Empresária de 26 anos tem pulmão perfurado em sessão de acupuntura no MT
16 de outubro de 2021Jessika Aldrey Germiniani procurou o hospital horas depois do procedimento, com dor e falta de ar, e foi submetida a uma cirurgia de emergência
Jessika Aldrey Germiniani, de 26 anos, está internada após ter o pulmão perfurado – Foto: Instagram/Reprodução
A empresária Jessika Aldrey Germiniani, de 26 anos, teve o pulmão perfurado durante uma sessão de acupuntura no município de Sorriso, no Norte do Mato Grosso. Horas após ser submetida ao procedimento para aliviar dores no pescoço ela sentiu dor e falta de ar, e precisou colocar um dreno no órgão.
Casos como o da empresária Jessika Aldrey Germiniani, que teve o pulmão perfurado em uma sessão de acupuntura para aliviar dores no pescoço, como o de Jessika, são raros, explica o coordenador da Associação Brasileira de Acupuntura (ABA), Sérgio Galdino. No entanto, ele diz que técnica pode causar traumas a tecidos e órgãos do paciente quando realizada por alguém sem experiência ou habilitação.
"Por exemplo, não se recomenda agulhas cumpridas nessa região, porque os pontos de acupuntura são pontos superficiais, de três a quatro milímetros. Então colocamos agulhas pequenas, e mesmo que aconteça de a pessoa esbarrar o braço na agulha, ela não chega a perfurar o órgão", afirma.
Sérgio explica que agulhas cumpridas são colocadas, geralmente, em regiões como os glúteos e ombros.
"Até porque o profissional quando é formado é orientado a não colocar agulhas grandes em regiões dos órgãos vitais. Então é muito raro isso acontecer", diz.
O coordenador afirma que o curso da ABA de acupuntura é de 25 meses e ensina técnicas específicas. Um profissional precisa ter essa habilitação para atuar.
A associação também afirma que está apurando a situação para saber se a profissional tem realmente habilitação para a acupuntura ou se entra no procedimento ilegal.
O médico acupunturiatra André Luiz Zanchetta Penedo, que atua na área há mais de 20 anos, explicou que afirma que apesar de parecer simples, a acupuntura requer técnicas específicas: a agulha deve ser inserida em uma profundidade e ângulo certo, com o estímulo certo para acontecer o resultado.
Jessika Aldrey Germiniani usará um dreno até limpar todo o ar do pulmão – Foto: Jessika Germiniani/Arquivo pessoal
"Se for um paciente magro, por exemplo, você não pode aprofundar a agulha como [se fosse] em um paciente com um peso mais elevado. É preciso também saber o que a pessoa tem antes de resolver o problema. Tem que ter noção do diagnóstico do paciente e do que a sua terapia faz".
O especialista afirmou ainda que não é normal sentir dores intensas no momento do procedimento e que, caso isso aconteça, o paciente deve ser acompanhado e encaminhado ao hospital.
"Casos assim são raros. Não é normal sentir dor, pois quando estimula o ponto certo não há dor. O paciente pode sentir uma sensação de choque ou câimbra, dependendo do ponto, mas é superficial. O maior problema nesse caso foi ter orientado a paciente a ficar em casa", avaliou.
Há mais de 20 anos a acupuntura é reconhecida no Brasil e está disponível de graça, no SUS. As agulhas, quando aplicadas sobre algumas regiões específicas, são capazes de tratar diversas doenças físicas ou emocionais como sinusite, asma, enxaqueca ou artrite. Elas também podem melhorar o sistema imunológico.
Quando se aplica uma agulha em um determinado local, a energia é estimulada a fluir para determinados pontos. Esse estímulo viaja pelo corpo através de caminhos chamados meridianos. Ele [o estímulo] atinge terminações nervosas que são ligadas com órgãos e vísceras.
Qualquer pessoa pode ser tratada com acupuntura, inclusive gestantes e idosos (com indicação correta).
O Ministério da Saúde informa que, segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), a Medicina Tradicional Chinesa (MTC)/Acupuntura é de caráter multiprofissional. É necessária a formação em cursos de especialização.
Além de aliviar a dor, a técnica é utilizada como terapia preventiva e pode evitar que as dores aumentem e comprometam outros locais.
O caso
Jessika disse ter procurado uma massoterapeuta no início da semana, pois estava com dores no pescoço. Segundo a jovem, a profissional, que atende aos clientes na casa dela, insistiu em realizar uma sessão de acupuntura nas costas para adiantar o processo de recuperação.
"Eu senti muita dor na hora, mas ela falou que fazia parte do procedimento e me liberou para ir para casa. No mesmo momento comecei a sentir dor e falta de ar. Cheguei em casa tentei deitar, mas não conseguia e a falta de ar foi aumentando", relatou a empresária.
Horas após a sessão, Jéssika procurou o hospital e passou por uma cirurgia de emergência.
A reportagem entrou em contato com a profissional responsável pelo procedimento, mas as mensagens e ligações não haviam sido atendidas até a última atualização desta reportagem.
A empresária afirmou que ligou para uma fisioterapeuta com quem já havia feito acupuntura algum tempo atrás, para tentar saber o que aconteceu.
"Ela sugeriu que poderia ter acontecido o mais improvável, que era ter perfurado meu pulmão, e pediu para eu procurar o hospital imediatamente. Também liguei para a massagista para perguntar quantos centímetros ela havia enfiado a agulha, mas ela não explicou direito, falou que era coisa da minha cabeça", contou.
No hospital, Jessika fez um exame de tomografia, que apontou uma perfuração no pulmão (veja imagem abaixo).
Exame apontou que o ar está comprimindo o pulmão de Jessika Germiniani – Foto: Arquivo pessoal
O laudo apontou pneumotórax, descrito como "presença de ar entre as duas camadas da pleura (membrana fina, transparente, de duas camadas que reveste os pulmões e o interior da parede torácica), resultando em colapso parcial ou total do pulmão". Entre os sintomas, estão dificuldade respiratória e dor torácica.
"No momento em que saí da tomografia, vi o médico vindo na minha direção com uma expressão no rosto de que não daria boas notícias. Foi uma situação extremamente delicada. Ele [médico] disse que um dia a mais em casa teria sido fatal. Eu iria morrer em casa sem ninguém saber o que estava acontecendo", disse Jessika.
A jovem contou que está usando um dreno no pulmão e segue sem previsão de alta.
"Fiquei apavorada quando o médico falou que eu precisava de uma cirurgia de emergência. Comecei chorar, entrei em choque. Tenho um filho de 5 anos, que hoje poderia estar sem mãe. O médico disse que ganhei uma nova vida".
A empresária deve ficar com o dreno até que o ar seja extraído. Depois, será acompanhada por uma fisioterapeuta.
Valedoitaúnas (g1)