Governo do Estado destina R$ 385 mil para instituições científicas atingidas pelas enchentes de 2020
12 de agosto de 2020A elevação do nível do Rio Doce comprometeu pesquisas realizadas na Fazenda Experimental do Incaper, no município de Linhares – Foto: Divulgação
As intensas chuvas que atingiram o Espírito Santo em janeiro deste ano provocaram enchentes e deslizamentos de terra de norte a sul do Estado, causando a destruição de ruas, pontes, estradas e construções, além de deixar mortos e milhares de pessoas desabrigadas. O Governo do Estado promoveu muitas atividades para amenizar o impacto nos locais afetados, lançando um olhar especial também às instituições de ensino e pesquisa e aos locais de desenvolvimento de experimentos científicos.
Uma das ações emergenciais partiu da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapes) – autarquia da Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (Secti), por meio da Resolução 263/2020 que destinou auxílio financeiro de R$ 385 mil para 12 projetos de recuperação de danos causados.
Os recursos são direcionados para a aquisição de equipamentos e insumos utilizados na execução dos projetos afetados. Segundo o diretor-presidente da Fundação, Denio Rebello Arantes, foi necessário considerar que os prejuízos poderiam impactar também a execução de diversos projetos, dificultando o alcance dos objetivos e das metas previstas.
Entre as instituições de ensino e pesquisa que sofreram com as chuvas de janeiro estão a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). Também foram registrados danos em laboratórios do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) no norte do Estado.
A diretora técnico-científica da Fapes, Denise Rocco de Sena, revela que durante a análise das propostas pela equipe técnica foi verificada a dimensão da destruição de espaços físicos nos quais são realizados diversos projetos, incluindo experimentos fomentados pela autarquia estadual por meio de editais lançados nos últimos anos.
“Entendemos rapidamente a situação pela qual passavam as instituições e, com agilidade para a liberação dos recursos, procuramos dar as condições imediatas a amenizar os danos causados pela enchente e recuperar importantes pesquisas que representam o resultado de anos de estudos”, afirmou a diretora.
Impactos no sul do Estado
A elevação no nível do Rio Alegre em sete metros fez as águas atingirem a área experimental da Ufes na localidade de Rive, município de Alegre. A inundação provocou estragos nas áreas cultivadas de experimentos realizados por grupos e estudantes de pós-graduação, além de áreas em processo de regeneração florestal e da barragem para captação de águas pluviais.
A água barrenta atingiu almoxarifados, depósitos, residências, fábrica de ração e galpão de lacticínios, danificando inúmeros aparelhos eletroeletrônicos, redes elétricas, materiais de escritório e insumos utilizados em aulas práticas dos cursos das Ciências Agrárias.
O professor Dirceu Pratissoli solicitou, e recebeu, apoio financeiro para as Unidades Experimentais Campus Ufes Sul Capixaba, demonstrando o impacto percebido em muitas pesquisas em desenvolvimento. Os maiores danos foram na planta-piloto utilizada no curso de Engenharia de Alimentos e na barragem de irrigação, inviabilizando todas as pesquisas de campo.
“A nossa instituição já está adotando medidas para evitar avarias em suas instalações da área experimental, com a implantação de sistema de alarme e sistema de contenção de alagamentos e transferência para outros locais da unidade do que estiver em áreas de riscos”, destacou Pratissoli.
Reposição do Laboratório de Fitotecnia
O Laboratório de Fitotecnia do Ifes, localizado no campus de Alegre, abriga uma série de atividades ligadas de pesquisa na área de Produção Vegetal. Com a iminência de rompimento de uma barragem, no dia 26 de janeiro, houve uma ordem para evacuação da região, incluindo todo o campus.
Equipamentos foram danificados no transporte feito às pressas, e os estragos só não foram maiores por causa da ação de alguns alunos, durante a madrugada, que levantaram os equipamentos para locais mais altos do laboratório.
A professora, Ana Paula Berilli, destacou que o apoio emergencial foi de extrema importância para a continuidade dos projetos de pesquisa do campus, em especial os vinculados ao Mestrado em Agroecologia, com prazos mais curtos para conclusão.
“É importante destacar que o auxílio emergencial foi liberado de maneira rápida e eficiente, o que nos serviu de estímulo diante das adversidades e também para contagiarmos nossos alunos e membros dos grupos de pesquisa a seguir com nossos projetos, pois muitos dos equipamentos perdidos são extremamente úteis e usados com muita frequência para coleta de dados e obtenção de amostras”, relatou Berilli. “Ficamos muito satisfeitos com o apoio da Fapes e pelo reconhecimento da nossa necessidade”, frisou.
