Inflação seguirá incomodando até o fim do ano, dizem economistas
11 de abril de 2022Para se ter uma ideia do cenário atual, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março acumula alta de 11,30% nos últimos 12 meses
Foto: Redação 1Bilhão
A escalada da inflação, que reduz o poder de compra e afeta o orçamento das famílias, não deve dar trégua por enquanto. Segundo economistas consultados por O DIA, os consumidores precisam preparar o bolso, porque o aumento dos valores de produtos e serviços deve continuar até o fim deste ano. Para se ter uma ideia do cenário atual, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março acumula alta de 11,30% nos últimos 12 meses, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira (8).
Educadora financeira e idealizadora do Instituto Soaper, Aline Soaper explica que a elevação dos preços impacta diretamente no bolso das famílias brasileiras, já que a maioria não tem margem para arcar com os crescimentos significativos dos gastos com os itens essenciais.
"O IPCA do mês passado (1,62%) trouxe uma taxa mais alta para o mês de março desde 1994, ou seja, em 28 anos. E isso se reflete diretamente na mesa do brasileiro, já que os preços dos itens básicos seguem subindo. Diante disso, o orçamento precisa ser mais planejado e controlado, evitando gastos além das possibilidades da família", sugere, acrescentando que é importante, neste momento, buscar uma fonte de renda extra para manter a capacidade de compra.
Inflação deve continuar elevada
O professor de economia Lauro Barillari acredita que o aumento dos preços vai continuar até o fim deste ano. "Porque a dinâmica de aumento de juros no Brasil decidida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), de 9,25% para 11,75% (+27%) desde dezembro passado até março, e a retomada de alguns setores da economia em 2021 ainda não serão suficientes para conter os efeitos da escalada dos preços, iniciada a partir da falta de diversos produtos e serviços no mercado, efeito da pandemia", explica.
Ele reforça que outros fatores também influenciam o aumento dos valores como "o stress da guerra com a Ucrânia e Rússia, países que concentram parte relevante da produção de Petróleo, grãos e cereais no mundo, a crise de oferta de alimentos, no campo brasileiro, pelas condições climáticas desfavoráveis, a valorização da moeda americana, pressionando os preços dos insumos importados e utilizados na indústria nacional; e, ainda, as expectativas das eleições presidenciais no Brasil, que podem elevar a cotação do dólar com a possível saída de investidores do país, de acordo com os diversos cenários das pesquisas", indica Barillari, completando que avanço do dólar encarece ainda mais os insumos no país, pressionando a alta dos preços ao consumidor.
Gilberto Braga, economista e professor da Fundação Dom Cabral, afirma que a inflação não diminui de forma rápida, "porque há um conjunto de preços chamados administrados, que são os valores dos contratos reajustados anualmente. Esses preços não permitem que a inflação caia, pois sempre trazem uma memória dos aumentos passados. São os casos das concessionárias de serviços públicos, como telefone, água e energia, cujas tarifas sobem uma vez por ano, com base na inflação passada", indica.
O que o petróleo tem a ver com a inflação?
A alta do preço do petróleo elevou o valor médio de uma série de itens como o frete, o custo do transporte público e os alimentos. "Esse processo começa em um nicho específico, que tem alto poder de proliferação, como é o caso do petróleo. Ele atinge a geração de energia, o gás e todas as matérias-primas que derivam dele, provocando uma reação em cadeia", aponta Marcelo Anache, economista e professor do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário IBMR.
Segundo Anache, a grande questão da alta em produtos derivados do petróleo está justamente nesse disparo sequencial para outros nichos econômicos. "Enquanto o conflito na Ucrânia persistir, os preços seguirão inflacionados. O petróleo é uma commodity cujas transações são em dólar no mundo inteiro".
O especialista lembra, ainda, que a produção das refinarias brasileiras não é suficiente para abastecer o mercado interno. "Com isso, o país precisa buscar no exterior um óleo que não é produzido aqui. O produtor não cobrará um valor menor do que o custo internacional que ele tem para processar o combustível", ressalta o professor.
A isso, ainda, se somam o trigo, o milho e os fertilizantes, de acordo com o docente. "Os fertilizantes estão entre os principais componentes de custo na produção de commodities. Assim, a maior parte da inflação brasileira é importada. Por uma questão de inércia, a inflação atual vai perdurar até o fim do ano".
Anache conta que essa inércia significa dizer que, como no Brasil ainda existem alguns tipos de preço que trabalham indexados a certos índices, sempre que há alterações nesses indexadores, consequentemente, haverá aumento. "É o que chamamos de retroação de preços", explica o especialista.
Como os indicadores mudam, as alterações nesses índices são absorvidas por um determinado nicho de mercado, e alguns reajustes de preço devem seguir, pelo menos, até dezembro, segundo o professor. Ele acrescenta que o mundo inteiro vive um processo inflacionário, com cadeias produtivas sendo impactadas desde o início da pandemia de covid-19.
"Muitos setores ainda estão se reorganizando, pois houve uma quebra importante na cadeia produtiva com a crise sanitária. As atividades econômicas voltaram, mas durante a pandemia, não havia oferta. Agora, existe uma demanda acelerada e por isso, o preço sobe. Não se trata de uma inflação de demanda. É uma questão que vem de um custo maior de produção, ou quebra na produção, atingindo inúmeros setores", analisa Anache.
Impacto mais severo
O professor do IBMR avalia, ainda, que as classes menos favorecidas são as mais atingidas diante do aumento dos preços. "A renda média das famílias caiu e a taxa de desemprego é um dos motivos. A renda encolheu como um todo", indica o especialista. Ele acrescenta que a população assalariada não consegue ter margem de manobra para lidar com a inflação, pois depende de um reajuste anual, enquanto que os preços aumentam de acordo com outros cenários econômicos, em velocidade totalmente distinta.
"É uma corrida injusta. Quando há o reajuste médio do salário mínimo, esse cálculo não acompanha a inflação vigente. Quem vive de renda, como donos de negócios de comércio e serviços, por exemplo, consegue estabelecer preços conforme o custo da atividade. Então, se torna possível reposicionar a renda. O que não ocorre com a população assalariada", pondera Anache.
Mas, afinal, quando o cenário da inflação no Brasil deve começar a melhorar? Para o economista Gilberto Braga, não se deve esperar muita melhora neste ano. "Depende do fim da guerra, das eleições gerais de 2022, de quem vai vencer e de quem será o Ministro da Economia e dos planos para a economia", pondera.
Como driblar a alta dos preços
A educadora financeira Aline Soaper orienta que realizar pesquisa de preços é fundamental para driblar os efeitos da inflação. Ela recomenda aproveitar os dias da semana em que os supermercados fazem promoções de itens específicos para poupar gastos. Outra dica da especialista é trocar produtos que aumentaram muito de preço por itens com valor menor ou marcas novas.
Por fim, Aline destaca a importância de ter um orçamento doméstico bem feito e um bom controle financeiro. "O indicado é fazer um controle semanal, assim é possível ir acompanhando quando e quanto foi gasto, no mercado, com combustível, remédios e demais gastos, buscando economizar no que for possível", aconselha a educadora financeira.
Valedoitaúnas (iG)