Cleber exibe a placa de Conceição da Barra, na Antártida – Foto: Divulgação

Primeiro-Sargento da Marinha do Brasil, Cléber dos Reis da Silva, filho ilustre de Conceição da Barra, instala placa com nome da cidade, em um totem na Antártida onde trabalha há três meses, na Estação Antártica Comandante Ferraz. Um voo que ele alçou com garra e coragem, amparado pelo amor e educação que os pais proporcionaram, desde os tempos em que ele era apenas um vendedor de picolé e coco nas praias, para ajudar a família. Uma respeitável história de vida que ele pretende contar para jovens, adolescentes e crianças, como inspiração de foco, força e uma dose generosa de determinação

Bandeira Brasileira asteada na Estação Comandante Ferraz – Foto: Divulgação

Quando o menino, um vendedor de picolé e coco, caminhava pelas praias de Conceição da Barra oferecendo os seus produtos aos turistas e veranistas e ao longe contemplava os navios e fragatas, jamais imaginaria que um dia pudesse conhecer e viajar em um daqueles gigantes do alto mar. Afinal, ele era apenas um garoto sonhador, filho de uma família humilde, de pai pescador e a mãe, uma dona de casa, do bairro Bugia.

E o garoto de pés descalços, que andava pelas areias quentes, sob o sol do verão da Barra, acreditou nos seus sonhos, não se intimidou com os obstáculos da vida, concluiu seus estudos e se tornou sargento da Marinha do Brasil; um fato quase comum, se por força das circunstâncias ele não tivesse que trocar os quase 40 graus do  verão de Conceição da Barra, para dedicar um pouco da sua vida e do seu trabalho na Estação Antártica Comandante Ferraz, uma base militar e de pesquisa científica, construída pelo Brasil, na Antártida.

Foto: Divulgação

Essa é apenas parte de capítulos da história do Primeiro Sargento da Marinha, Cléber dos Reis da Silva, que ao longo dos últimos anos vem realizando sonhos jamais imaginados. Tudo isso, porque acreditou e focou nos seus objetivos. Filho do pescador aposentado, Sebastião Honorato da Silva e da Agente de Saúde, dona Vitalina dos Reis da Silva, Cléber lembra com orgulho da infância humilde passada no bairro Bugia e das vendas de picolé e coco nas praias de Conceição da Barra.

“É um trabalho que me dignificou e ajudou a construir o meu caráter. Tenho orgulho disso”, comentou o sargento, que ultrapassou os limites da praia, deixou a caixa de picolé e o carrinho de coco e foi em busca do seu ideal de vida. Com o apoio dos pais, Cléber concluiu o Ensino Médio e em seguida conseguiu um estágio na Caixa Econômica Federal, até ser aprovado no concurso da Marinha do Brasil, onde entrou para a Escola de Aprendizes de Marinheiro, em Santa Catarina.

Experiências marcantes na gelada Antártida, onde o sargento está há três meses – Foto: Divulgação

O sargento se especializou em combate a incêndios e trabalha também na marcenaria, considerado uma das áreas importantes dentro da instituição. Atualmente ele faz parte do Comando do Sétimo Distrito Naval e já atuou também na Força de Submarino e na Base Aérea Naval São Pedro da Aldeia, no Estado do Rio de Janeiro.

E justamente por dominar as áreas de combate a incêndios e marcenaria que ele foi convidado pelo comando da Marinha, em Brasília, para compor um grupo de 16 militares, para dar suporte na inauguração da nova Estação Comandante Ferraz. São Sargentos das áreas de elétrica, marcenaria e manutenção da base, para apoio aos pesquisadores nas mais diversas áreas.

O Brasil possui uma das mais modernas Estações de pesquisa, atrás apenas dos EUA – Foto: Divulgação

“O Brasil possui uma das mais modernas estações de pesquisa, atrás somente dos Estados Unidos, em tecnologia. São 17 laboratórios que levam informação nas mais diversas áreas, como a medicina, meteorologia, cosmética, biologia, micro biologia, entre outras. E a Marinha está lá, prestando todo esse apoio”, destacou o sargento.

Aos 42 anos, Sargento Cléber afirma que já realizou grandes sonhos. Um deles aconteceu em 2014, quando ele viajou por 18 países a bordo do Navio Escola Brasil, na chamada Viagem de Ouro. Por tudo isso, ele ainda se surpreende com tudo o que vem acontecendo em sua vida.

