Grupo de empresas pela igualdade expulsou Carrefour por reincidência e gravidade
24 de novembro de 2020"Ações do Carrefour para promover igualdade não foram suficientes para evitar tragédia", segundo Raphael Vicente, diretor da iniciativa
João Alberto foi morto por dois homens brancos no Carrefour – Foto: Reprodução/Twitter
A Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, grupo com mais de 70 empresas signatárias, decidiu expulsar o Carrefour do projeto após João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, ser espancado até a morte por seguranças de uma unidade da rede de supermercados em Porto Alegre na última quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra.
Raphael Vicente, advogado e coordenador-geral da entidade, afirma, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, que a rede varejista não tomou ações suficientes para evitar o assassinato e permitiu um novo caso de uso de violência em uma de suas lojas pelo Brasil, desta vez ainda marcado pelo racismo.
"Ações do Carrefour para promover igualdade não foram suficientes para evitar tragédia", afirmou o coordenador da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial. "A gente está diante de um fato extremamente grave e de algo que já foi dito e debatido pelo Carrefour, que é a recorrência dos fatos. Diante da forma do ocorrido, a gente não tinha outra opção senão desligar nosso membro signatário", explicou Vicente.
"Ser membro signatário da Iniciativa é se comprometer publicamente e por escrito com nossos dez compromissos pela promoção da igualdade racial. O Carrefour é um dos nossos membros mais antigos, mas ainda assim as ações não foram suficientes para evitar uma tragédia como essa", lamentou.
Vicente, que é também coordenador da Faculdade Zumbi dos Palmares, disse que o número de negros em posições de liderança ainda é muito pequeno no Brasil. Ele lamentou e discordou das falas de Hamilton Mourão e Jair Bolsonaro, negando o racismo no país. Para o coordenador da iniciativa que expulsou o Carrefour, as empresas demoram a perceber que as coisas estão mudando. "O Estado brasileiro caminhou muito mais rápido que as empresas", afirmou. Ele cita, por exemplo, as cotas raciais e diz que muitas outras iniciativas comprovam que o setor privado demora muito mais para agir nesse sentido.
O coordenador da iniciativa rechaça as posições do governo sobre o Brasil não ser racista, e sim desigual, e argumenta citando que há algo em torno de 26% de negros nas empresas e somente 6% em cargos de liderança. "Há essa escadinha, começa com um número alto de estagiários, supervisor, e quando chega em gerente estamos na casa dos 8%. Quando sobe mais um pouco já desaparece".
"O racismo no Brasil é tão sofisticado que ele não precisa de leis e de placas, diferentemente do que foi nos Estados Unidos e da África do Sul. Ele é sutil na sua apresentação e tem resultados extremamente potentes", explicou.
Valedoitaúnas/Informações iG