Índia tem novo recorde de mortes por Covid e supera 250 mil óbitos
12 de maio de 2021País também chegou ao 21º dia consecutivo com mais de 300 mil novos casos confirmados. Pandemia agora se espalha pelo vasto interior rural da Índia, que concentra 2/3 da população
Corpos de vítimas da Covid-19 são cremados em área a céu aberto nos arredores de Bengaluru, no estado de Karnataka, nesta quarta-feira (12) – Foto: Aijaz Rahi/AP
A Índia registrou um novo recorde diário de mortes por Covid-19 nesta quarta-feira (12) e superou a marca de 250 mil vítimas do novo coronavírus desde o início da pandemia.
Foram 4.205 óbitos nas últimas 24 horas, o que eleva o total de vítimas para 254 mil, e mais 348.421 novos casos, fazendo o número de infectados passar de 23,3 milhões, segundo o governo indiano.
É o 21º dia consecutivo com mais de 300 mil novos casos.
Mas, apesar dos números astronômicos, há fortes indícios de subnotificação – sobretudo de mortes. Especialistas acreditam que os números reais podem ser de cinco a dez vezes maiores.
O segundo país mais populoso do mundo, com mais de 1,3 bilhão de habitantes, sofre há mais de um mês com hospitais abarrotados e crematórios que não conseguem atender ao volume de corpos.
Para piorar, a pandemia agora se espalha pelo vasto interior rural do país, que concentra dois terços da população, e há uma crescente preocupação mundial com a variante indiana.
A pandemia parece estar atingindo um platô nas grandes cidades, mas ainda faltam leitos, oxigênio e remédios nos hospitais, que não conseguem atender à demanda de pacientes.
Pessoas morrem em casa ou dentro de ambulâncias, à espera de atendimento médico, e familiares são obrigados a pagar pelos suprimentos médicos e até pela lenha usada nos crematórios.
Diversas idades têm feito cremações em massa e até a noite, e o número de cerimônias sob os protocolos da Covid-19 são muito maiores do que o de vítimas dos balanços oficiais do governo.
"O número de mortes é muito maior do que revelam os dados oficiais", afirma Anant Bhan, pesquisador independente de Política de Saúde e Bioética. "Mesmo um número três ou quatro vezes maior estaria subestimado".
Familiar coloca um sari, vestimenta tradicional indiana usada por mulheres, na pira de uma vítima da Covid-19 em crematório nos arredores de Bengaluru nesta quarta (12) – Foto: Aijaz Rahi/AP
Covid avança pelo interior
Na segunda-feira (10), dezenas de corpos foram encontrados no Rio Ganges, perto da fronteira entre os estados de Bihar e Uttar Pradesh, dois dos mais pobres do país.
Moradores acreditam que eles foram jogados no rio porque crematórios estão lotados e muitos parentes não têm dinheiro para pagar pela madeira das piras funerárias.
Quase dois terços dos novos infectados em Uttar Pradesh são no interior, segundo dados do governo. O estado é o mais populoso da Índia e predominantemente rural.
Esses estados mais pobres têm uma infraestrutura de saúde ainda pior do que a das grandes cidades, que estão há semanas em colapso.
Parentes ajudam Jagdish Singh, de 57 anos, a sair de uma ambulância na porta de um hospital no distrito de Bijnor, em Uttar Pradesh, na terça-feira (11) – Foto: Danish Siddiqui/Reiters
Mais da metade dos casos no estado de Maharashtra ocorreram em áreas rurais nesta semana, ante um terço há um mês.
No estado de Gujarat, algumas pessoas têm ido a currais uma vez por semana para cobrir o corpo de esterco e urina de vaca, na esperança de que isso fortaleça a imunidade contra o coronavírus ou que possa ajudá-los a se recuperar da doença.
A vaca é sagrada no hinduísmo e um símbolo da vida e da terra. Durante séculos, os hindus usaram estrume de vaca em rituais religiosos por acreditar que o material tem propriedades terapêuticas.
Em meio à prática, médicos se viram obrigados a alertar a população que espalhar estrume de vaca pelo corpo não protege contra a Covid-19 e que ainda há risco de contágio por outras doenças.
Médicos e cientistas, na Índia e em outros países, alertam que tratamentos sem eficácia podem levar a uma falsa sensação de segurança em relação à pandemia e piorar a situação epidemiológica.
Indianos se banham em estrume por acreditarem que isso protege da Covid – Foto: Reprodução
Mais 2 meses de lockdown
O governo do primeiro-ministro Narendra Modi tem sido criticado por se negar a decretar um lockdown nacional, devido ao impacto econômico da medida, e ao mesmo tempo ter liberado festivais religiosos e comícios eleitorais que reuniram multidões.
O colapso sanitário do país também ocorre após o governo ter comemorado o "fim da pandemia" em março e não ter agido para minimizar o impacto da segunda onda do vírus.
Sem uma decisão centralizada do governo, estados e municípios têm adotado medidas de restrição por conta própria, mas elas não têm sido suficientes para frear a escalada de casos e mortes.
Nesta quarta (12), o chefe da principal agência de saúde indiana, que é responsável pela resposta à pandemia no país, pediu que os bloqueios continuem por 6 a 8 semanas nas regiões mais afetadas.
A declaração de Balram Bhargava, chefe do Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR), é a primeira de um alto funcionário do governo sobre a duração dos lockdowns nesta segunda onda.
Bhargava afirmou que as medidas de restrição devem permanecer em todos os distritos onde a taxa de infecção está acima de 10% dos testados para tentar controlar a disseminação da doença.
Atualmente, três quartos dos 718 distritos da Índia se enquadram no critério, inclusive grandes cidades como a capital (Nova Délhi) e os centros financeiro (Mumbai) e tecnológico (Bengaluru) do país.
Hospital de campanha em construção em Nova Délhi, capital da Índia, na sexta (8) – Foto: Ishant Chauhan/AP
Variante indiana
Em meio à escalada da segunda onda na Índia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a variante indiana do novo coronavírus como uma cepa de “preocupação global”.
A nova variante é mais contagiosa e tem características que podem tornar as vacinas menos eficazes, contribuindo para a expansão da pandemia, disse a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan.
Swaminathan, que é pediatra e pesquisadora indiana, disse que a variante B.1.617, detectada pela primeira vez em outubro, é sem dúvida um fator que agravou a epidemia.
A variante indiana já foi detectada em 44 países, e a OMS diz que "as sub-linhagens da B.1.617, como a B.1.617.1 e a B.1.617.2, parecem ter taxas maiores de transmissão.
Valedoitaúnas/Informações G1