Governo federal quer "obter o controle" de ONGs que atuam na Amazônia
09 de novembro de 2020Conselho da Amazônia incluiu entre seus objetivos somente permitir atuação das organizações que atendam 'interesses nacionais'
Conselho da Amazônia permitirá atuação de ONGs que entendam "interesses nacionais" – Foto: Agência Brasil
O governo federal planeja criar um "marco regulatório" para gerir a atuação das organizações não-governamentais (ONGs) com presença na Floresta Amazônica. O objetivo do governo é "obter o controle de 100% das ONGs" que atuam na região, para autorizar "somente aquelas que atendam os interesses nacionais". A informação foi revelada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e confirmada pelo GLOBO.
A intenção do governo foi registrada em um documento que resume a terceira reunião do Conselho Nacional da Amazônia, realizada na semana passada. O órgão é presidido pelo vice-presidente Hamilton Mourão e conta com a participação de 15 ministérios.
Um dos objetivos definidos é "garantir a prevalência dos interesses nacionais sobre os individuais e os políticos". Dentro desse objetivo, a meta é "obter o controle de 100% das ONGs, que atuam na Região Amazônica, até 2022, a fim de autorizar somente aquelas que atendam os interesses nacionais".
O documento também define as "ações setoriais" do objetivo, e entre elas está a criação do marco regulatório. Essa tarefa ficou a cargo do Ministério da Justiça, do Ministério do Meio Ambiente e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Outras ações setoriais incluem "mapear os acordos e os mecanismos de cooperação internacional existentes, ligados à área de combate aos crimes ambientais e fomentar a consecução de seus objetivos" (a cargo do Ministério das Relações Exteriores) e "estimular os governos estaduais a fortalecer as ações de prevenção, coerção e responsabilização, por meio do Comitê do Fogo" (que deverá ser feita pelo Ministério do Meio Ambiente).
'Não passou por mim', diz Mourão
Na manhã desta segunda-feira, ao ser questionado sobre o assunto, Mourão afirmou que não sabia que do se tratava.
"Eu li essa matéria hoje pela manhã, vou ver o que é esse assunto, porque não é dessa forma que a coisa está colocada. Vou esclarecer essa situação", declarou, ao chegar no Palácio do Planalto.
Questionado sobre o que seria o "marco regulatório", disse não saber: "Eu também não sei, porque eu não assinei esse documento, não vi. Não passou por mim".
Críticas à ONGs
O governo federal tem um histórico de críticas à ONGs que atuam com o meio ambiente. No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro acusou, sem provas, organizações desse tipo de realizarem queimadas a Amazônia.
Neste ano, Bolsonaro classificou as organizações que atuam na Amazônia como um "câncer" que ele não consegue "matar".
Valedoitaúnas/Informações iG