Mulher mais rica da África é principal alvo de escândalo de corrupção
26 de janeiro de 2020Angolana Isabel dos Santos construiu seu império a partir da administração fraudulenta da estatal de petróleo de seu país
Isabel dos Santos é acusada de desviar dinheiro público angolano para sua fotuna pessoal – Foto: Reprodução/Anne Geddes
Não é honesta a mulher que se fez dona da maior fortuna da África , no ranking feminino da revista “Forbes”. O seu nome é Isabel dos Santos, tem 46 anos e é filha de José Eduardo dos Santos, o homem que presidiu Angola entre 1979 e 2017 – nada menos, portanto, que ao longo de trinta e oito anos, mais da metade da expectativa de vida no país.
Isabel, como se vê, teve tempo de sobra para cuidar de sua própria fortuna, e foi isso que fez ao lado do marido, Sindika Dokolo. Estima-se que ela seja senhora de US$ 2,2 bilhões (aproximadamente R$ 9,16 bilhões), valor que engloba imobiliárias e incorporadoras, companhias petrolíferas, empresas de extração e lapidação de diamantes e de telecomunicações.
Isabel tornou-se agora o epicentro do escândalo batizado de “Luanda Leaks”, a partir de denúncias de órgãos do continente africano que lutam contra a corrupção de governantes. E ela é também, no momento, o principal alvo do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICJI), integrado por jornais e revistas de diversas nações. Angola é um dos países africanos em que reina a miséria extrema da população, sobretudo nas regiões de mineração, e, causa disso, é a festa que governantes fazem com o dinheiro público.
A imprensa portuguesa tem sido objetiva, isenta e implacável na cobertura do caso, e afirma que tudo aquilo que se viu vampirizado no erário está em contas de empresas nos paraísos fiscais de Dubai, Maurício e Ilhas Virgens Britânicas.
Dentre tais empresas, destaca-se a Matter Business Solutions. A gatunagem, exercida sistematicamente, começou já no primeiro dia da gestão de José Eduardo dos Santos, mas a nebulosidade ganhou corpo em 2016 quando a companhia estatal angolana de petróleo, denominada Sonangol, sofreu uma brusca queda em suas ações devido à crise no mercado mundial. O presidente-pai nomeou, então, a filha Isabel para presidir a estatal, e assinou um decreto redigido por ela e seu marido, possibilitando a contratação de uma incorporadora em Malta para atuar na reestruturação da Sonangol – o detalhe é que tal incorporadora pertence à própria Isabel.
A negociata sangrou o já sangrado povo africano e viu-se jorrar uma hemorragia de US$ 9,3 milhões. Parece que o destino de estatais de Petróleo é se tornarem arapucas nos quatro cantos do mundo – e não foi diferente com a empresa de Angola. Nas mãos de Isabel, entre tantas operações ilícitas, ela serviu também para a aquisição de parte de uma companhia portuguesa do setor de energia, chamada Galp, que atualmente vale US$ 13,4 bilhões.
Isabel, bem relacionada que é (uma vez que o dinheiro, moeda impessoal, não diz sou sujo ou sou limpo para se relacionar), tomaria parte do Fórum Econômico Mundial, na gelada cidade suíça de Davos, até porque uma de suas incontáveis empresas, essa chamada Unitel, integra o gupo de patrocinadores do evento. O jornal britâncio “The Guardian” afirmou que o nome da bilionária fora riscado do rol de convidados e que pouca gente estava lendo com bons olhos a marca Unitel. Isabel tem um meio-irmão, José Filomeno dos Santos, e uma meia-irmã, Welwitschia. Ele se encontra em péssima condição na Justiça e está sendo julgado sob a acusação de tentar embolsar US$ 500 milhões dos cofres públicos angolanos. Quanto a Welwitschia, ela era parlamentar mas sofreu impeachment no ano passado. Agora chegou a vez de Isabel, a musa do “Luanda Leaks”.
Valedoitaunas/Com informações da IstoÉ