Preço dos combustíveis pode subir até 20% em novo reajuste
07 de maio de 2022Defasagem de preços da gasolina é de 17% e do diesel, de 21%
Petrobras, no Rio de Janeiro – Foto: Ivonete Dainese
Após a divulgação do lucro recorde da Petrobras, de mais de 3.000% no primeiro trimestre, o presidente da empresa, José Mauro Coelho, afirmou que a empresa vai continuar seguindo os preços de mercado como forma de "gerar riqueza para a sociedade e evitar desabastecimento de combustíveis no país".
Segundo especialistas, é alto o risco de um reajuste dos combustíveis, o que a Petrobras não pratica desde o dia 11 de março, em razão da defasagem de preços em relação aos valores cobrados no mercado internacional.
Dados da Abicom, que representa as importadores, apontam que na sexta-feira a defasagem média do diesel estava em 21% (R$ 1,27 por litro) e da gasolina, em 17% (R$ 0,78 por litro). Relatório da Modal ressaltou que há risco de novos reajustes por conta do aumento constante dessas defasagens.
Nas últimas semanas, representantes dos importadores também têm sinalizado que a defasagem de preços pode gerar falta de combustíveis em alguns locais do Brasil.
Na noite de sexta-feira, levantamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostrou que o preço da gasolina subiu pela quarta semana seguida. O valor médio do litro passou de R$ 7,283, na semana passada, para R$ 7,295, nessa semana, marcando novo patamar médio recorde no varejo. É uma alta de 0,16%.
Desde janeiro, o avanço é de 9,37% nas bombas. O preço máximo da gasolina vendida no Brasil voltou ao patamar histórico, de R$ 8,999, em Santa Catarina.
Nessa sexta-feira (6), durante apresentação dos resultados financeiras da estatal no primeiro trimestre, o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, disse que a empresa não pode se desviar da prática dos preços de mercado.
"É uma condição necessária para a geração de riqueza não só para a empresa, mas para toda a sociedade brasileira, fundamental para a atração de investimentos do país e para garantir o suprimento dos derivados que o Brasil precisa importar", disse ele.
De acordo com sua política de preços, a Petrobras transfere ao valor cobrado na refinaria flutuações nas cotações do dólar e no barril de petróleo. O repasse ao consumidor final depende ainda de outras variáveis, como margem de distribuição e impostos.
Saúde financeira
Coelho lembrou que o Brasil é importador de vários derivados como diesel, GLP (gás de botijão), gasolina e querosene de aviação (QAV). Na quinta-feira (5), antes da divulgação do resultado, Jair Bolsonaro criticou o lucro da estatal, menos de um mês após demitir o então presidente da companhia, Joaquim Silva e Luna:
"O lucro da Petrobras é maior com a crise. Isso é um crime, inadmissível".
Perguntado durante a entrevista coletiva, Coelho disse que é legítima a preocupação de Bolsonaro com o aumento de preços dos combustíveis no país.
"É legítima a preocupação do presidente da República, o presidente Bolsonaro, em relação aos preços mais elevados dos combustíveis. Essa elevação dos preços acontece em todo o mundo e é preocupação de todos os líderes governamentais. Mas, por outro lado, por dever de diligência, os administradores da Petrobras devem atuar alinhados com a atual política de preços da companhia".
Apesar da pressão de Bolsonaro, Coelho lembrou, no entanto, que “em determinado momento reajustes devem ser feitos”:
"A Petrobras não é insensível à sociedade brasileira, principalmente, em momentos atípicos, como com o conflito no Leste Europeu, que afeta os mercados de energia, em especial, o diesel. E a Petrobras, preocupada com isso, vem acompanhando os preços de mercado, não repassando essa volatilidade de imediato, mas, claro, em determinado momento reajustes devem ser feitos para que a gente mantenha a saúde financeira da companhia".
Perguntado sobre os riscos de desabastecimento, Cláudio Mastella, diretor de Comercialização e Logística da estatal, disse que a empresa vê o cenário hoje “com cautela”. Lembrou que a empresa tem reforçado a atuação em suas operações no exterior, como em Houston, Roterdã e Cingapura.
"O mercado é atendido por várias empresas. Não temos visibilidade dos demais agentes. Enxergamos com cautela o cenário atual devido aos baixos estoques de diesel nos tanques de armazenagem (no exterior), afirmou ele. “Estamos mantendo contato com as cadeias globais. Isso permite monitorar os fluxos. Buscamos antecipar risco”.
Mastella ressaltou também que aguarda “a estabilização da defasem para implementar mudanças” nos preços. Rafael Chaves, diretor de Relacionamento Institucional e de Sustentabilidade da estatal, afirmou que a Petrobras pratica preços de mercado.
"Só existem duas opções: ou é um preço de mercado, que é uma forma democrática de passar informação entre compradores e vendedores e equilibrar oferta e demanda, ou é preço tabelado. E já se viveu isso no passado no Brasil, e alguns vizinhos tentam também. E é uma solução que não funciona", afirmou ele.
Coelho defende lucro
Chaves reiterou que a estatal “defende preços de mercado”:
"É o que a legislação exige e é isso que garante a mitigação de riscos de desabastecimento de mercado. É importante que se respeite os preços do mercado".
Segundo Coelho, não há relação significativa entre os resultados da Petrobras e o reajuste nos preços dos combustíveis:
"Para se ter uma ideia, 80% dos ganhos do período foram provenientes das atividades de exploração e produção de petróleo. E apenas 20% de todos os demais segmentos. Esse é um ponto importante", disse ele, destacando a redução de custos e gestão eficiente.
Coelho defendeu o lucro da estatal, lembrando que outras petroleiras também registraram ganhos no primeiro trimestre deste ano:
"O aumento do preço do petróleo em todo o mundo se refletiu no aumento dos lucros de todas as grandes petroleiras do mundo".
O presidente da Petrobras lembrou, em sua apresentação de resultados, que a estatal vai seguir com o plano de negócios que já havia sido estabelecido pela empresa antes de sua chegada à estatal, mês passado:
"Seguiremos comprometidos e aderentes à estratégia delineada ao nosso plano estratégico".
Ao citar a ênfase no pré-sal, lembrou da continuidade na venda de ativos:
"Isso permite que outras empresas desenvolvam outros recursos".
Valedoitaúnas (iG)