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MPF aciona pastor Valdemiro por venda de “feijões mágicos” contra Covid-19

04 de agosto de 2020

Líder da Igreja Mundial do Poder de Deus está sendo processado por "prática abusiva da liberdade religiosa"

MPF aciona pastor Valdemiro por venda de “feijões mágicos” contra Covid-19Pastor Valdemiro Santiago de Oliveira – Foto: Divulgação

O Ministério Público Federal (MPF) entrou, na segunda-feira (3), com uma ação civil pública pedindo que o pastor evangélico Valdemiro Santiago e a Igreja Mundial do Poder de Deus sejam condenados a pagar pelo menos R$ 300 mil a título de indenização por danos sociais e morais coletivos em razão da veiculação de vídeos sugerindo o uso de sementes de feijão com “poderes de curar a Covid-19”.

Nos registros, o líder religioso incita seus fiéis a plantarem as sementes, vendidas pela agremiação por R$ 100, R$ 500 e R$ 1 mil, e chega a dizer que um laudo médico comprovou a recuperação de um paciente em estado terminal após contrair o novo coronavírus.

A Procuradoria sustenta que o líder da Igreja Mundial do Poder de Deus incorreu em prática abusiva da liberdade religiosa, ao colocar em riscos à saúde pública e induzir fiéis a comprarem um produto sem eficácia comprovada.

“A dignidade da proteção constitucional que tutela a liberdade religiosa não constitui apanágio para a difusão de manifestações (ilegítimas) de lideranças religiosas que coloquem em risco a saúde pública, que explorem a boa-fé das pessoas, com a gravidade adicional de que isso ocorre com a reprovável cooptação de ganhos financeiros, pois ancorados em falsa premissa terapêutica, às custas da aflição e do sofrimento que atinge a sociedade”, ressaltaram os procuradores Pedro Machado e Lisiane Braecher.

O Ministério da Saúde, representado pela União, também foi incluído na ação por ter removido de seu site um alerta que desmentia a eficácia dos anúncios de Valdemiro. A publicação, incluída em uma lista de “fake news” a respeito da Covid-19, após pedido do MPF, ficou no ar durante poucos dias e foi removida sem explicações. Os procuradores pedem que a Justiça Federal conceda uma liminar obrigando o Ministério da Saúde a republicar a mensagem e apontar a autoridade que determinou a remoção do alerta.

Por fim, a ação do MPF requer a concessão de uma ordem judicial dirigida à Google Brasil, responsável pelo YouTube, para que que a empresa seja obrigada a preservar a íntegra dos vídeos, já removidos pela plataforma também a pedido do MPF, e forneça os dados cadastrais do usuário responsável pela publicação para inclusão no processo.

Nos vídeos publicados no YouTube, o pastor Valdemiro incentivava os fiéis a plantarem as sementes de feijão vendidas pela própria Igreja Mundial do Poder de Deus mediante “propósitos” em dinheiro.

No início do mês passado, a Procuradoria Federal acionou o Ministério Público de São Paulo pedindo a abertura de uma investigação por suposto crime de estelionato do pastor. De acordo com o documento, que deu origem à ação apresentada ontem, “o uso de influência religiosa e da mística da religião para obter vantagem pessoal” fica claro nas gravações.

Aliado de Bolsonaro, o pastor já participou de uma transmissão ao vivo do presidente no dia 12 de julho do ano passado – no mesmo dia, o líder religioso havia entregue ofício ao Itamaraty pedindo um passaporte diplomático. Quase um mês depois, o governo autorizou a emissão do documento ao pastor e sua mulher, Franciléia de Castro Gomes de Oliveira.

Em maio, quando a Procuradoria Federal encaminhou notícia-crime ao Ministério Público de São Paulo pedindo investigação do caso, a Igreja Mundial do Poder de Deus afirmou que “foi amplamente esclarecido em todos os vídeos que toda cura vem de Deus e que a semente é uma figura de linguagem, amplamente mencionada nos textos bíblicos, para materializar o propósito com Deus”. A igreja disse ainda que a oferta pelas sementes é “espontânea”, “dada de acordo com a condição e manifestação de vontade de cada fiel, não tendo nenhuma correlação com o comércio de qualquer produto e/ou serviço”.

A reportagem busca contato com o pastor Valdemiro a a Igreja Mundial do Poder de Deus.

Quando o Ministério Público Federal encaminhou notícia-crime ao Ministério Público de São Paulo pedindo investigação por suposto crime de estelionato cometido pelo pastor Valdemiro Santiago de Oliveira, a Igreja Mundial do Poder de Deus divulgou a seguinte nota:

“Em atenção à sociedade, em virtude de notícias veiculadas nesta quinta-feira (07) de maio de 2020, sobre a “venda” de semente com promessa de cura, a Igreja Mundial do Poder de Deus, vem esclarecer que:

1) Diferentemente do divulgado pela impressa, a campanha do mês de maio “sê tu uma benção” representado pela semente do feijão, não se refere a venda de uma “promessa de cura”, mas sim o início de um propósito com Deus, representado por um símbolo bíblico (a semente) que tem como princípio o início de uma colheita conforme a vontade de Deus (Lucas 8:11-15 e 2 Corintios 9);

2) Em relação a promessa de cura vinculada diretamente a semente, tem-se que foi amplamente esclarecido em todos os vídeos que toda cura vem de Deus e que a semente é uma figura de linguagem, amplamente mencionada nos textos bíblicos, para materializar o propósito com Deus (Genesis 26);

3) O valor da suposta venda divulgado, resta rechaçada veemente, haja vista ser a oferta espontânea, a qual é dada de acordo com a condição e manifestação de vontade de cada fiel, não tendo nenhuma correlação com o comércio de qualquer produto e/ou serviço.

4) Esclarecemos, ainda, que nossa instituição, ao longo de todos esses anos tem o único e exclusivo propósito de propagação da fé Cristã, onde todas as nossas atitudes se baseiam nos princípios bíblicos, na ética e na legalidade.”

A reportagem encontrou em contato com o Ministério da Saúde e aguarda resposta. O espaço está aberto a manifestação.

Valedoitaúnas/Informações Metrópoles



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