Pandemia da gripe Hong Kong com mais de 1 milhão de mortos aconteceu entre 1968 e 1970
19 de maio de 2020Profissionais trabalhando de máscara nos EUA em 1969 – Foto: © Getty Images
A crise do novo coronavírus parece sem precedentes, mas a verdade é que de quando em quando a humanidade se vê diante de pragas, epidemias e pandemias capazes de nos ameaçar. Algumas, pela própria dimensão, tornaram-se históricas e paradigmáticas, como a chamada Gripe Espanhola nos anos entre 1918 e 1920 – que ceifou a vida de cerca de 50 milhões de pessoas – mas outras duas epidemias, menos lembradas mas com imenso impacto, marcaram a segunda metade do século passado, é a chamada Gripe de Hong Kong, ocorrida entre 1968 e 1970. Foi a última pandemia de gripe do século XX e levou a vida de mais de 1 milhão de pessoas como.
Em meio ao fervor da Guerra do Vietnã, da luta pelos direitos civis, da corrida espacial pela chegada à lua e da ferrenha disputa entre EUA e Rússia na Guerra Fria, a terceira grande crise de gripe no século XX foi primeiro identificada em Hong Kong, mas rapidamente chegou no Reino Unido, na França, na Alemanha e nos EUA – país onde mais de 100 mil mortes foram registradas.
Pela falta de medidas extraordinárias tomadas pelos governos, e pela ideia equivocada de se tratar de um mal que só ameaçava idosos ou pessoas com comorbidades, a chamada Gripe de Hong Kong foi especialmente letal, mas acabou esquecida: nenhuma quarentena foi decretada, e a pandemia acabou esquecida, apesar das mais de 1 milhão de mortes.
O vírus H3N2 visto em microscópio – Foto: © Wikimedia Commons
Entretanto, a pandemia não está esquecida para quem a enfrentou de perto: além dos 100 mil estadunidenses mortos pelo vírus H3N2, foram 30 mil franceses e mais de 60 mil britânicos mortos por conta da epidemia.
O esquecimento sobre tal crise faz com que hoje se repitam erros da época: ainda que as recomendações tenham sido as mesmas, o fato das cidades não terem fechado seus espaços públicos e imposto quarentenas ajudou muito no elevado número de mortes.
Para se ter uma medida do contexto em que a pandemia se deu, o Festival de Woodstock, reunindo mais de 400 mil pessoas no estado de Nova York, aconteceu durante o mesmo período.
“A gripe de Hong Kong é antiamericana! Pegue algo feito nos EUA”, dizia um complicado outdoor à época nos EUA – Foto: © Getty Images
Hoje, abandonado o hábito de batizar os vírus a partir do lugar de sua primeira identificação, a fim de evitar descriminações, e o vírus H3N2 segue circulando e nos ameaçando como o mais problemático tipo do vírus de Influenza.
No planeta, com ressurgimentos numerosos ocasionais – muitos acreditam que esse será o destino do Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19.
Mas esquecer das epidemias do passado é o início da fórmula para tornar as epidemias por vir ainda mais fatais e recorrentes: quanto mais cedo adotar medidas de controle e de contenção de danos, menos grave será a pandemia, e quanto menos esquecer do passado, melhor lidarão com o futuro – sempre.
Clínica atendendo pacientes da doença em Hong Kong em 1968 – Foto: © SCMP
Valedoitaúnas/Informações R7