Mulher desfigurada por chimpanzé mostra rosto 16 anos após transplante pioneiro de face
19 de junho de 2025Sobrevivente revela rotina de reabilitação, reflexões sobre independência perdida e luta por leis contra animais exóticos
Charla Nash acaricia cavalo ao lado da filha, nos Estados Unidos - Foto: Reprodução/YouTube/60 Minutes Australia
Dezesseis anos após sobreviver a um dos ataques de animais mais brutais já registrados nos Estados Unidos, Charla Nash, hoje com 71 anos, voltou a falar publicamente sobre sua recuperação.
Em entrevista ao programa 60 Minutes Australia, ela mostrou como está seu rosto após o transplante facial que mudou sua vida em 2011 e revelou detalhes de sua nova rotina, desafios permanentes e esperanças para o futuro.
O ataque ocorreu em fevereiro de 2009, quando Charla foi ao encontro de sua amiga e empregadora Sandra Herold, em Connecticut. Lá, foi surpreendida pelo chimpanzé Travis, criado como um filho pela dona. O animal a atacou com violência extrema, arrancando seu nariz, lábios, pálpebras e mãos. Apesar de Sandra ter tentado detê-lo com uma pá e uma faca, apenas a chegada da polícia pôs fim ao ataque, com a morte do animal.
Desde então, Charla enfrentou um longo processo de recuperação. Em 2011, foi submetida a um transplante total de face no Brigham and Women’s Hospital, em Boston - o terceiro do tipo realizado pela instituição. O procedimento foi financiado pelo exército americano, interessado em entender as possibilidades da técnica para tratar soldados feridos em combate.
Hoje cega, após perder os olhos devido a uma doença transmitida pelo animal, Nash vive em um centro de cuidados assistidos. Ela se submete regularmente a exames como ressonâncias e tomografias, parte do acompanhamento médico exigido pelo transplante. Embora tenha perdido as próteses das mãos por rejeição, seu novo rosto é considerado um sucesso pelos especialistas.
Atenção: a imagem a seguir pode ser considerada forte ou perturbadora. Veja com mais detalhes como ficou o rosto de Charla Nash, 16 anos após ataque.
Charla usa uma prótese ocular e já começou a ter sensações no rosto - Foto: Reprodução/YouTube/60 Minutes Australia
Charla relata progressos lentos, mas significativos. Já voltou a consumir alimentos sólidos e começa a recuperar sensibilidade no rosto. “Ainda não sinto o nariz nem o lábio superior, mas já tenho sensação nas bochechas e na testa”, explicou. “É um processo, mas está melhorando”.
Antes do ataque, Charla era atleta e cuidava da filha sozinha. Hoje, precisa de ajuda para as atividades mais simples. “Já troquei pneus do meu carro sozinha. Agora, mal consigo me alimentar sem assistência”, desabafou. Apesar disso, afirma que nunca perdeu a vontade de viver e sonha com dias mais tranquilos em uma cidade pequena, de preferência numa fazenda.
A história do chimpanzé Travis também ganhou notoriedade. Ele havia atuado em comerciais de TV e vivia de forma quase humana: abria portas, usava o computador e bebia vinho em taças. No dia do ataque, havia ingerido chá gelado com Xanax, o que pode ter contribuído para sua agressividade.
Este era o rosto de Charla Nash antes de ser atacada por um chimpanzé - Foto: Reprodução/YouTube/60 Minutes Australia
Investigadores acreditam que Travis confundiu Charla com um estranho por causa de seu novo penteado. Ela própria disse nunca ter se sentido segura com o animal dentro de casa: “Eu olhava para ele na jaula e me perguntava: como ela pode manter isso aqui? E se ele escapar e machucar alguém?”.
Após o ataque, a família de Nash tentou processar o estado de Connecticut por não ter confiscado o animal, mas o pedido foi negado, já que na época não havia legislação que proibisse a posse privada de chimpanzés. No entanto, ela recebeu US$ 4 milhões (cerca de R$ 22 milhões) da herança de Sandra Herold, que morreu de aneurisma em 2010.
Charla agora trabalha com ativistas na produção de um vídeo que visa pressionar por leis mais rígidas contra a posse de animais exóticos. Seu objetivo é fazer com que ninguém mais passe pelo que ela enfrentou. “Esses animais são bonitos, mas não são animais de estimação”, concluiu.
(Fonte: R7)