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Nomeação de Mendonça abre espaço para evangélicos dominarem Três Poderes

02 de maio de 2020

Nomeação de Mendonça abre espaço para evangélicos dominarem Três PoderesMinistro André Luiz Mendonça da Advogacia-Geral da União (AGU) – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Com influência política garantida no Executivo e no Legislativo, religiosos buscam agora controlar Judiciário, analisa a pesquisadora Brenda Carranza.

O anúncio de André Mendonça, um nome “terrivelmente evangélico”, para chefiar o Ministério da Justiça consolida mais um passo do segmento religioso no sentido de levar sua influência às três esferas do Poder. Quem faz a análise é a pesquisadora Brenda Carranza, doutora em Ciências Sociais e professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Mendonça, doutor em Direito e servidor de carreira da Advocacia-Geral da União (AGU), foi anunciado como novo ministro da Justiça em publicação no Diário Oficial da União (DOU) na última terça-feira (28). Ele substituiu o ex-juiz federal Sérgio Moro – cuja saída sob acusações de interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal mexeu com o tabuleiro da política, na semana passada, e também com a popularidade do presidente, inclusive entre os evangélicos.

Em 2019, perguntado sobre quem seria indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) com a aproximação das aposentadorias dos ministros Celso de Mello e Marco Aurélio Mello, Bolsonaro não citou nomes, mas declarou que o próximo ministro da Corte seria um “terrivelmente evangélico”, em suposta menção a Mendonça, que é pastor na Igreja Presbiteriana Esperança, em Brasília.

Mendonça assumiu o comando da AGU no início do governo Bolsonaro e passou a ser uma das principais referências jurídicas da bancada evangélica, participando de congressos como o da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), organização que faz lobby por “valores cristãos” no Judiciário. Ele aparece inclusive como conferencista do próximo congresso da Associação, que estava marcado para maio deste ano.

A nomeação de um nome amigo da Anajure vem após nota divulgada pela associação em repúdio a “interferência do presidente da república na direção-geral da polícia federal”. Moro também era muito próximo da Anajure, participando de conferências e, mais recentemente, de lives promovidas pela associação.

Em entrevista à Agência Pública, a professora da PUC Brenda Carranza afirma que o anúncio do novo ministro mostra um aceno de Bolsonaro ao cumprimento das promessas feitas aos evangélicos, grupo que será fundamental, na análise de Carranza, para manter a coesão e governabilidade do governo no Congresso Nacional.

Mais do que isso, a nomeação do novo ministro da Justiça representa um passo do grupo religioso rumo à ocupação dos três poderes. O Legislativo viu o aumento expressivo de visibilidade da bancada da Bíblia em 2016; a influência no Executivo foi cravada com a eleição de Bolsonaro. E, agora, a busca dos evangélicos é pela influência no Judiciário.

Mesmo que a pasta chefiada por Mendonça esteja dentro do âmbito do Executivo, a substituição de Moro deixa o advogado evangélico mais próximo, segundo ela, das vagas no STF até então aventadas pelo ex-ministro. A nomeação de Mendonça é fundamental para um projeto que “consolidando a imagem de que o Brasil é cristão”, diz a professora.

“Essa é a proposta de uma direita cristã: o aparelhamento do Estado, onde a moralidade cristã e os comportamentos e costumes sejam os inspiradores de legislações, políticas públicas que atendam a sua maioria societária, resume.

Valedoitaúnas/Informações iG



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