Procurador-geral da Venezuela acusa Lula de ser agente da CIA: ‘Não é o mesmo que saiu da prisão’
14 de outubro de 2024Chefe do Ministério Público venezuelano, Tarek Saab é aliado do presidente Nicolás Maduro, que foi declarado vitorioso na eleição em 28 de julho sob acusações de falta de transparência. Lula tem exigido a publicação das atas eleitorais para reconhecer a vitória de Maduro
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda), e o procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab – Foto: Ricardo Stuckert/Federico Parra/AFP
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, acusou o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva e do Chile, Gabriel Boric, de serem "agentes da CIA", o serviço federal de Inteligência dos Estados Unidos.
"Quem é o porta-voz que eles colocam dizendo as coisas mais bárbaras contra nosso país através dessa chamada 'esquerda'? O senhor Boric, que agora está acompanhado por Lula. Para mim, Lula foi cooptado na prisão. Essa é a minha teoria. (...) Parte dessa chamada esquerda cooptada pela CIA e pelos Estados Unidos na América Latina agora tem dois porta-vozes, Lula, que não é o mesmo que saiu da prisão, por tudo que acusou agora, não é o mesmo em nada: nem em seu físico, nem em como ele se expressa", disse Saab.
A acusação de Tarek Saab, chefe do Ministério Público venezuelano e aliado do presidente Nicolás Maduro, contra Lula é infundada e não há nenhum indício de que o presidente brasileiro tenha alguma relação dessa natureza com a CIA.
Com a fala durante entrevista à televisão estatal venezuelana, o procurador-geral reiterou críticas ao posicionamento de Lula sobre a eleição venezuelana, ocorrida em 28 de julho --o governante brasileiro exige a publicação das atas eleitorais para reconhecer a vitória de Maduro.
O presidente Maduro foi declarado vencedor da eleição na Venezuela pelo CNE, mas as atas eleitorais não foram publicadas, o que gerou protestos da oposição e da comunidade internacional, que alegaram falta de transparência. O resultado foi referendado pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano, que proibiu a divulgação das atas. (Leia mais abaixo)
O Tribunal Supremo de Justiça e o CNE venezuelanos são alinhados ao regime chavista e foram apontados como não independentes do governo Maduro e parciais por uma missão do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Saab argumentou durante o programa que Lula se elegeu apenas porque um órgão da Justiça brasileira --no caso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – validou o resultado das urnas, e que o mesmo teria ocorrido na Venezuela. O mesmo argumento também foi utilizado pelo presidente da Assembleia Nacional do país, Jorge Rodríguez. Porém, as situações não são análogas: diferentemente do que acontece na Venezuela, a eleição no Brasil foi validada por observadores internacionais.
O g1 entrou em contato com o Itamaraty para comentar a fala de Saab, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Perseguição política
Edmundo González – Foto: REUTERS/Juan Medina
A oposição de Maduro, liderada por María Corina Machado e por Edmundo González, afirmam que González venceu o presidente no pleito e que têm provas disso. Eles publicaram as atas eleitorais de cerca de 80% das urnas do país em um site --o que rendeu investigações do Ministério Público venezuelano contra os dois e um mandado de prisão contra González.
Edmundo González buscou asilo político na Espanha no início de setembro, após passar um mês escondido em meio a perseguições pós-eleição do regime Maduro. Para o presidente venezuelano, González e Corina Machado têm que estar atrás das grades. No entanto, González disse que retornará à Venezuela como "presidente eleito" para posse no dia 10 de janeiro.
No início de outubro, o Centro Carter, organização não governamental que monitora democracias e que observou a eleição na Venezuela, apresentou as atas à Organização dos Estados Americanos (OEA) e disse que Edmundo González venceu o pleito. Anteriormente, a ONU já havia indicado segurança nas atas eleitorais divulgadas pela oposição em um relatório produzido por um painel de especialistas do órgão que também observaram a eleição. Tanto os funcionários da ONU quanto os do Centro Carter tiveram que abandonar o país após as eleições.
(Fonte: g1)