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Geração após geração: ES coleciona empresas de tradição familiar

18 de agosto de 2023

Apesar dos desafios em manter os negócios, algumas organizações capixabas são exemplo, não só para o Estado, quando o assunto é sucessão

Geração após geração: ES coleciona empresas de tradição familiarMoinho de trigo do Grupo Buaiz, no Centro de Vitória Foto: Divulgação

Criar, manter e expandir um negócio no Brasil não é uma tarefa fácil. Apesar das dificuldades, o Espírito Santo tem exemplos de empresas que se mantêm de pé geração após geração.

Com uma linha de produção ativa durante 24 horas por dia, sete dias na semana e símbolo para os capixabas, a cidade de Vila Velha abriga uma fábrica antiga e que é quase impossível algum capixaba não conhecer: a Chocolates Garoto.

As histórias com a empresa não ficam apenas no imaginário de quem passa pelo bairro Glória, em Vila Velha, mas também entre os funcionários.

Um deles é o Luiz Paulo de Freitas, gerente do RH da fábrica, que desde jovem sonhava em trabalhar na empresa.

"Quando era jovem, eu estudava ao lado da fábrica e passava todo dia aqui e sentia aquele cheiro e tinha uma grande vontade de um dia poder trabalhar aqui dentro e, desde então, eu vivo essa minha vontade e sonho há 26 anos e meio. Estou na fábrica e vim aqui pedir uma oportunidade na época e participei de um processo que outras 100 pessoas participaram comigo", lembrou o funcionário.

O nome veio dos garotos que vendiam balas em 1929, quando a fábrica começou. Na última quarta-feira (16), a empresa completou 94 anos de existência.

Geração após geração: ES coleciona empresas de tradição familiarFábrica de chocolates da Garoto, em Vila Velha, ES Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

A Garoto é uma das 10 maiores fábricas de chocolate do mundo. Uma história que começou com a família Meyerfreund e segue viva, mesmo após a incorporação feita pela gigante Nestlé.

"Há pouco tempo, o filho do senhor Helmut Meyerfreund esteve conosco e pôde ver toda a evolução da história que o pai dele começou na década de 20, 30 e 40. Para nós é muito orgulho poder dar continuidade a esse processo que foi iniciado por uma família precursora na época e muito visionária", apontou Michey Piantavinha, diretor-geral da Garoto.

Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2020, mostram que, das 19 milhões de empresas existentes atualmente no Brasil, 90% têm origem familiar.

Em contrapartida, 75% delas fecham as portas quando os herdeiros assumem os negócios e apenas 5% do total se mantém ativas após a 3° geração de sucessores.

Para a gerente de negócios da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), Flávia Santos, independente de se tratar de negócios na família, ou não, o planejamento a longo prazo é de suma importância.

"Isso significa que a gente precisa pensar em cargos de liderança, em cargos-chave dentro dessas empresas e como é o planejamento estratégico disso ao longo prazo, sempre alinhado com as necessidades e tendências de mercado. Sendo família ou não, a gente passa por treinamento, desenvolvimento, planejamento estratégico, visão de negócio e de mercado", apontou a especialista.

Geração após geração: ES coleciona empresas de tradição familiarFoto: Divulgação

Tradição no ES, Grupo Buaiz completa 82 anos

Outra empresa familiar que também se mantém de pé é o Grupo Buaiz, que em outubro completa 82 anos.

Do moinho de trigo evoluiu para café, massas para bolo e outras atividades: comunicação, shopping, setor imobiliário, educação e, mais recentemente, inovação.

Do patriarca Alexandre Buaiz, o comando passou para Américo Buaiz, e hoje é de Americo Buaiz Filho, mas a quarta geração também faz parte da gestão dos negócios.

Geração após geração: ES coleciona empresas de tradição familiarAmerico Buaiz Neto e Americo Buaiz Filho Foto: Cloves Louzada

Segundo aponta o presidente do Grupo Buaiz, Americo Buaiz Filho, as gestões precisam se ater ao fato de que, a empresa só alcançará a longevidade, se souberem gerir as pessoas e aproveitar os novos talentos que podem surgir.

"A minha percepção é de que as pessoas não se admitem, em geral, finitas e nós somos finitos. Se não admitirmos que somos finitos, nós não preparamos sucessão, não debatemos o nascimento de novos talentos, o surgimento de novas lideranças e as empresas são feitas de pessoas. Se você quiser perenizar a empresa, você tem que admitir que as pessoas são falíveis, são finitas, mas a empresa pode se eternizar, então é a ideia de legado que tem que prevalecer, tem que ser algo além do pai, além do filho, além da família. Você tem que transformar os colaboradores em uma grande família", afirmou.

Resistindo ao tempo, superando obstáculos, se adaptando às circunstâncias e seguindo em frente, rumo à marca de empresas centenárias, os negócios genuinamente capixabas já estão no imaginário da população e contribuem para a geração de emprego e renda.

"As companhias que param no passado, elas tendem muito a ter dificuldade de progredir, então, continuar avançando com uma empresa familiar depende muito da continuidade de pensar no futuro e de inovar", ressaltou o diretor da Garoto.

Para Americo, além de propósito, outra preocupação que o empresariado deve ter é com as questões sociais.

"Eu acho que a vida tem que fazer sentido e sentido amplo, tem que ter propósito. Se, enquanto empresário, você não tiver uma preocupação social, você é um empresário que não pode se dizer completo com direito algum".

(Fonte: Folha Vitória)



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