Mãe recebe mensagens de apoio após ser acusada em redes sociais de levar filho autista em 'coleira'
20 de janeiro de 2020Após o recado de Amanda, milhares de pessoas deixaram comentários em apoio à mãe – Foto: Reprodução Redes Sociais
Uma rede de solidariedade chegou até a mineira Amanda Massoni, de 27 anos, após uma postagem com uma foto dela e do filho autista na internet. Uma foto compartilhada nas redes sociais mostrava a mãe e o filho Bernardo, de três anos, juntos em uma rua de Poços de Caldas (MG). Na imagem, Bernardo apareceu vestindo uma mochila guia de segurança, que foi chamada de “coleira” por um usuário das redes sociais, enquanto Amanda usava o celular para pedir um motorista de aplicativo. Segundo uma psicopedagoga, equipamento é usado para segurança.
Na mensagem, compartilhada também em aplicativos de mensagens, o dono da postagem criticou. “Quando você pensa que já viu de tudo, aparece uma mulher com o filho na coleira para mexer no celular. Estamos do avesso mesmo”.
Para rebater a acusação, Amanda esclareceu. “Meu filho é autista ele não entende se eu falar que é pra ele ficar perto de mim. Isso é pra proteção e segurança dele. A pessoa me expõe nas redes sem saber de nada da minha vida”, diz parte da mensagem.
Mãe recebe mensagens de apoio após ser acusada em redes sociais de levar filho autista em ‘coleira’ – Foto: Arquivo pessoal/Amanda Massoni
A maioria, elogiando o cuidado dela com o filho e criticando o comportamento de quem tirou a foto. Várias pessoas também postaram fotos dos filhos usando a mesma mochila vestida por Bernardo.
“Não para de chegar mensagem de gente me apoiando. Me mandam fotos dos filhos usando, falando que fiz certo, que segurança nunca é demais, e é verdade. Não é maldade pra ele, é para o bem dele. Não machuca, pelo contrário, deixa ele ainda mais livre com as mãozinhas. Ele não gosta muito de dar a mão. Fica livre e seguro”, explica.
Ataque nas redes
Amanda conta que soube da foto por uma conhecida em uma pizzaria e que o autor da mensagem ainda não foi identificado.
“Eu chorei muito. Eu saí de lá chorando, desesperada. Meu filho está com o rosto abaixado. Mas o meu estava totalmente exposto. Eu risquei meu rosto na hora de postar, estava tremendo muito e escrevi aquilo e postei”.
Ela e o marido acreditam que a foto foi tirada por alguém que passava de carro pelo local. Amanda afirma que registrou um boletim de ocorrência.
“Além da postagem, tem pessoas que me mandaram mensagens me xingando, me ofendendo. Eu tenho o print dessas pessoas. Uma moça perguntou se quando eu chegasse em casa eu daria comida para meu filho no pote do cachorro. A polícia disse que é difícil chegar em quem fez. Mas essas pessoas que me ofenderam também devo colocar no boletim”.
Amanda diz que se o responsável pela publicação aparecesse e pedisse desculpas, ela aceitaria. “Eu não faria nada. Porque essa foto minha ficou rodando, provavelmente um monte de gente me julgou errado. Me criticou, me xingou. Mas se a pessoa pedisse desculpas, quem sou eu para negar?”.
Amanda e o filho moram em Poços de Caldas (MG) – Foto: Arquivo pessoal/Amanda Massoni
Filho
“Ele é uma criança muito amorosa. Corre e brinca o dia todo. Ele gosta de bola, o brinquedo favorito dele”, comenta a mãe. Diagnosticado com grau leve de autismo, o menino tem dificuldades para acompanhar a mãe nas ruas.
“Ele tem autismo e não tem noção nenhuma de perigo. Se eu falar pra ele ficar perto de mim, ele não fica porque não entende ainda o que eu falo. Ele é pouco verbal”.
Bernardo faz acompanhamento na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Poços de Caldas. Ele tem atendimento de neurologista e terapeuta ocupacional, além de participar de atividades como hidroterapia.
Segundo a mãe, várias pessoas enviaram comentários pelas redes sociais explicando que o uso da mochila guia de segurança é comum em outros países. “É para segurança de crianças. Quantas crianças não são raptadas? Serviria para qualquer criança, porque elas são imprevisíveis, saem correndo, perigo ser atropelada, sumir”, comenta.
“As pessoas têm que saber que é legal, que é permitido. O mundo está sem respeito. A pessoa vê outra na rua, já deduz alguma coisa, tira a foto e posta. As pessoas têm que aprender também a não ficar passando tudo o que vê, expondo os outros. Ela me expôs, expôs meu filho, que é uma criança. E ainda uma frase maldosa. A gente que faz tudo pelo filho, fica muito triste da pessoa deduzir que você é uma má mãe”.
Segurança
Segundo a psicopedagoga Loid Cristina Rodrigues Silva Aniceto, especilizada em autismo, o equipamento é usado para segurança.
“É para qualquer família usar, para ter a segurança mesmo da criança enquanto está andando. No caso específico, o autista tem dificuldades de atenção compartilhada, você chama pelo nome e, às vezes, ele não responde. A questão sensorial também, de não aceitar muito o toque. Então, dá segurança mesmo para ele não correr”.
Conforme a advogada da Apae, Andiara Cristina de Souza, cabe processo por danos morais por conta do uso indevido de imagem. “Nós temos direito de imagem. No caso, não tiveram o cuidado nem de tampar o rosto. Expuseram a criança duplamente, tanto por ser uma criança, quanto por ser uma criança com desenvolvimento atípico. Essa mãe está sofrendo na sua intimidade com vários comentários. E a situação foi que ela estava pedindo um transporte por aplicativo para ir embora com o filho”.
“A gente tem o direito de expressão, mas ele não pode ferir outros direitos como o direito à imagem e à privacidade, que foi severamente violado. Possibilita um indenização por danos morais para essa mãe e esse filho”, comenta.
Valedoitaunas/Com informações do G1