Noiva “se casa” sozinha após parceiro morrer um mês antes da data
03 de fevereiro de 2024Lívia Costa decidiu usar o vestido de noiva e fazer fotos mesmo após a morte do companheiro que esperava por um transplante de coração
Foto: Paulo Viana/Acervo pessoal
“Nossa história foi muito intensa, tudo de bom e de ruim nos aconteceu rápido demais”, diz a comunicadora Lívia Costa, de 37 anos. É com essa frase que ela começa a contar a história de amor que viveu com o chefe de cozinha Harry Lopes, de 40 anos.
Harry morreu de insuficiência cardíaca um mês antes da data planejada para o casamento dos dois. O problema cardíaco surgiu por causa de uma desnutrição crônica, que ele passou a sofrer após a realização de uma cirurgia bariátrica.
A falta de vitaminas era tão grave e vinha se arrastando há tanto tempo que trouxe consequências irreversíveis para o coração de Harry. “Nos momentos finais, quando ele estava na UTI, Harry teve seis paradas cardíacas, mas voltou de todas. Era um apaixonado pela vida”, conta Lívia.
Lívia e Harry se conheceram em 2020, durante a pandemia – Foto: Acervo pessoal
Amor intenso
A história de Harry e Lívia começou em junho de 2020, no meio da pandemia de Covid. O casal de Porto Velho (RO) se conheceu pelas redes sociais e tiveram o primeiro encontro no aniversário dela, em julho, após ambos realizarem testes de Covid.
“Um dia depois de eu ter negativado para Covid, ele chegou na minha casa com bolo, refrigerante e cantando parabéns. Desde então, a gente não se largou mais. Começamos a morar juntos no dia 10 de agosto de 2020. Tudo foi muito intenso”, lembra Lívia.
Durante três anos, o chefe de cozinha e a comunicadora viveram uma relação que ela resume como “plena e tranquila”, até que os sintomas do problema de saúde do companheiro começaram a se manifestar. Ele passou a ter arritmia cardíaca, com os batimentos do coração acelerando sem motivo aparente.
“Ele chegou a pensar que era ansiedade porque estávamos construindo a nossa casa, mas decidiu investigar com o cardiologista. Foi quando descobrimos que ele tinha uma complicação pós-bariátrica grave”, conta Lívia.
Falta de minerais
Harry havia feito uma cirurgia bariátrica bem antes de conhecer Lívia, no início dos anos 2000. A técnica usada pela equipe médica foi a bariátrica de Scopinaro, que altera a configuração do sistema digestivo e leva à perda de peso por causa da má-absorção de alimentos. Atualmente, o método praticamente entrou em desuso por conta de suas complicações.
Para evitar esse efeito colateral da cirurgia, Harry tomava suplementos de vitaminas, especialmente A e D. Ele, no entanto, descuidou dos exames de acompanhamento e acabou tendo deficiências de selênio, cobre, potássio e B1.
Segundo o cardiologista Ricardo Cals, do Hospital Santa Lúcia Norte, de Brasília, embora pouco frequentes, as deficiências de vitaminas e minerais podem afetar o funcionamento do coração.
“Há hipovitaminoses (carências de vitaminas) que podem ser extremamente prejudiciais ao coração, especialmente a falta de cobre ou de potássio. Em geral, a reposição ajuda os pacientes, mas para quem já tem uma condição cardíaca de maior gravidade, o desequilíbrio pode ser irreversível”, comenta o médico.
Últimas tentativas
Quando Harry resolveu investigar seu estado de saúde, a situação já era muito grave. Ele foi imediatamente colocado na fila para um transplante de coração, mas teria de reverter a bariátrica antes de receber um novo órgão.
O quadro dele piorou rapidamente e o casal decidiu se mudar para São Paulo na tentativa de ampliar as chances de tratamento. Lá mesmo, ainda na primeira internação, Harry pediu Lívia em casamento.
“Ele chamou a médica que cuidava dele na UTI, a equipe de enfermagem, e me pediu em casamento na frente de todos”, relembra.
Quatro meses depois, ele recebeu alta e os dois retornaram para Porto Velho. A saúde de Henry não estava perfeita, mas ele voltou a dirigir e a tocar os projetos que amava, especialmente o de terminar a construção da casa dos dois.
Também começaram a planejar o casamento, juntos eles escolheram o cardápio da recepção, o destino da lua de mel e as roupas que iriam usar na cerimônia.
Os dois ficaram três anos juntos e já estavam construindo uma casa para a família – Foto: Acervo pessoal
Promessa a ser cumprida
O casal havia marcado o casamento para 25 de novembro de 2023. Em 7 de outubro, Harry precisou ser internado devido a uma piora. “Estávamos nos preparativos finais da casa. Antes de ser internado, ele escolheu a cor que queria para as paredes, também havíamos decidido os locais onde iríamos tirar as fotos do nosso casamento”, lembra Lívia, entre lágrimas.
Antes de ser internado na UTI, Henry fez a futura mulher prometer que seguiria a vida se ele partisse. “Ele me fez garantir que eu realizaria todos os sonhos que eram nossos”, conta. Segundo ela, as palavras foram: “Você vai terminar a nossa casa, vai fazer as nossas fotos, vai para a nossa viagem de lua de mel e eu vou continuar do teu lado, não importa o que aconteça'”.
Três dias de Lívia fazer a promessa, ele morreu. Para ela, até hoje ainda é difícil colocar em palavras a sensação de desamparo que ficou.
Foto: Paulo Viana/Acervo pessoal
Noiva em recuperação
“Há três coisas que me sustentam: minha fé em um reencontro além da vida. As nossas famílias, que se tornaram uma só, e as palavras dele, na nossa última conversa”, declara.
Uma das promessas foi cumprida exatamente um mês depois do falecimento: Lívia fez as fotos do casamento vestida de noiva nos locais que eles tinham decidido juntos.
O momento foi uma mistura de amor e de saudade. Acompanhada de parentes, incluídas a mãe e a sogra, Lívia andou pelas ruas de Porto Velho celebrando a memória do relacionamento dos dois. “Essa sessão de fotos para mim foi como me casar com ele, chorei várias vezes. Ao estar ali com as nossas famílias me amparando e levando o nosso sonho adiante, senti a presença do Harry”, relata.
(Fonte: Metrópoles)