Por que os nossos Bandeirante e Kombi são cobiçados pelos gringos?
17 de junho de 2021O utilitário da Toyota e o furgão da Volkswagen fabricados no Brasil estão recebendo muita procura por colecionadores e campistas no exterior
Kombi brasileira é muito procurada na Europa para fazer motorhome – Foto: Danbury/Divulgação
Em encontros de carros antigos no Brasil é comum encontrar alguns clássicos importados do exterior. Nossa legislação permite importar veículos com mais de 30 anos de idade e assim chegam diversos carros que nunca foram oferecidos aqui. Alguma vez diante de um desses antigos você já se perguntou “será que no exterior importam os nossos Opala, Corcel e Kombi para coleções?”.
O AutoPapo apurou sobre a exportação de carros antigos brasileiros e descobriu um mercado quente para dois modelos específicos: Toyota Bandeirante e Volkswagen Kombi. Outros clássicos nacionais são encontrados esporadicamente no exterior, como alguns Opala, Ouma, SP2 e Veraneio. Mas a dupla Bandeirante e Kombi possuem até empresas especializadas na importação desses modelos.
Vida de nômade
O Brasil foi o último lugar no mundo a produzir a Kombi com a configuração clássica da Volkswagen de motor traseiro. Os sucessores modernos da velha senhora adotaram motor e tração dianteiro. A nostalgia pelas antigas Kombi fez que empresas europeias importassem a van brasileira desde que estava em produção para fazer motorhomes.
Uma dessas empresas é a britânica Danbury, que importava Kmobi zero km até a produção ser encerrada em 2013. As conversões incluíam o interior com cama, uma minicozinha e armários, teto retrátil, direção hidráulica e pintura personalizada.
A empresa, hoje, trabalha apenas com a moderna Transporter, mas as Kombi brasileiras convertidas continuam bem valorizadas no mercado de usados.
Mas as exportações de Kombi não terminaram em 2013: os modelos antigos continuam ganhando a vida na Europa e nos EUA. As mais antigas, apelidadas de “corujinha,” são as mais procuradas.
As Kombi feitas na Alemanha estão se tornando raras e os preços chegam a valores altos. Com o real desvalorizado e a grande quantidade de Kombi no Brasil fizeram os estrangeiros irem atrás da van nacional como alternativa.
Demanda aumenta preço da Kombi aqui
O impacto das exportações já podem ser sentido pelos brasileiros. Em uma busca rápida por um site de vendas foram poucas as Kombi anteriores a 1976 anunciadas. E até modelos enferrujados precisando de restauração custam a partir de R$ 15 mil.
Modelos conservados ou restaurados podem passar de R$ 100 mil. Você não vai mais ver a Kombi do feirante da mesma forma agora.
Ganhando todos os terrenos nos EUA
O Toyota Land Cruiser é um utilitário idolatrado no exterior e ele foi fabricado aqui de 1968 a 2001 com o nome Bandeirante. Essa geração é conhecida pelo seu código J40 e foi produzido no Japão até 1984, quando foi substituída pelo Land Cruiser J70, no mercado até hoje.
Nos EUA o Land Cruiser J40 vendeu pouco quando novo, a época os consumidores preferiram as opções locais da Jeep, Ford e General Motors.
Hoje em dia, os SUV e jipes antigos também estão na moda nos EUA e a procura pelo J40 é maior que a demanda. Os poucos que foram vendidos quando novos foram usados em serviço pesado e poucos sobreviveram.
Uma solução encontrada pelos vendedores de antigos foi buscar os Land Cruiser de fora e o Bandeirante brasileiro agradou mais que o esperado.
Carros brasileiros são encontrados com pouca ou sem ferrugem. Versão picape cabine dupla é exclusiva do Brasil e muito desejável também. Motor diesel da Mercedes-Benz foi o mais torcudo já usado pelo J40 no mundo – Foto: Divulgação
O Bandeirante também é usado no serviço pesado no Brasil, podendo ser encontrado em fazendas até hoje. Mas aqui, o utilitário é mais bem cuidado pela falta de opção similar.
Nos EUA, esses carros são muito atacados pela ferrugem causada pelo sal jogado nas estradas em época de neve. Como isso não acontece no Brasil, os Bandeirante costumam ter estrutura em bom estado.
A mecânica do Bandeirante é um diferencial exclusivo do Brasil que atrai muito os estrangeiros. Enquanto o modelo japonês vendido nos EUA vinha apenas com motores a gasolina, o Bandeirante foi produzido com motor diesel Mercedes-Benz até ser trocado por um motor diesel mais atual da Toyota em 1994. Os motores Mercedes são projetos feitos para caminhões, portanto esbanjam torque e são bastante duráveis.
Outra exclusividade do Bandeirante é a versão picape com cabine dupla, configuração criada no Brasil. O estilo diferente do Bandeirante, com faróis quadrados adotado em 1989, também atrai os estadunidenses por se destacar dos outros J40.
O mercado desses carros lá fora
No site de leilões Bring a Trailer, unidades do Toyota Bandeirante já foram arrematadas por valores entre 21 mil dólares e 50 mil dólares (R$ 107.104 e R$ 252.010 respectivamente em conversão direta). Bastante acima da média de valores desses utilitários no Brasil, mas ainda assim abaixo da média dos Land Cruiser J40 japoneses arrematados.
Segundo o site Classic.com, que possui uma ferramenta que calcula a média de preço de antigos nos EUA, o Bandeirante vale em média 40.125 dólares (R$ 202.238) no país.
Kombi brasileira ano 71 foi leiloada no estado da Geórgia por quase R$ 300 mil. A Kombi foi modificada para parecer com a rara Samba Bus fabricada na Alemanha – Foto: Divulgação
Os valores da Kombi brasileira são mais difíceis de serem rastreados por estarem agrupados com os da Kombi alemã. Mas pesquisando pelos leilões passados do Bring a Trailer, podemos ter uma noção dos valores que nossas “Kombosas” são comercializados: o menor preço encontrado foi 15,5 mil dólares (R$ 78.123) e o maior foi de 56 mil dólares (R$ 282,251) em uma Kombi brasileira modificada.
Valedoitaúnas/Informações UOL/Auto Papo