Suspeita de fraude em votações na Câmara dos Deputados envenena o ambiente
29 de maio de 2021A oposição ao governo não reclama em público para não se indispor com deputados independentes que, às vezes, a apoiam
Câmara dos Deputados – Foto: Igo Estrela/Metrópoles
A oposição ao governo na Câmara está incomodada, mas não admite em voz alta para não perder a companhia de deputados independentes com que conta em votações importantes. Ou para não se indispor com Arthur Lira (PP-AL), o todo poderoso presidente da Câmara, eleito com apoio do governo.
Mas é grande sua desconfiança, de resto compartilhada por eventuais aliados, de que o voto por procuração corre solto quando entram em jogo projetos de interesse do governo Jair Bolsonaro. Com a pandemia, os deputados votam remotamente. A cada um é dada uma senha de acesso ao painel eletrônico de votação.
Nada impede que um assessor de deputado, de comum acordo com ele ou não, possa votar no seu lugar. É o que já está sendo chamado de “Pianistas, 2”. Nos anos 1980, deputados foram fotografados votando duas vezes ao mesmo tempo porque conheciam a senha de colegas ausentes.
Em junho de 2001, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente do Senado, violou o painel para saber como haviam votado seus pares no caso da cassação do mandato do senador Luiz Estevão de Oliveira. Acabou renunciando, depois, para não ser cassado.
Há dois anos, a eleição para presidente do Senado foi anulada ao contar-se 82 células depositadas em urnas – mais uma do que o número máximo de votantes. A fraude ficou por isso mesmo. Em nova eleição, David Alcolumbre (DEM-AP), candidato apoiado por Bolsonaro, derrotou Renan Calheiros (MDB-AL).
Teve dia, esta semana, em que o painel registrou a presença remota de mais de 500 deputados, de um total de 513, em votações que se arrastaram pela madrugada. Em casos assim, o número sempre foi menor quando a presença em plenário era obrigatória. Continuará a ser remota até o fim da pandemia, sabe-se lá quando.
Valedoitaúnas/Informações Metrópoles