Quadrilha dopa idosa por 3 anos e rouba cerca de R$ 11 milhões da vítima
19 de agosto de 2021De acordo com as investigações, a organização criminosa começou a atuar em 2018, quando um dos integrantes foi contratado como pedreiro e depois se tornou o motorista da vítima
Operação da Polícia Civil prende suspeitos de dar golpe de R$ 11 milhões em idosa no RJ - Foto: Reprodução
Uma operação da Polícia Civil de Teresópolis, na Região Serrana do Rio, prendeu, na manhã desta quinta-feira (19), quatro pessoas apontadas como integrantes de uma quadrilha responsável por roubar cerca de R$ 11 milhões de uma idosa de 88 anos, que era funcionária da Justiça Federal.
De acordo com as investigações, a organização criminosa começou a atuar em 2018, quando um dos integrantes foi contratado como pedreiro e depois se tornou o motorista da vítima. Bruno de Lima Reis seria o chefe da quadrilha, segundo a polícia, e o responsável por apresentar os demais envolvidos, que também se tornaram funcionários da idosa.
Bruno de Lima Reis, motorista da idosa, é apontado como o chefe da quadrilha, segundo a polícia – Foto: Reprodução
Além de Bruno, nesta quinta-feira também foram presos Luiz Carlos Amorim e Márcia Souza Pereira Amorim, sogros do motorista e caseiros do sítio da vítima, e Marcelo da Silveira Reis, tio de Bruno e responsável pelas transferências bancárias, segundo a polícia. O jardineiro do sítio da idosa, Alexandre Caetano Félix, que seria integrante da quadrilha, é considerado foragido.
Luiz Carlos Amorim, Márcia Souza Pereira Amorim e Marcelo da Silveira Reis também foram presos nesta quinta-feira – Foto: Reprodução/Polícia Civil
Segundo a polícia, a idosa era constantemente dopada com o medicamento clonazepam, utilizado no golpe "Boa noite Cinderela", para que assinasse cheques e documentos que autorizavam a venda de imóveis e saques de contas bancárias. Caixas do medicamento foram encontradas dentro do quarto da vítima.
Alexandre Caetano Félix é considerado foragido – Foto: Reprodução/Polícia Civil
O patrimônio da aposentada foi então dilapidado por transferências, saques, emissões de cheques e aquisição de bens como carros de luxo.
Transferências bancárias
As transferências de dinheiro eram realizadas por meio da utilização das contas de terceiros que sacavam as quantias e repassavam aos membros da organização criminosa, ficando com 5% do valores transferidos, segundo as investigações.
Entre os suspeitos de envolvimento no esquema está o auditor fiscal chefe da Receita Estadual de 12 municípios da Região Serrana, Moacir Carvalho Correia. Na casa dele, foram cumpridos mandados de busca e apreensão. Segundo a polícia, Moacir teria recebido mais de R$ 100 mil e fazia parte do esquema de transferências bancárias.
Polícia prendeu funcionário da Receita Estadual suspeito de fazer parte de quadrilha que aplicou golpe em idosa – Foto: Reprodução
"Tivemos a expedição de vários mandados de busca e apreensão em relação aos endereços das pessoas que cederam suas contas para transferências bancárias e que ficam com 5% do valor transferido. Uma dessas pessoas que cedeu a conta é auditor da Receita Estadual [...] Na casa dele foram apreendidos computadores, documentos, celular. Tudo isso vai ser objeto de uma investigação futura para analisar qual a participação dele nesse fato e em outros", afirmou o delegado titular da 110ª DP, responsável pelo caso, Márcio Mendonça Dubugras.
Além de Moacir, outras cinco pessoas também são investigadas por envolvimentos no esquema.
Uma equipe de reportagem da Inter TV – afiliada Rede Globo esteve na residência de Moacir, mas o auditor disse que não vai se pronunciar sobre o caso.
Em nota, a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz-RJ) informou que, "diante da gravidade da denúncia", o auditor fiscal Moacir Carvalho Correa foi afastado do cargo de chefia. Ainda segundo a Sefaz, uma investigação interna foi instaurada para auditar os procedimentos aos quais Moacir tem acesso ou participação, "com o objetivo de confirmar se os atos que estão sendo investigados de fato não afetaram a Sefaz-RJ de alguma maneira. Ao mesmo tempo, a pasta acionou todos os órgãos de controle interno do estado".
a,A reportagem tenta contato com a defesa dos outros citados.
Venda de imóveis
De acordo com a Polícia Civil, em 2020, a organização criminosa conseguiu forjar uma declaração de união estável entre a vítima e Bruno e passaram a vender todos os imóveis da idosa, como quatro apartamentos na Barra da Tijuca e Copacabana, por valores bem menores do que o real para que obtivessem o dinheiro mais rápido.
Sitio da vítima, no bairro Cascata dos Amores, também foi transferido para um dos membros da organização criminosa – Foto: Lucas Machado
O sitio da vítima, localizado no bairro Cascata dos Amores, também foi transferido para um dos membros da organização criminosa.
Segundo moradores da região, Márcia e Luiz eram vistos na localidade desde 2013. Ainda de acordo com moradores, o casal trabalhou em outros imóveis até começar a trabalhar no sítio da idosa.
Suspeitas do crime
De acordo com a polícia, as suspeitas do crime começaram quando uma sobrinha da idosa recebeu uma ligação anônima, em fevereiro deste ano, afirmando que a idosa estava sendo vítima de maus tratos e que os bens dela estavam sendo roubados. A mulher então acionou a 110ª DP.
Policiais civis chegaram a visitar o sítio não identificaram situação de maus tratos, mas abriram um inquérito para investigar o caso.
Um dia após a denúncia e visita dos agentes, no entanto, a vítima deu entrada num hospital com suspeita de traumatismo craniano. A idosa também teve o plano de saúde cancelado por falta de pagamento.
As suspeitas de que algo de errado estava acontecendo também foram confirmadas por amigos da idosa, que ao visitar o sítio perceberam que o local estava mal cuidado e que a vítima estava agindo de forma estranha.
Atualmente, a vítima apresenta distúrbio mental, causado, possivelmente, por uso excessivo do medicamento, segundo a polícia. A idosa está com familiares, no Rio de Janeiro.
Operação Parasita
A Operação Parasita buscou cumprir cinco mandados de prisão para os membros principais do esquema e 11 mandados de busca e apreensão para a residência de todos os envolvidos.
De acordo com a polícia, os membros principais do esquema vão responder por roubo qualificado, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Já as pessoas que cederam suas contas para as transferências bancárias vão responder por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Valedoitaúnas (G1)