Desinformação e filas: Veja como foi o primeiro dia de pagamentos do Auxílio Brasil
18 de novembro de 2021Chefes de família reclamam de cartões do Bolsa Família que foram bloqueados e sofrem para esclarecer dúvidas nos postos
Espera: Em Bonsucesso, no Rio, pessoas formam longa fila para tentar garantir acesso ao novo programa de distribuição de renda do governo, o Auxílio Brasil – Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
O primeiro dia de pagamento do Auxílio Brasil, que substituiu o extinto Bolsa Família, foi marcado por filas – como as observadas nos últimos dias em todo país – e muita desinformação. Em Bonsucesso, na Zona Norte do Rio, Eliane Cristina da Silva, de 32 anos, moradora de Inhaúma, aguardava há mais de três horas para entrar na agência da Caixa para tentar descobrir quanto vai receber do novo programa.
“O aplicativo não funciona, no Caixa Tem não é possível ver saldo e ninguém sabe informar nada. Peguei uma senha e estou aqui esperando para entrar na agência”, explica Eliane, que é mãe de três filhos menores e é beneficiária do Bolsa Família.
“Recebia R$ 300 de Bolsa Família e tenho três crianças cadastradas, mas não sei quanto vou receber. Tentei na lotérica mas meu cartão (do Bolsa Família) está bloqueado”, reclama a mãe, que paga aluguel e tinha expectativa de receber os R$ 400 prometidos pelo governo Bolsonaro.
Mãe de seis filhos, Gizelia de Oliveira Sebastião, de 40 anos, aguarda desde setembro do ano passado o resultado da averiguação que suspendeu o pagamento do seu auxílio emergencial – Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo
Esse valor, no entanto, está atrelado à aprovação da PEC dos Precatórios no Congresso. Ou seja, não há fonte de custeio para os R$ 400 prometidos. O cartão do Bolsa Família bloqueado foi o que levou Andreia Júlia da Silva Neves, de 51 anos, moradora de Guadalupe, na Zona Norte, à agência da Caixa de Rocha Miranda.
“Estou aqui desde as 7h da manhã para tentar sacar meu dinheiro, tenho o cartão do Bolsa Família, mas ele está bloqueado e o aplicativo da Caixa não funciona”, lamenta Andreia, acrescentando. “Toda vez é isso, é sempre esse descaso com o povo, as pessoas estão desmaiando na fila por causa do calor. Já são 11h30m e eu continuo aqui na fila”.
No limite
Sem saber se teria direito ao Auxílio Brasil, Maria da Penha Domingues, de 78 anos, moradora de Costa Barros, também na Zona Norte, era mais uma das pessoas na fila em Rocha Miranda. De posse de um cartão Família Carioca, ela buscava informações sobre como fazer para ter direito à renda mínima do governo federal.
Analfabeta, Maria explicou seu drama: ela vive na comunidade em Costa Barros e não recebe ajuda alguma do governo federal, nem mesmo o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e deficientes mesmo que não tenham contribuído com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), desde que comprovem baixa renda.
“Nunca recebi Bolsa Família e sobrevivo catando latinhas, mas tem tanta gente pegando lata na rua que tem vezes que não consigo nada. Na pracinha da comunidade distribuem quentinha às vezes, tem dias que consigo pegar, mas outros não. Uma vez levei para casa e tentei dividir para comer dois dias, mas a comida acabou estragando porque não tenho geladeira” conta.
Vanessa Nunes da Silva, de 39 anos e moradora de Rocha Miranda, se abrigava do sol com uma sombrinha colorida. Além de não saber quanto receberia de Auxílio Brasil, Vanessa, que é mãe de quatro filhos, teve problemas com o recebimento do Auxílio Emergencial.
Sem cartão novo
Procurada, a Caixa Econômica Federal informou que não foram constatadas instabilidades no aplicativo e que não será emitido novo cartão para saque do Auxílio Brasil. Portanto, o antigo plástico do Bolsa Família continua valendo. “O app está funcionando bem e os cartões do Bolsa Família não foram invalidados” informou a Caixa.
Cartão do Bolsa Família funciona para sacar o Auxílio Brasil – Foto: Divulgação
Somente vão receber o Auxílio Brasil os 14,6 milhões de pessoas que eram atendidos pelo extinto Bolsa Família, segundo o Ministério da Cidadania. Informações iniciais do governo indicavam que esse número chegaria a 17 milhões já em dezembro, mas essa previsão não foi confirmada.
Ou seja, os 2,4 milhões de pessoas que seriam incluídos no Auxílio Brasil, inclusive os que já estavam esperando na fila do Bolsa Família, terão de aguardar mais.
Para receber o Auxílio Brasil e demais programas sociais do governo federal é necessário fazer inscrição no Cadastro Único (CadÚnico), porta de entrada desses programas. A procura pelo CadÚnico tem feito, inclusive, as pessoas dormirem nas portas dos Centros de Referência e Assistência Social (CRAS) espalhados pelo país.
O Ministério da Cidadania, gestor desses programas, afirmou que “a inscrição no Cadastro Único não resulta na imediata concessão dos benefícios do Auxílio Brasil”. De acordo com a pasta, “serão priorizadas famílias a partir de critérios baseados num conjunto de indicadores sociais capazes de estabelecer com mais precisão as situações de vulnerabilidade social e econômica”.
Valedoitaúnas (O Globo)