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Padre famoso investigado por lavagem de dinheiro tinha prejuízo nas negociações

23 de agosto de 2020

Robson de Oliveira Pereira negociava por meio da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), em Trindade, Goiás

Padre famoso investigado por lavagem de dinheiro tinha prejuízo nas negociaçõesRobson ficou famoso por celebrar missas na TV e por ser líder da Basílica do Pai Eterno, em Trindade – Foto: Reprodução

O padre celebridade Robson de Oliveira Pereira, de 46 anos, está sendo investigado pelo crime de lavagem de dinheiro em transações imobiliárias. De acordo com o Ministério Público de Goiás (MP), um aspecto em especial chamou a atenção dos promotores: todas as negociações imobiliárias sempre resultaram em prejuízo para a instituição criada pelo padre.

As negociações eram realizadas por meio da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade criada e presidida por Robson. Ele é apontado como líder de uma organização que desviava dinheiro doado por fiéis.

O MP menciona, por exemplo, o caso de um terreno situado na cidade de Trindade, cidade onde está a Basílica do Pai Eterno - paróquia sob o comando de padre Robson que se tornou destino de romaria de peregrinos católicos, situada a 23 km de Goiânia.

Em 2010, a instituição criada por padre Robson adquiriru o terreno de 3,2 mil metros quadrados que pertencia ao Governo do Estado de Goiás por R$ 485 mil. Quase uma década depois, em fevereiro de 2019, o terreno foi repassado à empresa KD Administradora de Bens pelo mesmo valor.

Corrigido pela inflação do período, o valor do imóvel estaria avaliado, no mínimo, em R$ 820 mil na data da transferência para a KD Administradora de Bens. O Ministério Público cita a negociação como exemplo de uma operação de lavagem de dinheiro.

De acordo com o MP, a KD Administradora de Bens negociou “dezenas de imóveis” com a Afipes que, em todos os casos, representaram “evidente prejuízo” para a entidade comandada por Padre Robson.

Na decisão da juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais, a KD Administradora de Bens negociou “dezenas de imóveis” com a Afipes que, em todos os casos, representaram “evidente prejuízo” para a entidade comandada por Padre Robson. A magistrada autorizou a realização de busca e apreensão contra os investigados nesta sexta-feira (21).

A KD Administradora pertence a Douglas Reis, dono da maior rede de postos de combustíveis em Goiás, a Kurujão.

O documento aponta ainda um outro indício da prática de crimes de apropriação indébita, organização criminosa, lavagem ou ocultação de bens e dinheiro.

A KD Administradora de Bens utiliza os serviços da mesma empresa de contabilidade que cuida das contas da Afipe: a Auditec.

O MP sustenta que a Auditec montou todo o arcabouço de empresas e pessoas físicas no entorno do padre Robson para conseguir regularizar as questões administrativas e fiscais da associação.

Investimento

Padre Robson é suspeito de chefiar uma organização criminosa que desviou R$ 60 milhões doados pelos fiéis. De acordo com o MP, os recursos provenientes de doações foram utilizados para a compra de fazendas, apartamentos e até mesmo de uma casa na Praia de Guarajuba, na Bahia.

A defesa do pároco alega que a Afipe realizou as transações como uma forma de investimento e justificou que os rendimentos são integralmente aplicados na entidade.

“A questão toda era: vou manter todos os recursos que eu recebo dos meus fiéis no banco, com taxa selic de 2% ao ano ou vou fazer aplicações em outros mercados e ter rendimentos maiores?”, disse o advogado Klaus Marques, que representa a Afipe.

Ponto de partida

As investigações começaram depois que o padre Robson foi vítima de extorsão, em 2017. Na ocasião, ele teve computador e celular hackeados e passou sofrer chantagem. Os criminosos pediram dinheiro “para que não divulgassem imagens e mensagens eletrônicas com informações pessoais, amorosas e profissionais que levassem a prejudicar sua imagem”, segundo o MP.

O padre chegou a transferir mais de R$ 2 milhões das contas bancárias da Afipe para a quadrilha que praticava extorsão. O grupo criminoso foi condenado em 2019, mas o uso do dinheiro da associação para fins pessoais chamou a atenção do MP.

Os promotores também utilizaram dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) para verificar como o dinheiro doado por fiéis era usado em proveito dos investigados.

Valedoitaúnas/Informações iG



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