Falta de peças paralisa montadoras e novos carros devem vir mais caros
02 de março de 2021Renault estima impacto sobre 100 mil automóveis no mundo e regularização de fornecimento só no 2º semestre. Falta de peças já afeta produção do Honda Civic
Indústria automotiva sofre com falta de insumos e se vê obrigada a paralisar produção – Foto: Divulgação/Nissan
A escassez global no mercado de semicondutores tem levado o setor automotivo brasileiro a paralisar ou interromper a produção de veículos no país, o que pode ter como efeito a alta nos preços de veículos, segundo analistas do setor. A situação, de acordo com estimativa da Renault, deve piorar no segundo trimestre, já que o restabelecimento do suprimento é previsto para depois de junho.
"Nossa estimativa mais recente, que leva em conta uma recuperação da produção no segundo semestre, aponta para um risco da ordem de 100.000 veículos em todo o mundo", informa a Renault, em nota. A montadora afirma, no entanto, que não sofreu impactos em sua produção no país até agora.
Honda e General Motors anunciaram na semana passada a parada da linha de montagem e férias coletivas a funcionários da produção de veículos, respectivamente. A Volvo não suspendeu a produção de suas fábricas, mas diz que também precisou fazer paradas eventuais.
O problema de falta de matéria-prima para a produção de veículos é considerado um efeito colateral da pandemia do coronavírus, que levou a China, principal produtora dos semicondutores, a redirecionar parte de sua produção ao mercado interno e a regiões e segmentos econômicos com maior poder de compra, segundo Milad Kalume, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato.
O setor automotivo, nessa dinâmica, perde a preferência para setores como os de celulares, TVs, monitores e games, segundo ele.
"Para a indústria automotiva, semicondutores e derivados têm um valor agregado menor do que dentro de celulares e outros eletrônicos. Em tempos de escassez, essas outras indústrias, que pagam mais pela matéria-prima, são priorizadas e a indústria automotiva fica em segundo plano", explica.
O fato de mesmo montadoras com histórico de bom planejamento, que buscam diversificar os fornecedores para evitar riscos, terem parado a produção, é mau sinal, diz Kalume. A consequência, no curto prazo, pode ser o aumento de preços dos veículos mesmo em meio a um cenário de demanda fraca.
GM propõe layoff pra 600 empregados
"A necessidade de parar uma linha de produção novamente depois de um ano de pandemia é algo sério e contundente. Faz as empresas repensarem o uso de caixa e preço de produto final", ressalta.
A General Motors, que vai colocar os operários da sua fábrica em Gravataí (RS) em férias coletivas por 20 dias neste mês, diz que todo o setor automotivo na América do Sul "tem sido impactado pelas paradas de produção durante a pandemia e pela recuperação do mercado mais rápida que o esperado. Isso tem o potencial de afetar de forma temporária e parcial nosso cronograma de produção".
Na fábrica de São José dos Campos, o sindicato dos metalúrgicos diz que a GM propôs layoff (suspensão temporária de contratos) para até 600 funcionários que atuam no 2º turno da linha de produção por dois meses.
As partes ainda negociam os termos do layoff. A categoria deve fazer uma assembleia nesta terça-feira e as partes devem voltar a se reunir na quarta-feira (3).
Em nota, a GM informou que trabalha com fornecedores e sindicato para "mitigar os impactos gerados" pela quebra na cadeia de suprimentos.
A Honda também fará parada temporária em sua linha de produção na fábrica de Sumaré (SP) devido ao que chama de impactos da pandemia nas cadeias globais de suprimentos. A interrupção no fornecimento de semicondutores já afeta a produção do Civic.
Segundo a montadora de origem japonesa, há "um desequilíbrio entre oferta e demanda de semicondutores, afetando toda a indústria". O recesso foi dividido em duas etapas: a primeira já ocorreu, entre 5 e 12 de fevereiro, e a segunda será de 1º a 10 de março.
A Volvo, que produz caminhões e ônibus no Brasil, também diz ter sentido dificuldades para obter insumos no mercado internacional, mas ainda não precisou parar a produção.
"Temos tido paradas eventuais em algumas linhas, mas com rápida recuperação em dias posteriores. Até o momento, não houve impacto nas entregas de caminhões. Temos negociado com nossos clientes uma programação de prazo que os atenda", diz a empresa, em nota.
Gargalo desde o fim de 2020
A Volkswagen afirmou em nota que uma "escassez significativa de capacidade de semicondutores" tem trazido gargalos ao setor automotivo brasileiro desde o fim do ano de 2020.
A empresa diz que todos os seus modelos de veículos podem ser afetados pelo problema na América do Sul, mas afirma que ainda não precisou para nenhuma fábrica. A montadora estima que o fornecimento só deverá se estabilizar no início do segundo semestre.
Segundo a Volkswagen, inicialmente o bloqueio automotivo global relacionado ao coronavírus levou à redução dos estoques e, por outro lado, ao redirecionamento de semicondutores para outras indústrias (informática, consumo etc).
"Nos meses seguintes, a indústria automotiva se recuperou muito mais rápido e abruptamente do que o esperado, enquanto o aumento da produção de semicondutores automotivos para peças de suprimento central foi comparativamente lento. O resultado são adaptações/reduções em toda a indústria na produção de automóveis", diz a companhia, em nota.
Valedoitaúnas/Informações iG