Eunício Oliveira compra apartamento de Ciro Gomes em leilão por R$ 520 mil
14 de julho de 2021Imóvel foi leiloado para pagar dívida do ex-governador do Ceará com o ex-presidente Fernando Collor após perder processo judicial
Edifício em que está localizado o apartamento de Ciro Gomes arrematado por Eunício – Foto: Reprodução
O ex-presidente do Senado, Eunício Oliveira, arrematou em leilão um apartamento de R$ 520 mil de seu desafeto político, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT). O pregão foi autorizado pela Justiça como forma de pagamento de indenização por danos morais ao senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL).
Collor processou Ciro após o pedetista afirmar, em entrevista publicada em 1999, que o ex-presidente Lula deveria ter chamado Collor de "playboy safado" e "cheirador de cocaína" em debate nas eleições de 1989.
Ao GLOBO, Eunício disse ter cerca de 40 processos contra Ciro Gomes na Justiça do Ceará, boa parte deles por injúria, calúnia e difamação. Os dois políticos, após anos de oposição, chegaram a fazer uma trégua, mas o cessar-fogo foi rompido em 2018, quando Eunício perdeu a reeleição para o Senado.
“O Ciro mente tanto que vai acreditando no que ele vai dizendo. Em 2014 inventou mil histórias contra mim, usaram toda a máquina e agora tenho 39 processos contra ele. Ganhei quatro em primeira instância já. Há uns dias, saiu um de R$ 100 mil por injúria e calúnia, mas ele pode recorrer”, diz Eunício.
O ex-presidente do Senado afirma que vendeu uma de suas empresas para um grupo espanhol há dois anos e resolveu investir no setor imobiliário. Há alguns meses, recebeu uma ligação de um dos auxiliares sobre um imóvel.
“O menino me ligou e falou que tinha um apartamento. Eu não me interessei, mas aí ele disse: "O apartamento é do Ciro". Eu respondi: "Se tiver no preço, então, eu vou comprar", ri Eunício, que viu na compra do imóvel por R$ 520 mil uma oportunidade de negócio mas também política: “Assim eu tenho o direito de dizer que ele é um sujeito que não consegue administrar a língua, não administra o patrimônio. Como quer administrar o Brasil?”, disse.
A condenação de Ciro no processo contra Collor, a título de danos morais, inicialmente foi fixada em R$ 100 mil. Depois, chegou a ser reduzida para R$ 60 mil pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Com os juros moratórios desde os fatos, o valor chegou a cerca de 400 mil.
Fachada do prédio – Foto: Reprodução
O imóvel leiloado está localizado em Fortaleza, capital cearense, e foi avaliado em R$ 409.647,90 pelo site Megaleilões, que realizou o pregão.
De acordo com o juiz, o valor da condenação seria suficiente para compensar Collor pela ofensa sofrida e para pôr um freio na conduta do ex-ministro.
“Não existe qualquer dúvida de que tais expressões tenham sido proferidas com intenção clara de ofender o autor, mesmo porque escapam plenamente a qualquer campo do debate político e ingressam em seara pessoal que jamais deve ser exposta”, afirmou o juiz Marcos Roberto de Souza Bernicchi.
Quando disputou a campanha presidencial, Ciro afirmou que o baixo nível da campanha seria a única forma de o povo compreender a linguagem e distinguir os bons candidatos dos picaretas.
“Dizem que campanha tem que ser de alto nível. Isso só interessa aos picaretas. Tem que ser o mais baixo nível, o que não significa má educação e nem violência” disse o então pré-candidato.
Para justificar sua afirmação, Ciro Gomes lançou mão do que aconteceu no debate na televisão durante a campanha de 1989 entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor. De acordo com Ciro, o exemplo serviria para mostrar como não se deve agir. Segundo o ex-deputado federal, Lula, em vez de ter mantido o nível do debate, deveria ter chamado Collor de “playboy” e “cheirador de cocaína”.
Em nota, Ciro comentou sobre o leilão do apartamento afirmando que "trata-se de ação judicial eivada de vícios e nulidade, com recurso pendente de julgamento ao Superior Tribunal de Justiça". O ex-ministro disse também que confia na "decisão isenta e técnica dos tribunais superiores que darão palavra final sobre a causa".
"Desde o início do processo, em 1999, adversários tentam se aproveitar do fato para fazer politicagem. O clímax se deu agora quando um deles, por mera chicana, aproveitou-se para arrematar os direitos do devedor fiduciário do imóvel, que sequer é propriedade de Ciro Gomes", disse em nota.
Valedoitaúnas (O GLOBO)