Epidemia de solidão vira crise de saúde pública
01 de março de 2024A psicóloga Anne Crunfli oferece insights valiosos sobre as características contemporâneas
Epidemia de solidão vira crise de saúde pública – Foto: FreePik
Na era da internet e das redes sociais, parece existir um fenômeno curioso ocorrendo: mesmo estando mais conectados do que nunca, muitas pessoas sentem uma crescente sensação de isolamento. Isso tem sido alvo de preocupações ao redor do mundo. O The Lancet, um dos mais respeitados jornais científicos, anunciou recentemente a formação de um comitê para estudar o tema. Em julho, os editores da publicação enfatizaram o quão prejudicial para a saúde física e mental este fenômeno pode ser.
A solidão está ganhando reconhecimento como uma preocupação social e de saúde pública. Países como o Japão e o Reino Unido nomearam “ministros da solidão” para tratar do assunto. Nos EUA, a autoridade máxima em saúde pública do país comparou o impacto da solidão ao do tabagismo, destacando sua associação com várias condições de saúde física e mental.
"A nossa epidemia de solidão e isolamento tem sido uma crise de saúde pública subestimada que tem prejudicado a saúde individual e social. Nossos relacionamentos são uma fonte de cura e bem-estar escondidos à vista de todos – algo que pode nos ajudar a viver vidas mais saudáveis, plenas e produtivas", disse Vivek Murthy.
Na medida em que a tecnologia avança, paradoxalmente, nos encontramos em um labirinto de isolamento, diz. Anne Crunfli, Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental. Segundo ela, a constante exposição a vidas aparentemente ideais nos empurra para um ciclo de comparações e insatisfação, destacando a discrepância entre o real e o virtual.
"As pessoas, em sua maioria, não sabem o que querem, se vêem sem identidade, perdidas em tantas possibilidades de exercer a sua posição no mundo. O indivíduo está só na sua construção, na sua individualidade e em suas possibilidades. É um ser só e único no mundo", complementa a psicóloga. "As redes sociais não servem apenas como um interlocutor para termos acesso reciprocamente, mas também como um veículo para a projeção de um eu idealizado", destaca a psicóloga. "Isso pode levar a uma sensação de desconexão entre o eu real e o eu projetado, contribuindo para a solidão", complementa.
Segundo Anne, é importante fazer o “resgate do eu interiorizado” como uma forma de contraponto ao modelo social imposto. "Essa busca por uma identidade mais autêntica e profunda pode oferecer uma saída para o indivíduo que se sente perdido na busca por um eu idealizado nas redes sociais", enfatiza a psicóloga.
Diante desse cenário, afirma a psicóloga, torna-se premente a necessidade de avaliar as interações sociais e como se dá o relacionamento com a tecnologia. Encontrar um equilíbrio saudável entre a conectividade digital e a conexão genuína com os outros e consigo, pode, em um primeiro momento, ser uma tarefa difícil, mas sem dúvida é uma batalha importante a ser lutada nesta quadra da história.
Para enfrentar a solidão nesta era digital, é crucial unir três ideias: fortalecer nossos laços com a comunidade, ser seletivo com o que vemos nas redes sociais, e refletir sobre nossas próprias escolhas e identidade. Isso significa construir relações reais, escolher conteúdos que nos façam bem e pensar por nós mesmos, fora das pressões sociais. Para Anne, a combinação pode nos ajudar a nos sentir mais conectados e satisfeitos com nossas vidas.
Ela também oferece dicas práticas de como fazer um uso consciente das redes sociais e proteger sua família:
- Limite o tempo de uso, fazendo uso positivo das redes. Como? Prestando atenção ao que está consumindo, é um conteúdo qualitativo? Lembre-se, o conteúdo importa, faça uma “limpeza” nos perfis, canais que você segue, busque conteúdos que agreguem algo para você e que não o faça entrar em uma roda comparativa desmotivadora.
- Para os pais ou cuidadores, é importante monitorar as crianças, todos os aplicativos hoje, ou sistemas operacionais estão permitindo o controle parental.
- Verifique se o conteúdo está adequado para a idade e, acima de tudo, converse para entender o que seu filho (a) consume ou como faz uso das redes sociais. Como as crianças estão em processo de desenvolvimento, estimule a conversa, o aprendizado, a maioria das crianças quando entendem o motivo de algo ser prejudicial, deixam de lado tal comportamento, por isso converse, explique, não simplesmente imponha-se. Lembre-se, você é o adulto, é você quem está guiando essa criança.
(Fonte: iG/Delas)