Tábuas “amaldiçoadas” de 2.500 anos são descobertas em cemitério grego
05 de fevereiro de 2020Do amor ao ódio, não faltavam motivos para que os gregos amaldiçoassem alguém. Apesar da prática ser proibida na época, 30 tábuas foram encontradas em Atenas
Tábuas “amaldiçoadas” de 2.500 anos encontradas em cemitério na Grécia – Foto: Instituto Arqueológico Alemão
Trinta tábuas de chumbo de pelo menos 2.500 anos foram encontradas em um poço de água no antigo cemitério de Cerâmico, em Atenas, na Grécia. Como relatam os profissionais do Instituto Arqueológico Alemão, responsáveis pela descoberta, as inscrições nos artefatos mostram que elas são exemplares de placas “enfeitiçadas” ou “amaldiçoadas”.
Segundo os especialistas, essas maldições eram textos ritualísticos destinados a causar danos a outras pessoas. Havia quatro principais razões para amaldiçoar alguém: vencer um processo jurídico, ter sucesso nos negócios, vencer competições esportivas e assuntos que envolvem amor e ódio. “A pessoa que encomendava uma maldição nunca era mencionada pelo nome, apenas o destinatário”, disse Jutta Stroszeck, uma das pesquisadoras, ao Haaretz.
As pequenas tábuas eram gravadas com maldições antigas e “invocavam os deuses do submundo”, por isso acreditava-se que a melhor forma de enviar a mensagem às entidades era colocar os objetos sobre as tumbas. Mesmo que fossem praticadas, na época, as chamadas “artes obscuras” eram reprovadas em Atenas e proibidas por lei.
Uma das tábuas encontradas em Cerâmico – Foto: Instituto Arqueológico Alemão
Para não deixarem de “amaldiçoar” seus rivais, os gregos começaram a lançar os artefatos em poços de água de cemitérios, dedicando as tábuas à sua ninfa da água. Segundo Stroszeck, a água, principalmente potável era considerada sagrada – e lançar uma placa de chumbo tornando-a turbulenta era uma forma de irritar a entidade.
“Na religião grega, a água era protegida por ninfas, que podiam se tornar muito maliciosas quando a água era maltratada”, explicou a especialista. Portanto, além de lançar a tábua identificada pelo nome do inimigo, o que “ativaria” a fúria da ninfa, a pessoa também jogava oferendas no poço.
Portanto, não foram apenas as placas amaldiçoadas que os arqueólogos encontaram em Cerâmico. Segundo os pesquisadores, outros itens foram descobertos, como copos, recipientes para vinho, luminárias de barro, panelas, moedas orgânicas, caroços de frutas e até artefatos de madeira destinados ao uso pessoal dos atenienses da época.
Uma estatueta e um sarcófago modelo feito de chumbo foram encontrados no fundo do poço – Foto: Instituto Arqueológico Alemão
De longe, a descoberta mais interessante para os arqueólogos foram as tábuas “amaldiçoadas”. Segundo os cientistas, os gregos antigos costumavam contratar escritores profissionais de maldições, pois acreditava-se que eles tinham poderes sobrenaturais, algo útil na criação de feitiços.
Outro fato interessante destacado por Stroszeck, em entrevista à Haaretz, é a origem dessa tradição. De acordo com ela, estima-se que o hábito tenha surgido no século 5 a.C., durante o julgamento de um cidadão da época. Enquanto uma das partes defendia sua causa, sua mandíbula se quebrou repentinamente e, para as testemunhas, parecia que ele havia sido amaldiçoado.
Cemitério Cerâmico, em Atenas, na Grécia – Foto: Instituto Arqueológico Alemão
Valedoitaunas/Com informações de Revista GALILEU