Evangélica, noiva expõe machismo passado em curso de noivos
27 de julho de 2020Jéssica Arruda é da igreja Adventista do Sétimo Dia e acredita que o curso minimiza o abuso e a violência doméstica
Jéssica Arruda – Foto: Reprodução/Instagram
Um vídeo da corretora de seguros Jéssica Arruda, de 28 anos, ganhou repercussão nas redes sociais. Integrante da igreja Adventista do Sétimo Dia, a jovem está prestes a casar e ficou incomodada ao participar de um curso de noivos promovido pela instituição religiosa. Ela resolveu expor o que pensa na busca de “uma sociedade menos machista, opressora, violenta e abusiva”.
“Eu sei que a igreja faz cursos como esses tentando alertar o casal para coisas que vão viver no futuro, mas, apesar da intenção, alguns conselhos estão mais próximos da violência, do abuso e de sobrecarregar o parceiro ou parceira”, declarou Jéssica em um trecho do vídeo de 17 minutos.
No seu discurso, ela rebateu pensamentos ultrapassados. “A gente é criada numa cultura em que há o mito de que o homem tem mais necessidade sexual que a mulher. E eu sinto em dizer que não é. Não faz sentido. Se você um dia pensou que isso é verdade, eu estou aqui pensando que seria injusto da parte de Deus colocar isso inerente ao corpo físico”.
A noiva também ressaltou que não é mais possível ignorar os inúmeros casos de violência doméstica e feminicídio que acontecem diariamente. “O número de violência doméstica dentro de uma relação é enorme, tudo isso porque se entende como normal um homem ficar violento porque a mulher não quer sexo”.
A grande preocupação de Jéssica foi ver que no curso promovido pela igreja era normatizado situações não aceitáveis. “A igreja tem tanta influência sobre as pessoas, e tudo o que ela fala normalmente as pessoas abaixam a cabeça e só absorvem, então eu achei que seria a oportunidade de problematizar mesmo”, declarou a noiva em entrevista ao Lado B, no Instagram.
Jéssica nasceu em uma família religiosa e não pretende se afastar da igreja: “É uma curiosidade geral o motivo que me faz ficar na igreja mesmo sabendo que ela tem tantos erros. Penso que seria muito fácil eu sair e tentar seguir um caminho sozinha, mas acredito que é um papel importante e difícil continuar ali dentro para reconciliar tantas pessoas que desistiram. Eu acho que resistir dentro dela eu tenho muito mais a contribuir”.
Em resposta, a assessoria de imprensa da Igreja Adventista do Sétimo Dia entrou em contato com o Delas e nos enviou a seguinte nota de esclarecimento:
"A Igreja Adventista do Sétimo Dia está reavaliando a redação de partes de um dos seus guias para noivos. E está sempre aberta a considerações sobre os materiais que produz.
No entanto, é importante salientar que, por se tratar de um manual completo, qualquer referência a trechos isolados pode gerar interpretações equivocadas.
A denominação ensina que o casamento deve ser um relacionamento harmonioso, igualitário e de respeito mútuo. Incentiva o diálogo permanente do casal e o compartilhamento de responsabilidades dentro da relação matrimonial.
Ressalta, ainda, que não promove ou jamais promoveu conteúdo que sugere relacionamento abusivo dentro do casamento. Isso feriria as crenças bíblicas e princípios básicos da dignidade humana, defendidos pela organização adventista em todo o mundo.
Há mais de uma década, a Igreja Adventista mantém um projeto chamado ‘Quebrando o Silêncio’ (www.quebrandoosilencio.org), que combate a violência praticada contra mulheres, crianças e idosos, destacando seu compromisso de proteger e cuidar da vida".
Valedoitaúnas/Informações iG