Que fez Pedro Álvares Cabral depois de descobrir o Brasil em 1500?
02 de maio de 2020No dia 3 de Maio, o navegador enfim buscou o caminho das Índias numa viagem que acumulou mais tragédias do que os sucessos que esperava
A chegada ao Brasil, segundo Oscar Pereira da Silva – Foto: Reprodução Oscar Pereira da Silva
Cerca de sete décadas atrás, qualquer teste familiar de conhecimentos gerais se iniciava com a pergunta obrigatória: “Quem descobriu o Brasil?” Claro que a maioria imensa apontava, com exatidão, um tal de Pedro Álvares Cabral. Na questão subseqüente, porém, a garotava hesitava: “Dia, mês e ano?” Não havia a mesma velocidade, e a mesma precisão, embora os mais espertos corretamente cravassem o 22 de Abril de 1500.
E sobre a estada daqueles navegadores por aqui, que fizeram eles e quanto tempo demoraram? Um ou outro conhecia detalhes sobre a carta de um escrivão de nome Pero Vaz de Caminha, e basicamente nada além.
Cabral – Foto: Reprodução
Nascido em Belmonte, na Beira, 1467 ou 1468, o fidalgo Cabral, que nunca dantes havia pisado num barco, partiu de Lisboa em 9 de Março e viajou através de um oceano, então chamado de Mar Ocidental, a fim de encontrar um caminho mais curto até as Índias das especiarias. A idéia era repetir o curso estabelecido, entre 1497 e 1499, por Vasco da Gama. O achamento do Brasil à parte, todavia, aquela seria uma expedição desastrosa.
Com 13 naus, a frota de Cabral se afastou muito da rota básica de Vasco da Gama, junto à costa da África, e acabou por esbarrar em uma massa de terra, a qual Cabral primeiro confundiu com uma ilha e cuja, segundo o texto de Caminha, “em se plantando tudo dava”.
Por via das dúvidas, Cabral logo tomou posse do lugar em nome de Portugal. Daí, enviou uma das suas naus de volta a Lisboa, a fim de informar o Rei Dom Manuel I, e decidiu retomar a missão original.
A América do Sul, num mapa do Século XVI – Foto: Reprodução
Para quem não sabia, Cabral deixou o Brasil faz exatamente 520 anos, em 3 de Maio de 1500. E, imenso infortúnio, enveredou no rumo de uma tragédia-bis. Das naus que restaram, provavelmente pouco antes do Cabo da Boa Esperança, no extremo meridional da África, uma tempestade brutal afundou quatro das suas naus.
A frota remanescente se reagrupou nas águas calmas do Canal de Moçambique, entre o continente e a ilha de Madagascar, e subiu até Calecute, ou Kozhikode, na hoje Índia. Por lá Cabral engendrou bons acordos com negociantes locais, de origem lusitana, mas atraiu a ira de muçulmanos e de hindus, que provocaram um conflito com muitas perdas humanas, a quase destruição de Calecute e a fuga do que sobrou da frota para Cochim, ou Kochi. Enfim, Cabral obteve alguma paz e se revigorou.
A rota da esquadra de Cabral, ida e volta – Foto: Reprodução
Em Cochim, e na vizinha Kannur, ou Cananor, reparou as naus estropiadas, se reabasteceu, encheu os porões de especiarias e, no dia 16 de Janeiro de 1501, iniciou o seu retorno à pátria. Nada fácil. Dispunha de meras seis das suas naus originais. E, perto de Moçambique, um barco encalhou num banco de areia. Na tentativa de salvar tal barco, diversos dos seus homens na beira da fome, Cabral autorizou o sacrifício de um dos presentes que carregava em honra de Manuel I, um elefante, Quase matou o resto da tripulação de diarréia.
Meras duas naus recruzariam o Cabo da Boa Esperança e Cabral retornaria a Lisboa só no dia 21 de Junho. Cinco das naus, dispersas durante os múltiplos traumas, também voltaram a Portugal, duas em pandarecos e com os porões integralmente esvaziados das suas prendas.
Vasco da Gama – Foto: Reprodução
Impossível calcular quantos homens desapareceram. De todo modo, a carga de especiarias que aportou, intacta, em Lisboa, foi suficiente para cobrir os custos materiais da operação e gerar lucros de até 800%.
O rei incumbiu Cabral de montar outra esquadra, destinada a recuperar Calecute e apelidada de “A Frota da Vingança”.
Não se conhece a razão, mas depois de oito meses de empenho o fidalgo caiu em desgraça e o comando foi transferido a Vasco da Gama.
Ao menos conseguiu um matrimônio de conveniência financeira, em 1503, com a aristocrática, e muito rica, Isabel de Castro. Entretanto, nem mesmo a interferência de vários amigos poderosos fez com que o monarca Manuel I lhe concedesse o novo comando. Esquecido, vítima de constantes crises de malária, recluso em Santarém, Cabral faleceu em 1520.
Valedoitaúnas/Informações R7