Justiça mantém afastamento de pastor, aumenta multa e fiéis protestam
14 de novembro de 2023Usiel Carneiro respondeu às alegações relatando que os membros nunca conseguiram comprovar os distanciamentos da doutrina batista
Pastor Usiel Carneiro, da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vitória– Foto: IBPC
A 3ª Vara Cível de Vitória manteve a decisão de afastamento do pastor Usiel Carneiro da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vitória, e ainda aumentou a multa, de R$ 5 mil para R$ 10 mil, em caso de descumprimento.
A Justiça também determinou que ele repasse as senhas dos canais e redes sociais da igreja em 48 horas.
A ratificação da decisão veio após o grupo de 25 ex-membros da igreja alegar que Usiel estaria descumprindo a decisão judicial, ao usar uma das redes sociais da igreja para se manifestar após o afastamento – também solicitado pelo mesmo grupo.
Membros da igreja fazem protesto
Assim que souberam da nova decisão da Justiça, membros da Igreja Batista da Praia do Canto decidiram protestar.
Eles levaram para o culto da noite de domingo (12) cartazes e faixas em protesto contra a decisão judicial e em apoio ao pastor Usiel.
Durante o culto, o Conselho da Igreja – na Igreja Batista, as decisões são tomadas por um conselho de membros – subiu ao púlpito e leu um comunicado para toda a igreja, lamentando a nova decisão.
“Há cerca de dois anos, um pequeno grupo de ex-membros da igreja vem de todas as formas trabalhando para trazer instabilidade para a igreja e retirar o pastor Usiel Carneiro de Souza, pastor eleito e mantido nessa igreja pela vontade da maioria dos membros. Mais uma vez estamos sendo atingidos por decisão judicial que produz mal-estar e impõe prejuízo à nossa caminhada como igreja”, disse Ademir Cardoso, 1º vice-presidente do Conselho.
E acrescentou: “Acreditamos na Justiça, não há razão que justifique o afastamento e muito menos a destituição do nosso pastor, como pretendem os que o acusam. Por isso cremos que superaremos mais esse percalço e em breve receberemos o nosso pastor e seguiremos sendo a igreja que Deus tem nos orientado a ser”.
Logo após o comunicado, houve uma pequena pregação do pastor auxiliar e, pedindo para encerrar a transmissão, uma mulher, fiel da igreja, convocou os demais membros para um ato em apoio ao pastor.
Os membros ocuparam toda a fachada do prédio e o canteiro central, entre as avenidas Rio Branco e Reta da Penha.
Aos gritos de “Não vamos nos calar, o amor prevalecerá”, os membros – cerca de 80% das pessoas que acompanhavam o culto – também levantaram as faixas sobre “liberdade religiosa”, e que a “IBPC apoia o pastor Usiel”.
Neste domingo (12), antes mesmo de o protesto acontecer, Usiel fez uma live no Instagram onde demonstrou surpresa com a decisão judicial, publicada na noite da última sexta-feira, e afirmou que estava se preparando para retomar seus trabalhos à frente da igreja.
"Este final de semana eu estaria retornando a Vitória e retornando às minhas atividades pastorais, mas o Conselho da igreja, bem como muitos irmãos, receberam cópia de uma determinação judicial, tomada de maneira bem inusitada, porque foi assinada pelo juiz na sexta-feira já perto das 20h", relatou.
Durante o vídeo, o pastor recordou a movimentação realizada por 25 ex-membros da IBPC, que pediam seu afastamento por divergências inconciliáveis com a doutrina batista.
Carneiro respondeu às alegações relatando que os membros nunca conseguiram comprovar esses distanciamentos da doutrina batista e que, cada igreja batista tem autonomia para operar como mais fizer sentido aos seguidores.
"Imagino que a decisão foi encaminhada para um oficial de justiça de plantão para dar cumprimento no final de semana num contexto em que bem claramente traz prejuízos para a gente, dentro de um processo que se arrasta há quase dois anos, movido por um grupo de ex-membros da igreja", relatou.
Ainda de acordo com o religioso, as queixas feitas sobre ele à Convenção Batista, não têm fundamento, uma vez que a convenção não é um órgão regulador das igrejas.
"Estes membros que no processo interno da igreja tentaram fazer impor a sua vontade, mas não conseguiram, porque nunca tiveram fundamento", disse.
O pastor relatou que enfrenta um processo de desgaste emocional com todo o processo, assim como os seguidores da igreja, que ainda o apoiam.
De acordo com ele, os seguidores é que devem decidir sua permanência ou não, e que diversos ex-frequentadores e pastores de outras denominações perseguem a IBPC por não fazer distinções entre seus fiéis.
"Temos acolhido as pessoas com amor, misericórdia, bondade, sem julgamentos, sem preconceito. Isso tem simplesmente provocado ataques, acusações, escárnio. Seguimos a melhor consciência que temos sobre o que significa o evangelho de Cristo Jesus. Para que tanta perseguição? Acho que isso prova que estamos fazendo o trabalho do Senhor", afirmou.
O pastor conversou com o Folha Vitória e afirmou que continuará atuando pela igreja e que espera que a justiça seja feita.
"Eu me posicionei sobre vários aspectos lá na live. E quanto a mim, sim, vou continuar atuando. Espero que essa questão jurídica seja superada. E os meus planos permanecem os mesmos. Seguir servindo à igreja. Não é a igreja que está em litígio comigo. São pessoas de fora da igreja tentando intervir na vida da igreja. Então, quanto a mim, sim, vou permanecer firme. E apenas espero agora que a justiça seja feita. Que ela reverta esse quadro lamentável em que a gente tem sido envolvido", relatou.
Relembre o processo
No início de outubro, o pastor Usiel Carneiro de Souza, de 60 anos, foi afastado da Igreja Batista da Praia do Canto por conta de uma decisão judicial, que aponta divergências inconciliáveis com a doutrina batista.
A decisão determinava que o pastor se afaste da direção da igreja no prazo de 48 horas, além de entregar as chaves do local e todas as documentações de gestão do imóvel.
A ação para afastamento foi movida por 40 membros da própria igreja, que afirmavam que o pastor introduzia pautas que iam de encontro à doutrina batista. A queixa passou por deliberação de um Concílio Decisório para apuração do caso.
(Fonte: Folha Vitória)