Mãe luta por tratamento gratuito para filho autista acorrentado por 13 anos
04 de julho de 2021Família de André Padilha, de 32 anos, entrou na Justiça para tentar tratamento e conseguiu em 2020, contudo, neste ano, a Justiça negou o pedido porque entendeu que não houve 'efetiva demonstração' da 'imprescindibilidade dos tratamentos'
André Padilha e a mãe, Marisa Padilha, moradores de Fernandópolis (SP), lutam para conseguir tratamento – Foto: Arquivo Pessoal
Depois de ficar por mais de 13 nos acorrentado, a mãe de André Padilha, moradora de Fernandópolis (SP), luta para conseguir na Justiça o tratamento gratuito para o filho, de 32 anos, diagnosticado com autismo.
Marisa Padilha conta que na época decidiu acorrentar André porque foi a solução encontrada para dar fim às autoagressões, que começaram após o filho apresentar alterações no comportamento aos 10 anos. Em 2017, ela até gravou um vídeo como forma de apelo para conseguir ajuda ao filho e conversou.
Após o pedido de ajuda, ele começou a fazer tratamento de sessões psicoterápicas em uma clínica paga pela prefeitura. Porém, a prefeitura suspendeu o pagamento da clínica, segundo Marisa, e André precisou parar, já que família não tem condições de manter os pagamentos.
Foi então que a mãe entrou com uma ação judicial, em 2019, para tentar conseguir o tratamento gratuitamente. Em maio de 2020, a Justiça atendeu ao pedido e determinou que o município de Fernandópolis e o Estado fornecessem o tratamento.
De acordo com o processo, foi indicado o tratamento de 40 sessões psicoterápicas semanais na clínica e em casa, bem como equoterapia, fonoterapia, integração sensorial e fisioterapia.
Em fevereiro deste ano o Tribunal de Justiça negou o pedido e alegou que não houve “efetiva demonstração” da “imprescindibilidade dos tratamentos”. Desde então, o tratamento foi interrompido.
“O tratamento ajudou bastante ele a ter autocontrole, graças a Deus. Não preciso mais deixar ele acorrentado, mas tem dias que ele é mais tranquilo e em outros fica agitado, mas nada comparado com antes”, explica Marisa.
Ainda segundo Marisa, um médico que atendeu André afirmou que o ideal era ter iniciado o tratamento ainda quando criança, mas que "não é um caso perdido, porque ele pode melhorar".
Mãe acorrenta filho autista há 13 anos para evitar autoagressão – Foto: Reprodução
Saulo Ismerim Medina Gomes, advogado de defesa da família, alega que, atualmente, André apresenta um quadro ruim, pois não está recebendo tratamento adequado.
Ele também afirma que o tratamento fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não contribui com a melhora de André e a clínica particular que fornecia o atendimento suspendeu o tratamento pois fazia o trabalho de forma voluntária.
Segundo Marisa, para tentar retomar o tratamento, uma vaquinha online foi realizada. O objetivo era arrecadar R$ 50 mil, mas a família conseguiu R$ 80 mil. Contudo, ainda não há data para que André volte a receber atendimento. "Tem a rotina com remédios, banho, refeições. Mas estamos indo".
Ela afirma que, mesmo com o tratamento suspenso, a família continua recebendo auxílio do município, como os medicamentos.
Sem controle
Rapaz é autista e mãe o acorrentava para evitar autoagressões – Foto: Marisa Padilha/Arquivo Pessoal
Em 2017, Marisa afirmou que precisou deixar de trabalhar para cuidar do filho, que começou a apresentar alterações no comportamento aos 10 anos. André chegou a ser internado, começou a tomar a medicação indicada pelo médico, mas não teve a reação desejada.
Aos 15 anos, André passou a ficar isolado e agressivo, foi neste momento que a mãe decidiu usar a corrente.
“Eu não conseguia mais controlar. Era dia e noite de olho para ele não se machucar. Então comecei a usar a corrente. Ele fica na área e no quarto acorrentado. Quando preciso dar banho, eu preciso segurar o André com muita força”, disse.
Ela contou que fez um vídeo para mostrar a situação de Andre, com o objetivo de que um especialista a oriente sobre o diagnóstico do filho.
Apoio
Em nota, a Prefeitura de Fernandópolis disse que, por meio do CAPS II, André Padilha recebe serviço médico, farmacêutico e de enfermagem, por meio de visita familiar.
Afirmou também que o município está criando um projeto para atendimento especializado em casos de autismo. Atualmente o projeto está em processo de contratação de profissionais e estruturação da clínica.
Valedoitaúnas/Informações G1