Ford chama trabalhadores de volta para produzir peças de reposição, após anunciar demissão
19 de janeiro de 2021Na Bahia, 90 caminhões não puderam ser descarregados por falta de funcionários. Sindicatos dizem que multinacional ainda não negociou plano de saída do país
Fechamento da fábrica de Taubaté (SP) da Ford no Brasil: clima é de pessimismo entre funcionários – Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo
A Ford iniciou na segunda-feira (18) a convocação oficial para que os empregados das fábricas que a empresa fechou no país retornem ao trabalho para produzir peças de reposição, segundo os sindicatos que representam os metalúrgicos das unidades.
Mas os funcionários resistem. As entidades são contra a volta dos funcionários até que a multinacional negocie indenizações e um plano de saída do país. Enquanto isso, o governo já avalia um plano B para as fábricas da montadora.
“A Ford está mandando comunicados, mas a adesão está zero, está tudo parado, ninguém está indo (dar expediente). A fábrica precisou alugar um galpão porque na região de Simões Filho (BA) não tinha gente para descarregar mercadorias de 90 caminhoneiros aqui em Camaçari”, afirma Julio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari.
Segundo ele, a multinacional não negociou ainda como será o processo de demissão dos seus empregados nem sentou formalmente com os sindicatos para discutir as rescisões e indenizações.
Ford deu 'tapa na cara', diz sindicalista
“Ninguém voltou porque o que a Ford fez foi um tapa na cara, não negociou nada com a gente e pede para a gente retornar ao trabalho? Não dá”, afirma Bonfim.
A Ford anunciou na semana passada uma reestruturação que envolve a demissão de cerca de 5.000 funcionários diretos no Brasil e na Argentina, onde será produzida a maior parte dos veículos da marca vendidos no mercado brasileiro. Também virão carros do Uruguai e México.
EC São Paulo (SP) 12/01/2021 Fechamento das fabricas da Ford no Brasil – Foto: Edilson Dantas/O Globo
Uma série de fatores levaram a montadora americana a decidir fechar as suas três fábricas no Brasil.
A empresa mantinha no país uma fábrica de motores e de transmissão em Taubaté (SP) e uma planta montadora em Camaçari (BA), que já interromperam a produção, além de uma unidade da marca Troller em Horizonte (CE), que fecharia no fim do ano.
Procurada pela reportagem, a Ford não se manifestou sobre a convocação aos trabalhadores e sobre eventual negociação com sindicatos.
Perda de 118 mil empregos, diz Dieese
Bonfim e o governador da Bahia, Rui Costa (PT) foram a Brasília nesta terça-feira para visitar as embaixadas de Índia, Coreia do Sul e Japão na busca por oportunidades de investimentos para Camaçari, na tentativa de mitigar as demissões na região.
Segundo estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese), as demissões da Ford no país podem significar uma perda potencial de mais de 118.864 mil postos de trabalho, somando empregos diretos, indiretos e induzidos.
A perda de massa salarial no país é estimada pelo Dieese em R$ 2,5 bilhões ao ano, considerando os empregos diretos e indiretos perdidos. A entidade também projeta uma queda de arrecadação de impostos de R$ 3 bilhões anuais.
Segundo estudo da entidade, a Ford chegou a empregar 21.800 pessoas em 1980. Em 1990, tinha 17.578 trabalhadores. Nove anos depois, 9.153. Atualmente, segundo a entidade, são 6.171 operários empregados, sendo 4.604 mil na unidade de Camaçari (BA), 830 em Taubaté (SP) e 470 em Horizonte (CE).
Valedoitaúnas/Informações O Globo/Economia