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Na ONU, Bolsonaro cita temas de campanha, ataca governos petistas e defende pauta conservadora

20 de setembro de 2022

Por tradição, chefe da delegação do Brasil discursa primeiro na Assembleia da ONU. Candidato à reeleição, presidente também citou ações na pandemia e defendeu cessar-fogo na Ucrânia

Na ONU, Bolsonaro cita temas de campanha, ataca governos petistas e defende pauta conservadoraPresidente Jair Bolsonaro discursa na abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU – Foto: Reprodução/TV Brasil

O presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou nesta terça-feira (20) na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA). Em um pronunciamento de 20 minutos, abordou temas de campanha, fazendo um balanço das ações de seu governo, atacou as gestões petistas e defendeu itens da pauta conservadora.

Por tradição, desde 1955, o Brasil é o primeiro país a discursar na abertura da Assembleia da ONU (veja detalhes abaixo). Antes de Bolsonaro, discursaram nesta terça o secretário-geral da entidade, Antonio Guterres, e o presidente da assembleia, Csaba Korosi.

Candidato à reeleição, Bolsonaro aproveitou o discurso na ONU para citar ações como a criação do Auxílio Brasil; a redução de impostos que levou à queda do preço dos combustíveis; e privatizações de empresas estatais.

Na ONU, Bolsonaro cita temas de campanha, ataca governos petistas e defende pauta conservadora'No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país', diz Bolsonaro durante discurso na ONU – Foto: Reprodução

Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Lula (PT), Bolsonaro atacou gestões petistas e disse que o governo acabou com a "corrupção sistêmica" que, para ele, existia no país, citando as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras, reveladas pelas investigações da operação Lava Jato.

"No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente entre o período de 2003 a 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político e em desvios chegou à casa dos US$ 170 bilhões. O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade. Delatores deveram US$ 1 bilhão de dólares e pagamos para a Bolsa americana outro bilhão por perdas de acionistas. Este é o Brasil do passado", declarou Bolsonaro.

Durante as investigações da Lava Jato, o ex-presidente Lula foi condenado em primeira e em segunda instâncias. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou diversos recursos apresentados pelo petista, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou todas as condenações de Lula e considerou que o então juiz Sérgio Moro atuou com parcialidade.

Esta é a quarta vez que Bolsonaro discursa na Assembleia Geral da ONU. Em 2020, o evento foi virtual em razão da pandemia, e o presidente enviou um vídeo gravado. Em outras ocasiões, os discursos foram marcados pela defesa da soberania brasileira na Amazônia e por fake news sobre a Covid.

Guerra na Ucrânia

Durante o discurso desta terça, Bolsonaro citou a guerra na Ucrânia, se referindo ao tema como "conflito", e defendeu que haja um "cessar-fogo imediato". Bolsonaro jamais condenou a invasão do país, determinada pelo presidente russo Vladimir Putin.

Em fevereiro, por ordem de Putin, tropas russas invadiram cidades ucranianas, matando civis e militares, bombardeando áreas residenciais e destruindo comunidades inteiras.

"Diante do conflito em si, o Brasil tem se pautado pelos princípios do direito internacional e da Carta da ONU. Princípios que estão consagrados também na nossa Constituição. Defendemos um cessar-fogo imediato, a proteção de civis e não-combatentes, a preservação da infraestrutura crítica para assistência à população e a manutenção de todos os canais de diálogo entre as partes em conflito", declarou Bolsonaro nesta terça-feira (20).

O presidente, que disse defender uma solução "duradoura e sustentável" para a guerra, declarou ainda avaliar que a solução só será alcançada se houver diálogo entre os envolvidos.

"Faço um apelo às partes, bem como a toda a comunidade internacional: não deixem escapar nenhuma oportunidade para pôr fim ao conflito e garantir a paz. A estabilidade, a segurança e a prosperidade da humanidade correm sério risco se o conflito continuar", completou.

Bolsonaro também disse que o Brasil tem tentado "evitar o bloqueio dos canais de diálogo" entre os envolvidos no "conflito". E acrescentou que o governo brasileiro é "contra o isolamento diplomático e econômico".

"As consequências do conflito já se fazem sentir nos preços mundiais de alimentos, de combustíveis e de outros insumos. Estes impactos nos colocam a todos na contramão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Países que se apresentavam como líderes da economia de baixo carbono agora passaram a usar fontes sujas de energia. Isso configura um grave retrocesso para o meio ambiente", afirmou.

Ao todo, líderes mundiais de 193 países devem se reunir na Assembleia Geral, incluindo o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, autorizado pelo plenário a participar remotamente em razão da guerra na região.

Pauta conservadora

A uma plateia formada majoritariamente por chefes de Estado e diplomatas, Bolsonaro repetiu o discurso em defesa da pauta conservadora, assim como faz para seus apoiadores em comícios no Brasil.

O presidente afirmou serem "valores fundamentais" para a sociedade brasileira "a defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero".

"Outros valores fundamentais para a sociedade brasileira, com reflexo na pauta dos direitos humanos, são a defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero", declarou Bolsonaro.

