Peru mais caro e inflação mudam ceia do Natal: Veja opções
12 de dezembro de 2021Supermercados reforçam estoque e restaurantes oferecem substituição no menu para quem busca ceia mais em conta
Ceia de Natal inflacionada – Foto: Reprodução/ACidade ON
No ano da inflação dos dois dígitos, carnes de porco e de frango devem se tornar as protagonistas do cardápio de Natal. Com a queda no preço do pernil suíno, de 1,27% em 12 meses, o produto ganhou ainda mais espaço na gôndola dos supermercados e passou a ocupar lugar de destaque nos menus de restaurantes que oferecem a ceia pronta. Para fazer a festa caber no orçamento, eles podem desbancar pratos tradicionais da data, como peru e bacalhau.
Atentos ao comportamento dos preços, alguns supermercados revisaram sua estratégia comercial. No Supermarket, a gerente de Marketing da rede, Patricia Bahia, conta que já são oferecidos combos com aves e nas próximas semanas serão vendidos combos promocionais com carne de porco:
"Em 2021, compramos uma quantidade maior de porco, pois está mais barato que outros cortes de carne. Também compramos quantidade maior de aves natalinas, pois teremos mais festas de fim de ano e comemorações com o avanço da vacinação".
A rede supermercadista Condor Super Center, com atuação no Paraná e em Santa Catarina, comprou 16% a mais de suínos neste ano e está com promoções de carne de porco. Para o Ano Novo também serão vendidos combos especiais.
Em Petrópolis, uma rede está com festival de carnes suínas pelos próximos dias, com cortes que incluem costelinha, toucinho de barriga, lombinho e pernil com ou sem osso.
O movimento não é à toa. O lombo subiu 4,36% em 12 meses, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor - Disponibilidade Interna (IPC-DI) da Fundação Getúlio Vargas. Foi bem menos que outros produtos, inclusive o frango, que ficou 24,28% mais caro no período.
Ainda assim, a escalada foi menor que a do chester, que subiu 33% em um ano, segundo levantamento da Universidade de Taubaté.
No terceiro trimestre, houve recorde no abate de suínos no país, chegando a 13,72 milhões de suínos, segundo dados do IBGE, uma alta de 4,5% em relação ao período de abril a junho.
"Nesse Natal ainda vamos sentir o reflexo da inflação de alimentos que vimos desde o ano passado, sendo impactada por custos advindos de problemas climáticos e de câmbio, principalmente nas aves", avalia Matheus Peçanha, economista do Ibre/FGV.
Para quem não abre mão da tradição ou esperou o ano inteiro para comer a iguaria preferida, o jeito será moderar o apetite e reduzir as porções. Segundo Bruno Machado, pesquisador da Kantar, consultoria especializada em varejo, a receita do Natal deste ano deve ser baseada em carne suína, peixe ou pratos menores:
"A ceia também não será tão elaborada, vem mais simples. E carnes suína, como a linguiça, e peixes vão ganhar espaço".
No SuperPrix, a diretora da rede Viviane Areal, diz que aposta na variedade maior para atender quem busca as aves e produtos tradicionais em porções menores ou cortes diferentes:
"No mix de carnes suínas mantemos os melhores cortes, mas teremos proporções maiores de porções prontas menores e cortes mais baratos".
Oportunidade de negócio
A comerciante Leidiane Mesquita, de 31 anos, costumava comprar a ceia completa, com peru, tender, rosbife e acompanhamentos. Neste ano, porém, decidiu que o melhor para o orçamento era experimentar novos sabores. Decidiu encomendar lombo e frango à Pequim (agridoce) da chef Renata Monteiro, do restaurante Lamen Hood.
"Pesquisei nos lugares onde pedi ceia antes e está tudo muito caro. Perguntei à Renata, de quem sou cliente, se ela podia fazer estes pratos e, para minha surpresa, ela disse que venderia estas carnes no Natal", disse Leidiane.
A chef percebeu a oportunidade de negócios diante do aumento de preços de carnes tradicionais de Natal e agora tem expectativa de faturamento maior neste fim de ano:
"Em anos anteriores, eu só fazia sob encomenda, mas quando vi ceia com tender e fraldinha a R$ 2,7 mil para quatro pessoas vi uma oportunidade".
Outra adaptação foi trocar a sobrecoxa pelo frango inteiro porque é mais em conta e pela aparência:
"Fica bonito na mesa, lembra o chester ou peru. A porção de lombo, com 500 gramas, custará em torno de R$ 70 e o frango à Pequim, com 3,5 quilos, R$ 120".
Dona do Bistrô da Rê, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, Regina Lopes conta que mudou o cardápio para não perder clientes:
"A carne de boi está muito cara, então comecei a preparar pratos usando carne suína, como rocambole de porco".
O chef holandês Mark Kwaks, de 56 anos, do restaurante Ziti&Co, que fica no Downtown, na Zona Oeste, diz que, após 20 anos no país, só agora viu um aumento da procura por carne de porco:
"Fora a costela de porco, há outros cortes bons que são encontrados no supermercado, como filé mignon de porco, lombo de porco, barriga de porco".
Ainda na linha substituições, o bacalhau norueguês parece ter ganhado um rival tupiniquim, o pirarucu. Alguns supermercados reforçaram as compras, de olho em quem busca fazer substituições no menu. A dona da Peixaria Divina Providência, Manuela Ornelas, começou a dar dicas na internet de como preparar o peixe nativo da Amazônia, que sai por R$ 60 o quilo. O bacalhau tem preço de R$ 140 o quilo.
Valedoitaúnas (iG)