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Imposto mais alto para mulheres amplia desigualdade de gênero no Brasil

01 de julho de 2024

Custo maior em produtos pensados para a ala feminina, além de carga de Imposto de Renda mais elevada para elas faz reduzir poder de compra

Imposto mais alto para mulheres amplia desigualdade de gênero no BrasilAdvogado tributarista, Samir Nemer – Foto: Divulgação

As mulheres pagam mais caro em produtos do que os homens apenas por serem mulheres. A chamada “tarifa rosa” (ou Pink Tax, em inglês), que incide em itens pensados para a ala feminina, tem ampliado a desigualdade de gênero no Brasil, de acordo com estudos e especialistas. Isso porque essa taxação afeta diretamente o poder de compra da mulher, que é reduzido em relação ao do homem.

Pesquisa da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) mostrou que produtos rosas ou com personagens femininos são, em média, 12,3% mais caros do que os regulares. Lâminas de barbear, por exemplo, chegam a ter valor até 100% maior para as mulheres. Já na calça jeans modelo básico, a diferença de preço entre a versão feminina e masculina foi de 23%.

De acordo com o advogado tributarista Samir Nemer, a taxa rosa onera principalmente cosméticos, produtos de higiene pessoal ou itens do consumo feminino como barbeadores ou panelas de cores associadas a mulheres.

“Outros itens básicos que chamam a atenção são os relacionados à prevenção de doenças sexuais e gravidez: os preservativos, por exemplo, têm 9,25% de tributos em seu preço final. Já o DIU hormonal ou pílulas anticoncepcionais têm 30% de impostos”, ressaltou Nemer, que é sócio do escritório FurtadoNemer Advogados.

Samir Nemer explica que essa diferença de valores e percentuais ocorre com a justificativa de fabricantes de terem modificado os produtos para elas. “É preciso que as consumidoras também avaliem se aquela diferenciação entre o item masculino e o feminino só ocorre por conta da cor ou se realmente há uma real justificativa para um custo maior, com mais benefícios para elas”.

Outro estudo que chama a atenção é o elaborado pela Macfor. A estratégia de elevar os preços de produtos e serviços específicos para mulheres é desconhecida para 56% de consumidores brasileiros, de 18 a 44 anos, das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Para 98,3% dos entrevistados, a taxa rosa é mais evidente em produtos e serviços ligados ao setor de beleza e perfumaria. Já para 89,7%, a indústria de moda tem mais incidência de “Pink Tax”.

Segundo o CEO da Macfor, Fabrício Macias, muitas vezes não fica claro para as mulheres qual o real benefício dos produtos destinados ao público feminino versus outros produtos, o que causa um sentimento de frustração.

Imposto de Renda

Samir Nemer cita ainda um relatório do Ministério da Fazenda baseado nas declarações do Imposto de Renda de 2021 e 2022, divulgado recentemente. O levantamento aponta que mulheres enfrentam maior carga de tributação do Imposto de Renda em comparação aos homens, sendo que o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) acaba atuando como um “amplificador da desigualdade de gênero”.

“No IRPF, isso ocorre porque a cobrança é feita sobre o ganho com salários, que é a maior parte da renda feminina, e não incide sobre lucros e dividendos pagos por empresas, que compõem a principal renda masculina. Com o Imposto de Renda e a taxa rosa, esse custo a mais para as mulheres impacta o orçamento das famílias, principalmente em casas sustentadas por elas”.

O problema não para por aí: a tributação sobre o consumo no Brasil prejudica também mais as mulheres, que comprometem uma parte maior de sua renda consumindo. “Como elas ganham menos, os impostos pesam mais para elas mesmo quando gastam o mesmo que os homens”, explicou Nemer.

Para minimizar o peso sobre as mulheres, o advogado afirma que é preciso analisar formas para alterar políticas fiscais, a fim de eliminar essa discrepância nos valores dos produtos, questionar aos fabricantes justificativas plausíveis para as diferenças de preços, além de cobrar de toda a sociedade a igualdade salarial, entre outras ações.



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