Home - Brasil - Homem é preso com base em foto do Facebook de...

Homem é preso com base em foto do Facebook de 2017: "não há prova", diz esposa

29 de agosto de 2020

Danillo Félix, que não possui passagens pela polícia, foi preso com base em uma foto de 2017 retirada do Facebook

Homem é preso com base em foto do Facebook de 2017: Danillo, 24, e Ana Beatriz, 21, possuem um filho de 1 ano – Foto: Arquivo pessoal/Ana Beatriz Faria

Neste sábado (29), completam-se três semanas e dois dias da prisão de Danillo Félix, um jovem negro de 24 anos que foi acusado e detido, segundo seus familiares, sem provas. No dia 6 de agosto, Danillo estava andando pelo centro de Niterói (RJ) quando foi abordado por um carro branco. A esposa dele, Ana Beatriz Faria, de 21 anos, conta que os policiais à paisana fizeram um breve interrogatório, “mas já chegaram algemando”. Em seguida, o jovem foi levado à 76ª Delegacia de Polícia.

Danillo foi incriminado porque um homem, vítima de assalto à mão armada, o identificou a partir de uma foto  apresentada na delegacia. A foto em questão, porém, é de 2017 e foi retirada do Facebook de Danillo, que não tem passagem alguma pela polícia.

“A descrição da vítima foi só ‘um homem pardo de bigode fino’ e o Danillo é negro, ele é retinto. Ele não é pardo”, conta Ana Beatriz. Além disso, a vítima teria dito que o assaltante tinha cabelo curto. Em 2017, Danillo tinha cabelo curto e bigode fino. No entanto, desde o ano passado, ele tem cabelo longo, tranças e cavanhaque.

Ana Beatriz afirma que Danillo foi preso sem provas. “A foto é de 2017. Estamos em 2020. Se a vítima realmente tivesse sido assaltada por ele, ela iria falar do cabelo, é uma característica marcante”, observa. “Danillo não faz nada de errado, nunca fez. Ele é uma pessoa correta”, reforça a mulher.

Homem é preso com base em foto do Facebook de 2017: Danillo em 2017 – Foto: Arquivo pessoal

Em depoimento, a vítima do assalto afirmou que o local onde ocorreu o crime é monitorado por câmeras de vigilância. As imagens não foram prontamente solicitadas pela Justiça. Isso só ocorreu após a prisão de Danillo e por pedido da defesa dele, que também solicitou a revogação da prisão preventiva. O parecer do Ministério Público foi contrário, alegando que o jovem poderia ter colocado apliques no cabelo no intervalo de tempo entre o assalto e a sua prisão.

“Pra gente foi um choque, a gente nunca pensou que fosse passar por isso”, diz Ana Beatriz.

“O Danillo trabalha”, pontua ela ao explicar que o marido trabalhava na reitoria da Universidade Federal Fluminense (UFF) com carteira assinada, mas perdeu o emprego devido à pandemia de Covid-19. Diante dessa situação financeira, Ana Beatriz e Danillo, que possuem um filho de 1 ano, começaram a vender roupas em uma loja virtual.

A última vez que Ana Beatriz teve contato com Danillo foi no dia 6 de agosto, na delegacia. Desde então, o homem está no Presídio Tiago Teles, em São Gonçalo. Por causa da pandemia do novo coronavírus, as visitas serão liberadas apenas no dia 4 de setembro. “Eu espero que ele saia antes disso, em nome de Jesus”, observa Ana.

A mulher relata, ainda, que está sendo muito difícil para toda a família. “Nunca na minha vida pensei que eu fosse passar por isso. Tanto eu, como os meus sogros, a minha mãe, o irmão dele”.

“A gente sabe que existe racismo. A gente sabe que isso acontece todos os dias, que jovens pretos são presos e são mortos injustamente, mas a gente nunca acha que vai acontecer do nosso lado”, conclui Ana Beatriz.

Em nota, a assessoria da Polícia Civil diz que "de acordo com a 76ª DP (Niterói), o inquérito foi concluído com base nos elementos produzidos durante a investigação e remetido à apreciação do Ministério Público na forma da lei".

O Ministério Público do Rio de Janeiro declarou que "se manifestou pela manutenção da prisão preventiva de Danillo Félix Vicente de Oliveira porque ele foi reconhecido pela vítima no dia posterior ao crime, através de fotografias existentes na delegacia e no Facebook".

A nota diz também que Danillo foi reconhecido por mais três vítimas em outros dois registros de ocorrência, ainda sem denúncia, e que "os argumentos defensivos não se sustentam".

A advogada de defesa , Cristiane Lemos, informa que tem conhecimento das acusações "nas quais recaem sobre esse mesmo reconhecimento de um registro fotográfico de Danillo de 2017, que não condiz com as atuais características físicas dele".

Pedido de ajuda

Ana Beatriz organizou uma petição na internet: "Danillo não pode ser mais uma vítima desse Estado racista".

Além disso, ela e Danillo possuem uma loja virtual no Instagram (@bf_cropped).

Valedoitaúnas/Informações iG



banner
banner