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‘Pulmão de pipoca’: entenda a doença sem cura e sua relação com cigarros eletrônicos

12 de julho de 2025

Pneumologista alerta para riscos graves à saúde pulmonar e revela que comércio ilegal no Brasil aumenta os perigos

‘Pulmão de pipoca’: entenda a doença sem cura e sua relação com cigarros eletrônicos'Pulmão de pipoca' é o nome popular para a bronquiolite obliterante – Foto: Editoria de Arte/R7

No início dos anos 2000, trabalhadores de uma fábrica de pipocas para micro-ondas adoeceram após inalarem diacetil, uma substância química com sabor amanteigado.

Segundo a American Lung Association (Associação Americana do Pulmão), apesar do aroma agradável, o diacetil pode causar sérios danos à saúde quando inalado. Um desses danos é conhecido como “pulmão de pipoca”, nome popular para a bronquiolite obliterante, uma doença pulmonar grave e irreversível.

“O diacetil causa bronquiolite obliterante – mais comumente chamada de ‘pulmão de pipoca’ – uma cicatrização dos pequenos sacos de ar nos pulmões, resultando no espessamento e estreitamento das vias aéreas”, afirmou a instituição.

A pneumologista Yáskara Duarte Assis, do hospital Moriah, explica que a doença provoca cicatrização nos minúsculos sacos de ar dos pulmões, resultando no espessamento e estreitamento das vias aéreas, associada à exposição a vapores de aromatizantes artificiais.

Entre os sintomas estão a piora na respiração e tosse seca, como ressalta a pneumologista Gilda Elizabeth, do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas.

“A pessoa sente dificuldade para respirar, uma piora progressiva da respiração, tosse seca e uma sensação real de falta de ar. Geralmente, não há melhora com o uso de broncodilatadores inalatórios”, disse.

Atualmente, especialistas investigam uma possível relação entre o uso de cigarros eletrônicos e o desenvolvimento da doença.

Segundo Yáskara, alguns componentes do cigarro eletrônico podem desencadear esse tipo de lesão pulmonar, especialmente aromatizantes como o diacetil, já reconhecido como agente causal.

“Além do diacetil, outros compostos presentes nos líquidos de cigarro eletrônico, como 2,3-pentanodiona, vanilina e cinamaldeído, também apresentam potencial tóxico para o epitélio brônquico e podem contribuir para o desenvolvimento de lesões das vias aéreas”, afirma.

Segundo a imprensa norte-americana, uma adolescente de 17 anos, que utilizava os vapes escondido dos pais, foi diagnosticada com a condição após passar mal durante um treino de líderes de torcida.

Em entrevista à mídia dos EUA, a mãe da jovem afirmou que o prognóstico foi positivo porque a doença foi diagnosticada precocemente.

O caso da líder de torcida não é o único. Nas redes sociais, relatos semelhantes se multiplicam, e médicos ao redor do mundo têm alertado sobre a gravidade do problema.

Muitos jovens também têm usado suas plataformas para compartilhar experiências e chamar atenção para os riscos associados ao uso do cigarro eletrônico.

Outro caso da doença em jovens foi divulgado pela imprensa do Canadá em 2019. Um menino, também de 17 anos, também apresentou um quadro semelhante ao observado em pacientes com “pulmão de pipoca”, após utilizar cigarros eletrônicos comprados pela internet.

Foi internado em um hospital após semanas com tosse persistente, febre e dificuldade para respirar. Além disso, jornais estrangeiros relataram que o adolescente precisou de suporte de vida temporariamente.

Yáskara ressalta que a doença não tem cura e é considerada grave, principalmente em pacientes mais jovens. “A bronquiolite obliterante é uma doença pulmonar grave, irreversível e progressiva, caracterizada por inflamação e cicatrização nos minúsculos sacos de ar dos pulmões, levando à obstrução irreversível das vias aéreas”.

‘Pulmão de pipoca’: entenda a doença sem cura e sua relação com cigarros eletrônicosAdolescente chegou a ser colocado em suporte de vida após desenvolver doença semelhante ao "pulmão de pipoca" – Foto: Divulgação/Canadian Medical Association Journal

Comércio proibido

Gilda também chamou atenção para o fato de o comércio de cigarros eletrônicos no Brasil ser ilegal. Ou seja, os produtos comercializados não passam por nenhum tipo de fiscalização quanto à qualidade e ao conteúdo.

‘Pulmão de pipoca’: entenda a doença sem cura e sua relação com cigarros eletrônicosDra. Gilda Elizabeth, pneumologista do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede AméricasDivulgação/Hospital Brasília Águas Claras/Rede Américas.

Veja a íntegra da entrevista

R7: Como é feito o diagnóstico?

Gilda Elizabeth: O diagnóstico é baseado principalmente na história clínica. É necessário conversar com o paciente, entender o que ele faz, com o que trabalha, e se teve contato com alguma substância – seja diacetil, cigarro eletrônico ou outro agente. O histórico de exposição é fundamental, porque essas substâncias podem causar bronquiolite obliterante.

R7: Qual o tratamento para a doença?

Gilda Elizabeth: Utilizamos medicamentos para reduzir a inflamação e diminuir a espessura das paredes dos bronquíolos, as vias respiratórias menores. Entre eles estão os corticoides e os broncodilatadores. Também podemos recorrer ao oxigênio e à fisioterapia respiratória. Em casos mais graves, pode haver indicação de transplante de pulmão.

R7: Quais são os grupos mais vulneráveis à doença?

Gilda Elizabeth: Pessoas que têm contato com substâncias nocivas ao pulmão, sem o uso de equipamentos de proteção adequados, e tabagistas em geral – especialmente os que usam cigarro eletrônico.

Mesmo pessoas jovens e saudáveis estão expostas a riscos sérios, como o desenvolvimento precoce de doenças pulmonares, incluindo câncer de pulmão em idade jovem.

R7: Quais os riscos do cigarro eletrônico além da bronquiolite obliterante?

Gilda Elizabeth: Além dela, o cigarro eletrônico pode causar diversas doenças graves. Uma delas é a EVALI, uma lesão pulmonar associada à inalação de vapor. Pode provocar bronquite crônica, asma induzida por substâncias químicas, hemorragia alveolar (sangramento nos pulmões) – que pode levar à morte.

Além disso, há pneumonias químicas e maior suscetibilidade a infecções respiratórias. O pulmão enfraquece, se torna mais vulnerável. Isso pode resultar em pneumonia viral, enfisema pulmonar e no temido câncer de pulmão – que muitas vezes só é descoberto tardiamente e pode levar ao óbito, inclusive em pessoas jovens e ativas.

R7: Existe alguma recomendação para o uso de cigarros eletrônicos?

Gilda Elizabeth: O uso do cigarro eletrônico não é recomendado, mesmo que seja somente em um final de semana. A gente conhece aquele velho ditado: “de grão em grão, a galinha enche o papo”. Ou seja, mesmo que a pessoa use “só de vez em quando”, aquele vapor pode corresponder ao consumo de mais de 100 cigarros – é uma quantidade enorme de substâncias, que muitas vezes a pessoa nem sabe que está inalando.

Além disso, sabemos que é comum o compartilhamento desses dispositivos entre as pessoas, aumentando o risco de transmissão de doenças, [inclusive pela via oral ou pelo contato com secreções], não somente pela fumaça. Ou seja, mesmo com uso ocasional, o dano e a lesão pulmonar podem acontecer, ainda que com menor frequência.

(Fonte: R7)



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