Praia de naturismo do ES é opção da rota brasileira para quem quer fazer trilha pelado
03 de setembro de 2022O destino dos praticantes da filosofia fica há quase 60 quilômetros do centro de Linhares. Quem quer visitar e conhecer o local deve ficar atento às regras
Foto: Iures Wagmaker/Folha Vitória
Especulações, preconceitos e muita, muita curiosidade são as principais discussões quando o assunto é naturismo. No Espírito Santo, a Praia de Barra Seca, em Linhares, é a única oficial do estado e uma das oficiais do Brasil.
Já conhecida por muitos, o local agora está na rota daqueles que querem fazer a chamada naked hiking ou freehiking. Traduzindo literalmente, pode ser resumido como fazer trilha ou caminhar pelado.
O local fica há cerca de 60 quilômetros do centro da cidade e é preciso atravessar um rio para chegar a trilha que dá acesso à área reservada ao naturismo. Veja como chegar partindo de Vitória.
No local, há embarcações que fazem a travessia dos praticantes. Os telefones estão disponíveis em uma placa na beira do rio. A qualquer momento e em qualquer dia, um dos barqueiros podem ser acionados. O valor para ida e volta é de R$ 10 e as viagens são realizadas entre 8h e 17 horas.
Início da trilha para a praia de Barra Seca fica do outro lado do rio – Foto: Iures Wagmaker/Folha Vitória
A prática pode até ser confundida apenas com o fato de ficar nu em um determinado local. No entanto, a filosofia vai muito além do que apenas tirar a roupa.
Os praticantes definem o naturismo como a aceitação do próprio corpo sem os padrões de perfeccionismo impostos por parte da sociedade.
"Ao tirar a roupa em público, nos despimos de todos os tipos de preconceitos existentes em relação ao corpo, a posição social e ao cargo ocupado no trabalho do dia a dia. Não nos importamos com nada mais além do respeito pelo próximo e às causas da natureza, a qual preservamos de uma maneira muito consciente".
Foto: Divulgação/NatES
A declaração é de uma praticante do naturismo que, por questões pessoais, pediu para que não tivesse o nome divulgado. Ela afirma haver preconceitos dentro do núcleo familiar. No entanto, diz que todas pessoas do trabalho sabem que ela é simpatizante do naturismo, inclusive o marido, que também adere à prática.
"Como se trata de uma área onde existem vários ninhos de tartarugas, pedimos também que nos ajudem a cuidar desse espaço, tendo toda a atenção necessária até a desova. Também é orientado o cuidado com a natureza. Cuidar do lixo produzido nas dependências, levando para o continente para ser descartado em local próprio", afirma.
Os praticantes do naturismo no estado fazem parte da Congregação Naturista do Estado do Espírito Santo (Nates), ligado à Federação Nacional de Naturismo (FBRN). Por este motivo, há regras claras que devem ser cumpridas por todos que querem se aventurar à prática.
Foto: Reprodução
De acordo com os praticantes, todos são bem vindos, desde que se disponham a cumprir as regras do naturismo. No local, sempre há presença de casais héteros, solteiros ou viúvos e membros da comunidade LGBTQIAP+.
"Não temos nenhum problema com relação a gênero. O que determina a presença do indivíduo no grupo é o seu comportamento. Se chegar e quiser ficar mais isolado, nós respeitamos a privacidade do indivíduo, mas sempre convidamos a participar das conversas e a fazer as refeições conosco".
Filosofia é baseada no respeito mútuo
Para compreender a filosofia que é o naturismo, é preciso entender que há uma grande diferença com o nudismo, que seria apenas ficar nu por ficar.
"O preconceito maior é em relação ao corpo perfeito. A pessoa está fora de forma imposta pela sociedade e já acha que não consegue tirar a roupa em público. Já para quem está de fora, o pensamento é que já que estamos nus em grupo, temos que fazer sexo grupal. Quando alguém me diz isso, já peço logo para ler a filosofia e depois voltamos a conversar".
Foto: Divulgação/NatES
O naturismo é democrático e não distingue ninguém. Mas é preciso destacar que não é um momento para o desrespeito. Além de ser sinônimo de liberdade, a prática deve ser realizada com base na ética e no respeito mútuo.
"A nudez é obrigatória dentro do espaço reservado à nossa prática. Claro que existe a tolerância para adaptação com quem vai pela primeira vez. Mas, assim que a pessoa não decidir tirar a roupa, ela é convidada a se retirar, pois se entende que ela não está ali como adepta ao naturismo, mas sim para observar a nudez das outras pessoas. Isso não é permitido", disse a praticante.
Não confunda naturismo com ato obsceno
É importante ressaltar que o naturismo deve ser praticado em área específica e reservada para a filosofia. Ficar nu em outros locais abertos pode ser considerado como ato obsceno, o que é proibido no Brasil, pelo artigo 233 do Código Penal.
Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.
O advogado criminalista Vinícius Pedroni explica, no entanto, que o tema é de difícil entendimento, pois o Código Penal não especifica o que é, de fato, considerado com o ato obsceno.
"A jurisprudência tem tentado definir o que é ato obsceno, pois em razão do tipo penal está internamente ligado a valores sociais ou culturais de quando é praticado. Por outro lado, a doutrina, também tem feito sua parte, contudo, em razão da amplitude que o tema oferece, se faz necessário atuação mais objetiva por parte do de quem faz as leis em definir o que é ato obsceno e não deixar a cargo de juízes ou estudiosos da ciência", disse.
Pedroni destaca que é necessário destacar que a questão de ser ou não um crime está vinculado aos valores sociais e morais da época em que foi editado.
"A questão sobre ser crime ficar nu em uma praia comum e não ser crime fazer o mesmo em uma praia naturista, consiste no fato de que a praia onde é liberado, geralmente, tem um espaço próprio definido pelo Poder Público, para que pessoas façam essa prática", esclarece.
A NatES ressalta, ainda, que o uso das redes sociais oficiais de forma a mostrar o naturismo fora das áreas específicas para a finalidade não é bem-visto pela comunidade.
Valedoitaúnas (Folha Vitória)