Multidão acompanha cremação de canibal de crianças
24 de julho de 2020Corpo de agricultor executado por matar e comer seis crianças há 60 anos foi cremado nesta quinta-feira (23); muitos acreditam em sua inocência
Dezenas de jornalistas e curiosos acompanharam o funeral e cremação de Si Uey – Foto: Narong Sangnak/EFE/EPA
Até pouco tempo atrás, seu cadáver era exibido em um museu forense de Bangcoc, na Tailândia. Mas nesta quinta-feira (23), o canibal e assassino de crianças Si Uey Sae-Ung foi cremado em um funeral seis décadas depois de ser executado por seus crimes, ainda que algumas pessoas achem que ele não passou de um bode expiatório.
Dezenas de pessoas, incluindo funcionários da prisão e vizinhos da aldeia onde viveu o suposto assassino, assistiram a cerimônia no templo Phraek Tai, ao norte da capital tailandesa.
Vários monges com túnicas alaranjadas rezaram mantras na cerimônia budista e os presentes deixaram flores diante do caixão branco com os restos de Si Uey antes que ele fosse incinerado perante uma multidão de jornalistas.
Seis crianças assassinadas
Entre os presentes estavam alguns moradores da região de Thap Sakae, a aldeia no sul do país onde viveu por algum tempo Si Uey, um imigrante chinês que ganhava a vida como trabalhador agrícola.
"Ele não sabia falar ou entender tailandês. Apenas sorríamos um para o outro quando nos encontrávamos. Parecia honesto e gostava de sorrir", contou à EFE Whipa Kitichotekul, uma tailandesa de 83 anos que conviveu com Si Uey em Thap Sakae. "Não o conhecia bem, mas naquela época era contratado pelos donos de muitos sítios para colher verduras. Tenho certeza que ele é inocente".
Si Uey foi preso no início de 1958 e, após ser interrogado pela polícia, confessou ter sequestrado e assassinado seis crianças para comer seus órgãos.
"A polícia prendeu um assassino de crianças que arrancava o coração de suas vítimas e bebia seu sangue", afirmava a manchete do Phim Thai, um jornal da época.
Segundo a versão oficial, Si Uey foi preso em Rayong, uma província no sudeste do país, depois que Nawa Boonyakan o encontrou diante de uma fogueira coberta por pedras, da qual aparecia a perna de seu filho Somboon, que estava desaparecido há várias horas.
De acordo com a polícia, Si Uey admitiu ter matado Somboon para comer suas entranhas e disse ter feito o mesmo com cinco outras crianças em diversas províncias tailandesas, para alívio dos investigadores, que solucionavam de uma tacada só diversos casos.
Condenado, ele foi executado por um pelotão de fuzilamento em 17 de setembro de 1959 e seu cadáver, após ser estudado por médicos forenses, foi conservado e exposto em uma vitrine no museu do hospital Siriraj, em Bangcoc.
Da lenda à campanha pela inocência
Com o tempo, seu nome se transformou em uma lenda urbana e os pais tailandeses ainda hoje dizem a seus filhos: "não saia de noite ou Si Uey vai aparecer para comer seu fígado".
Si Uey: bode expiatório? – Foto: Narong Sangnak/EFE/EPA
Tema de vários filmes e livros, Si Uey foi apontado como bode expiatório por várias reportagens da imprensa tailandesa, que levantaram dúvidas sobre a investigação policial e os preconceitos contra os imigrantes chineses.
No ano passado, 10 mil pessoas participaram de uma petição online para que o cadáver fosse retirado do museu e cremado em uma cerimônia religiosa. A campanha teve o apoio de diversas entidades.
O vice-diretor da Faculdade de Medicina do hospital Siriraj, Narit Kitnarong, chegou a dizer que exibir o corpo de Si Uey teria algum valor pedagógico "para ensinar as crianças a ter cuidado, não sair de casa à noite e aprender a maneira correta de se comportar".
Por fim, o corpo foi retirado do museu e sua despedida teve a presença de funcionários de prisões que chegaram a acender velas. Apesar de tudo, não há evidências de que as autoridades tenham a intenção de revisar o caso.
No fim, é possível que Si Uey seja inocente, mas na Tailândia ele já se transformou na versão local do "homem do saco", que leva embora as crianças más ou descuidadas.
Valedoitaúnas/Informações R7