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Presidente do Haiti, Jovenel Moïse, é assassinado a tiros na residência oficial

07 de julho de 2021

De acordo com primeiro-ministro interino do país, um grupo de pessoas não identificadas atirou no presidente e na primeira-dama, que sobreviveu

Presidente do Haiti, Jovenel Moïse, é assassinado a tiros na residência oficialJovenel Moïse, presidente do Haiti, assassinado a tiros na madrugada desta quarta-feira (7) – Foto: Divulgação/Agência Brasil

O presidente do Haiti, Jovenel Moïse, foi assassinado na madrugada desta quarta-feira (7), anunciou o primeiro-ministro interino do país, Claude Joseph, em um comunicado. Um grupo de homens armados teria invadido a residência oficial no bairro de Pelerin, em Porto Príncipe, atirando no presidente e na primeira-dama, Martine, que foi internada.

"Um grupo de indivíduos não identificados, alguns dos quais falavam em espanhol, atacou a residência privada do presidente da República (...) ferindo mortalmente o chefe de Estado", diz a nota, afirmando que o incidente ocorreu por volta de 1h, horário local (2h, horário de Brasília). "Todas as medidas estão sendo tomadas para garantir a continuidade do Estado e proteger a nação".

Joseph disse que está no comando do país e pediu calma à população após o ato "desumano e bárbaro", afirmando que a polícia e o Exército já têm o controle da situação – segundo a Reuters, no entanto, era possível ouvir tiros por toda a capital após o ataque. Também há relatos de que drones teriam sido usados, ao menos uma granada teria sido disparada, e homens vestidos de preto teriam sido vistos correndo pela região.

No início da semana, o presidente havia nomeado um sucessor para o cargo de Joseph, o médico Ariel Henry, que seria o sétimo primeiro-ministro em quatro anos.

Presidente do Haiti, Jovenel Moïse, é assassinado a tiros na residência oficialMédicos sem Fronteiras (MSF) informou ter fechado um hospital na capital do Haiti, Porto Príncipe, depois de ser alvo de tiros no último fim de semana – Foto: Valerie Baeriswyl/AFP

Os assassinos, segundo o jornal Miami Herald, que teve acesso a vídeos filmados na vizinhança da residência oficial, se passaram por agentes da agência antidrogas dos Estados Unidos, a DEA. Na gravação, é possível ouvir um homem com sotaque americano dizendo: "operação da DEA. Todos se afastem". Fontes no governo haitiano disseram ao veículo que se tratavam de mercenários sem vínculos com o órgão americano.

A morte de Moïse, de 53 anos, vem após meses de instabilidade política no país mais pobre das Américas. A oposição vinha exigindo desde o fim do ano passado a renúncia do presidente, com o argumento de que seu mandato deveria ter terminado em 7 de fevereiro, exatos cinco anos após seu antecessor, Michel Martelly, deixar o cargo.

As eleições de 2015 deram a vitória a Moïse no primeiro turno, mas o voto foi anulado por denúncias de fraude. Após vencer um segundo pleito organizado no ano seguinte, Moïse tomou finalmente posse em 7 de fevereiro de 2017 – a seu ver, portanto, seu mandato só terminaria em fevereiro de 2022. Ele se recusou a deixar o poder, convocando novas eleições para 26 de setembro deste ano.

Junto com as eleições marcadas para daqui a dois meses, Moïse havia convocado um controverso referendo constitucional, com o objetivo de aprovar a elaboração de uma nova Constituição – a minuta do novo texto foi redigida por uma Comissão Especial nomeada pelo próprio presidente, sem a participação de nenhum setor importante da sociedade haitiana.

Em fevereiro, as autoridades anunciaram ter frustrado uma "tentativa de golpe". Na época, 23 pessoas foram presas, entre eles um juiz da instância máxima da Justiça hatiana, e a inspetora geral da Polícia Nacional. A oposição negou qualquer intenção golpista, afirmando que pleiteava apenas um governo de transição.

Mais recentemente, a violência no país atingiu "níveis sem precedentes", segundo a ONU. Na semana passada, em um ataque coordenado, pelo menos 20 pessoas, entre elas importantes figuras da oposição, foram mortas em Porto Príncipe. Agravando ainda mais a situação, o país não vacinou até agora nenhum de seus 11,26 milhões de habitantes contra a Covid-19.

Um relatório do Fundo da ONU para a Infância (Unicef) publicado há duas semanas estima que existam hoje 95 gangues armadas que controlam grandes territórios da capital, ou cerca de um terço de Porto Príncipe. Opositores do governo acusavam Moïse de se aproveitar das gangues para permanecer no poder.

Reações internacionais

Após o assassinato de Moïse, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que o presidente Joe Biden será informado sobre o "trágico incidente" e disse que os Estados Unidos "fornecerão qualquer ajuda necessária". Críticos de Moïse acusavam Washington, o principal doador estrangeiro do Haiti, de ser demasiadamente leniente com o presidente, em troca de seu apoio à política externa americana.

O presidente da Colômbia, Iván Duque, por sua vez, fez um apelo para que a Organização dos Estados Americanos (OEA), envie com urgência uma missão para o Haiti para "proteger a ordem democrática". Em uma postagem no seu Twitter, ele disse "rejeitar o assassinato vil", classificando-o como um "ato covarde de barbaridade contra todo o povo haitiano".

A vizinha República Dominicana, por sua vez, anunciou o fechamento imediato de suas fronteiras com o Haiti e, segundo a imprensa local, o presidente Luis Abinader convocou com urgência uma reunião das lideranças militares do país. Já o premier britânico, Boris Johnson, classificou o assassinato como um "crime odioso" e pediu calma.

Histórico de instabilidade

O Haiti tem um histórico de turbulência e violência política. Depois de quase 30 anos da ditadura da dinastia Duvalier, entre 1957 e 1986, o país elegeu o ex-padre católico Jean-Bertrand Aristide, deposto dois anos depois em um golpe militar. Reeleito em 1994 e 2001, Aristide acabou fugindo do país em 2004, em meio a confrontos entre seus apoiadores e ex-militares do Exército que havia sido desmantelado após o fim da ditadura, junto com a força paramilitar da ditadura Duvalier, conhecida como Tonton Macoute.

A fuga deu início à intervenção dos capacetes azuis da ONU, sob comando de forças brasileiras. A força de paz, que teve vários formatos, permaneceu no país até 2017, sem conseguir legar uma situação estável, cenário que foi agravado pelo terremoto de 2010, quando mais de 100 mil pessoas morreram.

Valedoitaúnas (O Globo)



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