Refeição sem carne é 60% mais barata que com proteína animal, diz pesquisa
09 de julho de 2022Levantamento feito em quatro capitais brasileiras analisou substituições feitas com alimentos de níveis nutricionais equivalentes, como feijão e lentilha
Pratos sem carne e feijoada são opções econômica – Foto: Reprodução/Facebook
Arroz, feijão, carne moída e uma saladinha. O prato, considerado altamente nutritivo por especialistas, deixou de figurar na mesa de muitos brasileiros. Com a inflação de dois dígitos nos 12 meses encerrados em junho, a refeição tem ficado cara.
Embora a carne acumule alta de apenas 3,92% no período, muitos consumidores têm buscado opções para substituir o produto, que foi um dos vilões da inflação no ano passado. Substituí-la por grãos proteicos, como já é costumeiro para veganos e vegetarianos, pode gerar uma economia de até 60%, segundo pesquisa feita pela Mercy for Animals, ONG de defesa dos animais.
O levantamento comparou os preços gastos para a produção de refeições caseiras, compostas por feijão carioca, arroz branco, cenoura com abobrinha, salada de alface, tomate e beterraba, carne moída e sobremesa (laranja), em quatro capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife.
Ao substituir a carne por hambúrguer de feijão, o valor do almoço caiu de R$ 7,81 para R$ 3,14 na capital paulista, por exemplo. Uma economia de 60%.
Nas cidades analisadas, a menor diferença foi encontrada em Recife, onde o prato com proteína animal custa R$ 2,02 a mais que a refeição de R$ 3,15, feita apenas com vegetais, economizando 39%.
Em Belo Horizonte, a carne moída mais que dobra o valor do almoço: o salto é de R$ 3,96 para R$ 8,67. Na capital fluminense, a comida vegana sai a R$ 2,66 contra os R$ 6,27 gastos para fazer um almoço com carne.
Em 30 dias, as substituições geram uma economia de R$ 141,30 no orçamento individual dos moradores da capital mineira, R$ 140,10 em São Paulo, R$ 108,30 no Rio de Janeiro e R$ 60,60 no Recife.
Há quem sentiu o peso da carne no orçamento de forma prática: o autônomo Vinícius Barcelos, de 27 anos, mora em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e manteve uma dieta vegetariana por cinco anos. Em outubro do ano passado, retomou o consumo de produtos de origem animal, mas se assustou com o preço da carne:
"Quando eu era vegetariano, gastava com as compras de supermercado para minha alimentação individual algo em torno de R$ 250 por mês. Hoje, eu gasto o mesmo valor só com carne, e mais R$ 250 para os outros itens, como arroz, feijão e legumes."
O casal de empresários Stephany Castro, 25 anos, e Matheus Cassiano, 24 anos, economiza em torno de R$ 200 por mês só com a redução do consumo de carne. Hoje, o dinheiro "extra" vai para ajudar nas despesas ou um mimo: "vamos a um restaurante interessante, uma ou duas vezes por mês", conta Matheus.
O médico nutrólogo Márcio Velásquez explica que há a possibilidade de manter uma dieta que não contenha produtos de origem animal sem comprometer a quantidade de nutrientes necessários para a saúde. Ele indica o acréscimo de tofu, soja e grão de bico na alimentação.
"Lentilha, feijão e grão de bico são boas substituições, mas recomendo o investimento em soja, quinoa e cogumelos, que são muito presentes na culinária de outros países, para suprir essa falta de proteínas das carnes", diz o especialista.
Ele explica que a falta de carne na alimentação pode levar a uma necessidade de suplementação de vitamina B12 e de ferro, neste caso, em mulheres com fluxos menstruais muito intensos, mas afirma que isso "depende de cada organismo". E faz um alerta: substituir a carne por massas, pão e batatas fritas "não adianta", pois aumenta os riscos de doenças neurológicas, como Alzheimer, demência e AVC.
Valedoitaúnas (iG)