Na ONU, Bolsonaro cita temas de campanha, ataca governos petistas e defende pauta conservadora'Temos emprego em alta e inflação em baixa', diz Bolsonaro em discurso na ONU

Fome, inflação e desemprego – Foto: Reprodução

Ao fazer o balanço das ações de seu governo, Bolsonaro disse que a economia brasileira voltou a crescer, que a inflação está "em baixa" e que a pobreza no país cai "de forma acentuada".

Dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, porém, mostram que 33 milhões de pessoas no Brasil não têm o que comer.

Além disso, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 10 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil. E embora o país tenha registrado deflação de 0,68% em julho, a inflação acumulada nos últimos 12 meses ultrapassa 10%.

"Apesar da crise mundial, o Brasil chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação. Temos emprego em alta e inflação em baixa. A economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil, ela já começou a cair de forma acentuada", afirmou Bolsonaro na ONU.

Políticas para mulheres

Com alta rejeição entre o eleitorado feminino, Bolsonaro aproveitou o pronunciamento na ONU para fazer acenos às mulheres, destacando medidas da sua gestão e a participação da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, no governo.

"Quero também destacar aqui a prioridade que temos atribuído à proteção das mulheres. Nosso esforço em sancionar mais de 70 normas legais sobre o tema desde o início de meu governo, em 2019, é prova cabal desse compromisso", disse.

"Combatemos a violência contra as mulheres com todo o rigor. Isso é parte da nossa prioridade mais ampla de garantir segurança pública a todos os brasileiros", completou.

O presidente disse ainda que o governo trabalha para o Brasil ter "mulheres fortes e independentes", que "possam chegar aonde" quiserem.

Nicarágua

Bolsonaro afirmou também que o governo brasileiro "tem trabalhado para trazer o direito à liberdade de religião para o centro da agenda internacional de direitos humanos".

"É essencial garantir que todos tenham o direito de professar e praticar livremente sua orientação religiosa, sem discriminação", declarou.

Bolsonaro disse que o Brasil "repudia a perseguição religiosa em qualquer lugar do mundo" e está de portas abertas para acolher padres e freiras católicos que tem "sofrido cruel perseguição do regime ditatorial da Nicarágua".

No país da América Central, o governo de Daniel Ortega fechou estações de rádio católicas e proibiu procissões religiosas.

Religiosos foram detidos e freiras da ordem fundada pela Madre Teresa de Calcutá foram expulsas do país.

Ortega acusa bispos do país de "tomar partido" e estarem comprometidos com golpistas, além de terem promovido a criação de "seitas satânicas". O presidente da Nicarágua conta com apoio de Cuba e Venezuela.

Na ONU, Bolsonaro cita temas de campanha, ataca governos petistas e defende pauta conservadoraAssembleia-Geral da ONU e a expectativa pelo discurso do presidente da Ucrânia

Brasil é primeiro a discursar – Foto: Reprodução

Desde a 10º Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1955, o Brasil é o primeiro país a discursar no debate geral. Antes, em 1947, o diplomata brasileiro Osvaldo Aranha já tinha sido o primeiro orador na 2ª Assembleia Geral, que foi presidida por ele.

A tradição só não foi seguida em 1983 e 1984, quando o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, foi o primeiro a usar o microfone.

Em geral, os EUA falam em seguida ao Brasil, na posição de "país-sede" da Assembleia-Geral da ONU. A ordem dos demais países segue outros critérios, incluindo o nível hierárquico de quem fará o discurso (chefe de Estado, ministro ou embaixador).

Antes de Bolsonaro, devem usar o microfone nesta terça dois representantes da própria ONU: o secretário-geral da organização, António Guterres; e o presidente da 77ª Assembleia, o diplomata húngaro Csaba Kőrösi.

Anos anteriores

Em 2019, no primeiro ano de governo, Bolsonaro usou a tribuna da Assembleia Geral para defender a soberania brasileira sobre a Amazônia e dizer que o país não faria novas demarcações de terras para indígenas.

Naquele momento, ainda antes da pandemia, o Brasil figurava no noticiário internacional graças ao aumento do desmatamento e das queimadas e ao desmonte progressivo da legislação ambiental.

Em 2020, primeiro ano da pandemia, Bolsonaro participou do evento a distância e disse que o Brasil era "vítima" de uma campanha "brutal" de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.

O presidente também disse que a imprensa no Brasil tinha "politizado" o vírus e que as medidas de isolamento – que foram autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal e adotadas por governos locais, à revelia do governo federal – "quase" levaram o país ao "caos social'.

Já em 2021, último discurso até aqui, Bolsonaro distorceu dados sobre o meio ambiente e a economia brasileira e defendeu, no plenário da ONU, o uso de medicamentos sabidamente ineficazes contra a Covid em protocolos de "tratamento precoce".

Bolsonaro também se posicionou contra restrições adotadas à época, por diversos países, contra pessoas que se recusavam a tomar a vacina.

Valedoitaúnas (g1)



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