diz Paixão.

Apesar de o governo norte-americano ter revisto parte das medidas e incluído o café na lista de redução das tarifas, o efeito sobre o Espírito Santo é residual do ponto de vista portuário. Segundo Paixão, o café representa uma parcela pequena da exportação movimentada pelo terminal e não figura entre as principais cargas com destino aos EUA. “O café tem peso pequeno aqui no terminal e aparece mais distribuído em outros mercados. A dinâmica atual do TVV está muito mais ligada às rochas”, explica.

Abertura para novos negócios

Mesmo com perda na principal carga de margem, a queda liberou capacidade operacional e abriu espaço para novos negócios. Paixão afirma que o terminal aproveitou a janela para fortalecer carga geral e projetos especiais, segmentos que haviam perdido presença em 2024 por conta da alta ocupação e do ciclo de retrofit. “Com menos contêiner cheio, conseguimos abrir pátio e berço para outras operações. Voltamos a operar fortemente a carga geral e isso tem superado o que estava previsto inicialmente”, comenta.

A diversificação também inclui granéis e a possibilidade de operar navios sem guindaste de bordo, que passaram a ser atendidos com regularidade nos berços públicos da Autoridade Portuária, após os recentes investimentos em novos equipamentos. Segundo Paixão, esse movimento reforça a estratégia de ampliar o portfólio de operações e aprimorar o perfil multipropósito do terminal e do Complexo Portuário de Vitória.

No comércio internacional, a avaliação do executivo é de que não há previsibilidade de reversão rápida do tarifaço. “A negociação com os EUA segue em curso, mas o segmento também está se movimentando para abrir novos destinos. O Oriente Médio entrou no radar como mercado com demanda e ainda pouco explorado para as rochas brasileiras”, explica.

Nesse contexto, o TVV tem o importante papel de garantir infraestrutura e capacidade de resposta caso os volumes retornem, além de oferecer alternativas logísticas para novas cargas. “A negociação comercial permanece entre exportadores, entidades setoriais e compradores internacionais. Para o terminal, a diversificação iniciada em 2025 tende a continuar mesmo com eventual retomada do granito, como forma de reduzir exposição a choques externos e sustentar crescimento em segmentos menos concentrados”, finaliza o executivo.



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