Impactos no norte do Estado
A inundação na área de experimento de sistema alternativo do cultivo de cacau, em Linhares, norte do Espírito Santo, destruiu todas as plantas de cacaueiro em estudo. O conjunto de equipamentos de irrigação foi comprometido pela lama, além de ter tido partes carregadas pela água. Houve empobrecimento do solo com o arrastamento de matéria orgânica e de todo nutriente aplicado no experimento.
Segundo o pesquisador do Incaper, Enilton Santana, para restabelecer toda a estrutura danificada, é necessário investir no replantio de novas mudas e combater o matagal que surgiu após as chuvas. As plantas precisam de aplicação de matéria orgânica por dois anos para que sejam restabelecidas as condições de desenvolvimento.
Santana coordena o projeto de recuperação do sistema alternativo do cultivo de cacau com o auxílio extraordinário liberado pela Fapes. Ele afirma que as ações serão aceleradas ainda este mês e que a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) atrasou a aquisição de materiais necessários. “O que foi possível fazer, sem a utilização dos equipamentos, já foi executado”, pontuou o pesquisador.
Pimenta-do-reino e espécies nativas de Piper
A Fazenda Experimental de Linhares é uma das três fazendas administradas pelo Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (CPDI) Norte do Incaper. Às margens do Rio Doce, a fazenda sofreu com alagamentos intensos no início de 2020.
Um grande grupo de pesquisadores trabalha no local e utiliza diversos laboratórios instalados. Muitos estudos recebem fomento financeiro direcionado por chamadas publicadas lançadas pela Fapes. O apoio tem sido fundamental para a atração de jovens talentos – bolsistas de iniciação científica e pós-graduação – e a instalação de experimentos em laboratório e em campo. Dois importantes projetos foram afetados pela enchente de janeiro deste ano.
Uma das pesquisas trata de estratégias para incorporar variabilidade genética ao programa de melhoramento de pimenta-do-reino do Incaper a partir de espécies nativas de Piper. O outro projeto envolve o melhoramento genético da pimenta-do-reino visando à qualidade dos grãos.
O alagamento atingiu o viveiro, construído com o apoio da Fapes, matando parte das plantas cultivadas e comprometendo o restante do experimento, incluindo os materiais genéticos. A estrutura do viveiro foi danificada, assim como o sistema de irrigação.
“Se não fosse o apoio da Fapes, todos os estudos e avanços seriam totalmente perdidos”, ressaltou o pesquisador e coordenador do projeto, Lúcio de Oliveira Arantes. “Não conseguimos ainda avançar com todas as ações do projeto por causa da pandemia da Covid-19, mas com o recurso financeiro será possível restaurar o sistema de irrigação, dentro e fora do viveiro, substituir telhados danificados, ráfia de solo e mourões, e buscar novamente os genótipos perdidos com produção ou aquisição de mudas”, explicou. Com os recursos repassados, foram possíveis as aquisições de moto-bomba, tubos e conexões, tubos gotejadores e emissores para irrigação, por exemplo.
Novilhas leiteiras no norte
Com o alagamento da fazenda do Incaper, em Linhares, surgiu a preocupação sobre os efeitos dos resíduos e metais pesados oriundos da tragédia da Mariana, em Minas Gerais, na produtividade e qualidade do amendoim forrageiro e pastagem de braquiária. Houve redução na capacidade de suporte das forrageiras experimentais devido à morte de folhas que ficaram submersas. Com isso, os animais que estavam em avaliação no experimento tiveram que ser retirados dos piquetes e alocados em área reserva.
A agente de Pesquisa e Inovação em Desenvolvimento Rural Mércia Figueiredo aponta, em seu relatório, que será necessária nova análise de solo e correção da fertilidade, controle de invasores, replantio da pastagem e de amendoim forrageiro em áreas com falhas para posterior alocação dos animais na área.
Está prevista a instalação dos futuros experimentos de pastagem e produção animal em áreas da fazenda onde não há previsão de alagamento. Com a mudança de toda estrutura do CPDI-Norte do Incaper para os novos prédios, será gerada a demanda de apoio às ações experimentais como a instalação de viveiros, experimentos em campo agrícolas e pecuários.
“Ainda assim, a área onde é conduzido o experimento será utilizada futuramente no sistema de produção animal da fazenda de Linhares, desde que as devidas ações de manejo e correção da fertilidade sejam feitas conforme especificado para a cultura”, esclareceu Mércia Figueiredo.
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