Supermercado ‘fecha nunca’ em Franca, SP, se rende ao delivery durante restrições: ‘Nada vale mais que a vida’
30 de maio de 2021Aparecido Maldonado Ponce, de 83 anos, atua como comerciante há 68. Dono do Supermercado São Paulo, ele precisou mudar a rotina e deixar de lado o atendimento 'olho a olho'
Comerciante há 68 anos, Aparecido Maldonado Ponce segue a frente de negócio em Franca (SP) – Foto: Igor do Vale/G1
Comerciante há 68 anos em Franca (SP), Aparecido Maldonado Ponce nunca imaginou que fosse precisar mudar a rotina e deixar de lado o atendimento "olho a olho". Dono do Supermercado São Paulo, ele conquistou ao longo da vida a fama de ter de tudo no estabelecimento e nunca, em hipótese alguma, fechar as portas.
Em meios as mudanças trazidas pela pandemia de Covid-19, Aparecido precisou, além de adotar o distanciamento social, uso de máscaras e álcool em gel, suspender o atendimento presencial e, pela primeira vez em anos de trabalho, deixar de atender os clientes após as 20h.
O decreto de lockdown no município determina que supermercados só podem atender via delivery, além da suspensão dos atendimentos das 20h às 5h, por um período de 15 dias. Para Maldonado, apesar do baque em fechar sua segunda casa, o sacrifício é em nome da vida.
"Se é para salvar vidas vamos fazer todos os sacrifícios, porque não tem nada que vale mais que a vida. A vida é em primeiro lugar, depois as outras coisas a gente consegue sucessivamente", afirma.
Supermercado São Paulo com aviso de delivery, durante lockdown, em Franca (SP) – Foto: Igor do Vale/G1
'A lucidez está no serviço'
Batalhador, guerreiro, um exemplo de ser humano. É assim que Daniel Costa Maldonado, filho do meio de outros dois irmãos, descreve o pai, Aparecido. Para o filho, que segue ao lado do patriarca da família frente ao comércio, é por meio do trabalho que o pai consegue se manter lúcido e feliz.
"É o prazer dele estar atendendo, a lucidez dele está no serviço. Ele tem 83 anos e o que ele pode fazer para servir o próximo, ele faz", aponta Daniel.
Sem saber dos elogios tecidos pelo filho, o restinguense, que se mudou aos 15 anos da área rural para ganhar a vida em Franca, confirma que é no trabalho que se sente realizado. Todos os dias, faz questão de se levantar antes das 6h e assumir o posto de trabalho.
"Deus dando saúde a gente trabalha. É muito bom, a gente levanta cedo, vai para o serviço, nem vê o dia passar, é uma ocupação. Tem muita conversa com o público, quando vê, o dia já passou. Se ficar parado em casa o dia não passa", diz.
Aparecido Maldonado Ponce sorri entre os corredores e prateleiras de seu supermercado em Franca (SP) – Foto: Igor do Vale/G1
'Fecha nunca'
Ao lado de Maria Norma Costa Maldonado, esposa com quem compartilha a vida há 55 anos, os três filhos e os oito netos, Aparecido leva a vida entre o trabalho e a própria casa.
Durante a pandemia, o medo de se contaminar com a Covid-19 foi grande, mas ele agora respira aliviado após receber a segunda dose da vacina há uma semana.
"Eu vacinei a primeira vez em fevereiro e agora, há uma semana foi a segunda vez. A gente tem medo, pede a Deus toda hora para livrar dessas coisas, quem é que não tem medo?", confessa.
Maldonado também relembra como a fama de "fecha nunca" e "tem de tudo" começou no supermercado. Com foco na venda de alimentos, foi observando a necessidade dos clientes que ele ampliou os produtos e horário de atendimento.
"Nós criamos essa fama de ter de tudo e fechar nunca com o tempo. Fomos adquirindo as coisas, procurando sempre ter umas coisas a mais, ferramentas, coisas agrícolas, por isso criou essas famas", relembra.
Supermercado São Paulo durante 'lockdown' em Franca (SP) – Foto: Igor do Vale/G1
Lockdown
Sem questionar as novas medidas restritivas implementadas na cidade, o comerciante adaptou a forma de atender aos clientes. Com um telefone no ouvido, ele escuta atentamente a lista de compras narradas pelos consumidores do outro lado da ligação.
Após separar os pedidos e enviá-los por um entregador, Aparecido se posiciona atrás do balcão novamente e volta a atender as demandas que surgem no decorrer do dia. Mesmo achando a rotina muito diferente da habitual, ele analisa com otimismo a adaptação do estabelecimento.
"Está correndo bem, o 'povão' está compreendendo, a gente olha na avenida e não tem nenhuma pessoa, e essa avenida é movimentada. Agora é pedir a Deus que dê tudo certo e que logo essas coisas ruins, essa pandemia vai embora", aponta.
Aparecido Maldonado Ponce atendendo um cliente pelo telefone no supermercado São Paulo em Franca (SP) – Foto: Igor do Vale/G1
Valedoitaúnas/Informações G1