Guedes proibiu sua equipe de falar comigo, acusa Maia
04 de setembro de 2020Presidente da Câmara e ministro da Economia têm histórico de desentendimentos e divergências motivando trocas de ataques
Paulo Guedes exaltou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, após aprovação da reforma da Previdência – Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quinta-feira (3) que não tem conversado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que a interlocução entre os dois foi encerrada. A declaração do deputado foi feita em entrevista à GloboNews.
"O que eu decido é que a relação da presidência da Câmara será com o ministro Ramos (Luiz Eduardo, ministro da Secretaria de Governo), e o ministro Ramos conversa com a equipe econômica para não criar constrangimento mais para ninguém. Mas isso não vai atrapalhar os nossos trabalhos de forma alguma. A interlocução (com o Guedes) foi encerrada", garantiu Maia.
Segundo o deputado, Guedes proibiu a equipe econômica de conversar com ele.
"Não tenho conversado com o ministro Paulo Guedes, que tem proibido a equipe econômica de conversar comigo. Ontem mesmo (quarta-feira, 2, dia anterior à entrevista de Maia) a gente tinha um almoço com o Esteves (Conalgo, assessor do Ministério da Economia) e com o secretário do Tesouro (Bruno Funchal) para tratar do Plano Mansueto e os secretários foram proibidos de ir a reunião", relatou.
Não é a primeira e nem a segunda vez que desentendimentos entre Maia e Guedes se tornam públicos. Ainda no ano passado, no início do ano, houve choque entre os dois, e, durante a tramitação da reforma da Previdência, o presidente da Câmara voltou a se incomodar com ataques do ministro à classe política e deu entrevistas revelando desconforto e uma relação distante com Guedes. Após a aprovação da reforma, no entanto, o ministro elogiou o trabalho de Maia publicamente e o clima de tensão diminuiu, contribuindo para uma aproximação entre governo e Congresso, relação marcada por altos e baixos.
Mais recentemente, em julho deste ano, Maia disse ter rompido com Guedes e garantiu que só tratava economia com técnicos do ministério, não mais o chefe da pasta. Eu tenho conversado com os técnicos, não tenho conversado com o ministro Paulo Guedes. Inclusive, a pedido de alguns, há um tempo fiz um gesto, mas o ministro não teve interesse. Então, para mim, não faz a menor diferença conversar ou não com Paulo Guedes", afirmou.
"Para mim, faz diferença conversar com os técnicos, porque baseado nos dados concretos posso ajudar o Congresso e a Câmara a tomar as melhores decisões em relação aos projetos, principalmente aqueles que têm impacto fiscal", explicou Maia. Questionado sobre o afastamento, o deputado disse que Guedes foi "agressivo" em novos ataques à classe política.
Maia chegou a ameaçar retomar a discussão sobre a reforma tributária na Câmara "independentemente" do envio da proposta do governo, que acabou acontecendo, embora por partes. O Executivo enviou apenas um trecho da sua proposta, mas já acenou para reaproximação com o Congresso. O atrito entre Maia e Guedes teria ocorrido após a discussão sobre o socorro a estados e municípios e já teria sido resolvida.
Agora, o presidente da Câmara traz à tona uma nova questão, a suposta proibição feita por Guedes para evitar que Maia trate com técnicos de seu ministério. O afastamento entre as peças-chave entre economia e Congresso podem contribuir para desgastar a relação entre Executivo e Legislativo, mas o histórico indica que uma nova reaproximação pode surgir a qualquer momento.
V Valedoitaúnas/Informações iG