Cléber: “Não esperava chegar onde cheguei” – Foto: Divulgação

“Confesso que eu não esperava chegar onde cheguei. Aqui o nosso trabalho é rotineiro, árduo e privado de muitas coisas, principalmente o convívio com a família e amigos. Mas, apesar disso, tenho vivido momentos intensos e maravilhosos na minha vida. Sou o primeiro e único barrense a pisar aqui. Por isso, o privilégio de poder fazer essa homenagem para Conceição da Barra, colocando a placa com o nome da cidade para deixar marcada a minha história aqui e a minha gratidão pela Barra. Quero que ela sirva também para, no futuro, mostrar à garotada que todos podem chegar onde eu cheguei, assim como grandes amigos meus, que são médicos, advogados, dentistas e empresários. Basta determinar. E é isso que eu quero passar para eles”, comentou.

“Sou o primeiro e único barrense a pisar aqui e tenho orgulho de fazer essa homenagem à Barra” – Foto: Divulgação

Orgulho da família Reis

Os pais, Sebastião Honorato da Silva (67) e dona Vitalina dos Reis da Silva (63) não escondem o orgulho do filho, que um dia deixou a pacata e bucólica Conceição da Barra para ir em busca dos seus sonhos.

Dona Vitalina e o senhor Sebastião Honorato – “Ele está feliz e nós também” – Foto: Divulgação

“No começo a gente ficava muito ansioso, sabendo que ele estava em um local gelado, distante de tudo e de todos. Mas todos os dias nós nos falamos e eu percebo em sua voz a felicidade dele em estar realizando esse trabalho. Então, ele está feliz e nós também”, comentaram.

Dona Vitalina acrescenta que desde criança o filho sempre se virou nas mais diversas situações. “Nada o prende. Além de muito simpático e educado, ele é fácil de fazer amizades”, disse. No entanto, ela faz questão de acrescentar que todos os filhos só lhe trouxeram alegria.

E não podia ser diferente. Além do Sargento Cléber, o casal teve mais três filhos. Clenildo dos Reis da Silva (suboficcial da Marinha), Clenilson  dos Reis da Silva (professor de Matemática na Rede de Ensino municipal de Conceição da Barra), além de Bruna dos Reis da Silva (falecida há 16 anos).  “Fui uma mãe abençoada pelos meus filhos. Somos felizes por causa deles”, declarou.

Pesquisas científicas no continente gelado

Considerado o continente mais gelado do hemisfério sul, onde a temperatura pode despencar para até 30 graus abaixo de zero, de acordo com a época do ano e as variações climáticas, a Antártida é um celeiro de pesquisas em diversas áreas.

É lá que está a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), uma base que pertence ao Brasil, localizada na ilha do Rei George, a 130 quilômetros da Península Antártica, na baía do Almirantado, na Antártida.

Foto: Divulgação

A Estação começou a operar no dia 6 de fevereiro de 1984, levada à Antártida, em módulos, pelo navio oceanográfico Barão de Teffé e diversos outros navios da Marinha do Brasil. Porém, no dia 25 de fevereiro de 2012 ela foi parcialmente destruída por um incêndio, após explosão sem causa definida na Praça das Máquinas, onde ficavam os geradores de energia. Durante o incêndio, um suboficial (Carlos Alberto Vieira Figueiredo) e um primeiro-sargento (Roberto Lopes dos Santos) morreram.

O nome da estação homenageia Luís Antônio de Carvalho Ferraz, um comandante da marinha brasileira, hidrógrafo e oceanógrafo que visitou o continente antártico por duas vezes a bordo de navios britânicos. Ferraz desempenhou importante papel ao persuadir o Brasil a desenvolver um programa antártico (o PROANTAR).

Sargento Cléber e o Ministro da Ciência e Tecnologia, astronauta Marcos Pontes, durante inauguração da Estação Comandante Ferraz, no dia 16 de janeiro de 2020 – Foto: Divulgação

A nova Estação foi inaugurada no dia 16 de janeiro passado, oito anos após o incêndio, em solenidade que contou com a presença de diversas autoridades, entre elas, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão e o Ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes.

Sargento Cléber, ao lado da presidente da Estônia, Kersti Kaljulaid, quando ela visitou a Estação Comandante Ferraz, no dia 27 de janeiro – Foto: Divulgação

Uma homenagem do sargento Cléber para Conceição da Barra – Foto: Divulgação

Valedoitaunas/Informações do Portal Costa do Sol