Detran e INSS confundem motorista com homônimo morto e homem perde CNH e o emprego
09 de abril de 2022Órgãos pensaram que João Augusto Pereira da Silva tinha morrido, mas óbito na verdade era de uma pessoa com o mesmo nome e data de aniversário
João Augusto Pereira da Silva foi confundido por um homônimo morto em 2020 – Foto: Arquivo pessoal
O motorista de caminhão, João Augusto Pereira da Silva, de 29 anos, teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) cancelada após ser confundido com um homônimo nascido no mesmo dia e ano, mas que morreu há dois anos. Para os sistemas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Detran, o caminhoneiro estava morto desde 4 dezembro de 2020. Sem sua licença para dirigir, ele acabou perdendo o emprego em uma transportadora.
Pereira soube do cancelamento quando decidiu instalar a CNH digital em seu celular. Assim que acessou o aplicativo, ele recebeu a notificação que sua habilitação não estava válida.
“Pensei que o problema fosse o teste toxicológico, que estava vencido e os motoristas precisam fazer. Eu fiz o teste mas a CNH continuou cancelada. Daí eu fui ao Detran, aqui em Itaquaquecetuba (SP) perguntei o motivo e os funcionários ficaram andando para lá e para cá, sem saber o que fazer. Demoraram um tempo e um deles veio falar que minha CNH estava cancelada por óbito em 4 de dezembro de 2020”, contou Pereira.
Quando ouviu a explicação, o motorista ficou "sem reação". Ele olhou para o cadastro do Detran e percebeu que todos os dados estavam corretos: seu nome completo, número da habilitação e data de nascimento.
“Eles me orientaram a procurar o INSS para fazer uma prova de vida, mas ninguém me passou informação. Então eu fiz um boletim de ocorrência”, disse Pereira.
Somente após reclamar nas mídias locais que o motorista recebeu um email do INSS com a declaração de óbito do homônimo.
“O documento era de um rapaz do Rio de Janeiro com o mesmo nome e a mesma data de nascimento que eu. E essa pessoa morreu na data apontada, de 4 de dezembro de 2020. Era um balconista que sofreu parada cardíaca”, afirmou.
Com essa declaração em mãos, Pereira retornou ao Detran e finalmente conseguiu desembaraçar sua situação. De acordo com o órgão de trânsito, "o prontuário do condutor foi desbloqueado nessa quinta-feira (7), na unidade de atendimento do Poupatempo, em Itaquaquecetuba, imediatamente após o motorista apresentar os documentos comprobatórios do INSS".
O Detran acrescentou que o cancelamento ocorreu "após comunicação do INSS, que atualiza periodicamente o Detran.SP sobre óbitos". Assim que os dados sobre mortes entram no sistema, ocorre o cancelamento automático do documento.
Procurado por O GLOBO, o INSS não retornou até a publicação da reportagem. Pereira continua desempregado.
Valedoitaúnas (O Globo)