Entenda a relação entre o câncer de garganta e o sexo desprotegido
21 de outubro de 2024Alta incidência do vírus do HPV tem relação com o aumento de casos de pacientes com câncer de garganta, explicam especialistas
Foto: Getty Images
A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) pode causar o desenvolvimento de um câncer de garganta. Este tipo de tumor, conhecido também como de orofaringe, costuma ser mais associado ao tabagismo, mas, nos últimos 20 anos, a quantidade de casos em consequência de infecções pelo HPV acabou tornando-o um tumor mais ligado ao sexo desprotegido do que ao cigarro.
O vírus HPV está relacionado a vários tipos de tumor: de esôfago, boca, colo de útero, pênis, ânus e vagina, todos órgãos envolvidos no ato sexual. Em um artigo ao portal de divulgação científica The Conversation, o oncologista da Universidade de Birmingham Hisham Mehanna classificou o sexo oral desprotegido como responsável por uma epidemia de casos de câncer de garganta.
“Pessoas com seis ou mais parceiros de sexo oral desprotegido ao longo da vida têm 8,5 vezes mais probabilidade de desenvolver câncer orofaríngeo do que aqueles que não praticam sexo oral”, afirmou Mehanna.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), entre 2023 e 2025 são esperados 15,1 mil diagnósticos de cânceres da cavidade oral, envolvendo tumores de lábio, boca e garganta. “Uma fração dos tumores de orofaringe é relacionada à infecção pelo HPV, com influência também no prognóstico da doença”, destacou o INCA.
Os tumores causados pelo HPV se apresentam com mais nódulos na garganta do que os relacionados ao tabagismo, por exemplo. A multiplicidade das lesões pode tornar o tratamento deste tipo de tumor mais complicado.
“O HPV é um vírus comum e, na maioria das vezes, o próprio sistema imunológico o elimina. Mas ele pode causar infecção persistente e, ao longo de anos, de forma silenciosa, criar um tumor”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Clóvis Klock.
Como o HPV causa o câncer de garganta?
O câncer não é uma doença sexualmente transmissível. O que costuma ocorrer é uma infecção pelo HPV durante o ato sexual sem sintomas de curto prazo. A presença do vírus costuma ser imperceptível no organismo, a não ser pelo aparecimento de pequenas verrugas.
A longo prazo, porém, o vírus acaba estressando as defesas do corpo nas regiões em que houve contato sexual e aparecem pequenas lesões que levam ao câncer, conforme explicou o infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), em entrevista anterior ao Metrópoles.
No caso do câncer de garganta, após o sexo oral desprotegido, se formam lesões que, a longo prazo, podem ocasionar a formação de tumores na região onde a vírus se instalou.
Um exame de imuno-histoquímica, que analisa as células tumorais, pode confirmar se a origem do tumor está relacionada ao HPV.
Sintomas podem ser silenciosos e a melhor forma de prevenção do HPV é se vacinar – Foto: Getty Images
Como prevenir?
O HPV pode ser facilmente prevenido com um imunizante que é aplicado gratuitamente pelo SUS para meninos e meninas entre 9 a 14 anos, com esquema de dose única. A vacina é aplicada nesta idade para garantir a imunidade antes do início da vida sexual, prevenindo as variações do vírus mais associados ao desenvolvimento do câncer.
“É importante que as pessoas tomem cuidados como usar camisinha, vacinar as meninas e os meninos de 9 a 14 anos como proteção para alguns tipos de HPV e apoiar a nova estratégia nacional de prevenção de rastreamento do HPV por teste molecular PCR”, conclui Klock.
(Fonte: Metrópoles)